A televisão tem o poder de popularizar e jogar um canhão de luz em diversas histórias. Há décadas trabalhando com audiovisual, o diretor Jayme Monjardim e o autor Mario Teixeira dominam as estratégias para ampliar o alcance de enredos e personagens entre o grande público.
Não à toa, eles toparam a missão de capitanear a minissérie “Passaporte Para Liberdade”, da Globo, que estreia nesta segunda, dia 20.
A produção, que integra a programação especial de fim de ano, mergulha na pouco conhecida trajetória de Aracy de Carvalho, brasileira que fez a diferença para muitos judeus durante a Segunda Guerra Mundial.
Por suas ações, ela ganhou o título de “Justos Entre as Nações”, instituído pelo Memorial do Holocausto, em Israel, como reconhecimento aos não-judeus que protegeram vidas durante a guerra.
“Foi um prazer e um privilégio escrever essa série. Tive a ajuda da roteirista inglesa Rachel Anthony para contar a história dessa mulher tão importante. Ela, que era conhecida como a viúva do Guimarães Rosa, passa a ter uma voz. Os atos dela transcenderam o trabalho de funcionária e se transformaram em uma saga humanitária. Espero que, a partir de hoje, Aracy passe a ser conhecida pelo seu próprio nome”, valoriza Mario.
Em 1935, a brasileira, divorciada de seu primeiro marido e com um filho pequeno, Eduardo, vai para a Alemanha em busca de trabalho e não tarda em conseguir um cargo no consulado brasileiro em Hamburgo, no setor de passaportes.
Sem qualquer proteção ou mesmo imunidade diplomática, ela contornava regras, enfrentando os governos alemão e brasileiro, para conseguir emitir vistos e ajudar judeus a emigrarem e sobreviverem nas Américas.
“Essa jornada da Aracy é muito poderosa. Acho que essa série é um convite à ação. A gente pode ter um discurso lindo e não fazer nada, ou ser absolutamente reservado e transformar a vida das pessoas – que foi o caso da Aracy. Espero que as pessoas despertem para esse olhar de empatia, de estender a mão. Abrir o coração para escutar e receber o outro”, defende Sophie Charlotte, que interpreta a protagonista da minissérie de oito capítulos.
A série também destaca a relação amorosa de Aracy com o escritor João Guimarães Rosa, à época cônsul-adjunto do Brasil em Hamburgo, na Alemanha, interpretado por Rodrigo Lombardi.
“O João Guimarães Rosa que conheceu essa guerreira era ‘só um cara’. Ele, apaixonado por tudo que era apaixonado, volta ao Brasil e se torna um dos maiores autores de todos os tempos. É impossível acreditar que ele tenha escrito tudo o que escreveu sem se lembrar do que viveu na Segunda Guerra. É de uma riqueza tamanha essa história”, explica Lombardi.
Na trama, além de Guimarães Rosa, Aracy também desperta a atenção Thomas Zumkle, capitão das tropas de Hitler, vivido pelo ator alemão Peter Ketnath. O nazista se apaixona por Aracy e, possessivo, faz de tudo para tirar João de cena e conquistar a brasileira.
“Eu quis desenhá-lo como ser humano, e não como um ‘malvado’. Ele se apaixona, tenta sobreviver e vive uma situação difícil até mesmo para ele. Eu, pessoalmente, curto muito atuar em outros idiomas”, afirma Ketnath, que é fluente em inglês e português.
O elenco da minissérie é marcado pela diversidade de nacionalidades em seu “casting”.
A obra, que é a primeira produção da Globo em parceria com a Sony Pictures Television, foi gravada inteiramente em inglês e irá ao ar dublada na tevê aberta. Além de Sophie Charlotte e Rodrigo Lombardi, o elenco também conta com Tarcísio Filho, Gabriela Petry, o britânico Tomas Sinclair Spencer, o italiano Jacopo Garfagnoli, a polonesa Izabela Gwizdak, a israelense Sivan Mast e o americano Brian Townes.
“Não foi um trabalho fácil. Tivemos vários desafios. Começamos na Argentina, em Buenos Aires, viemos para o Rio de Janeiro, nos Estúdios Globo, tivemos de parar por um ano e trabalhamos mais um ano (para finalizar as filmagens)”, explica o diretor, que recorreu à tecnologia para driblar os percalços da pandemia.
“A gente não imaginava, por exemplo, conseguir fazer a destruição da Noite dos Cristais com 12 pessoas. Temos que agradecer à tecnologia, pois conseguimos resolver muita coisa com a computação gráfica. Foi difícil, mas me sinto muito feliz com o resultado”, completa.
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