A Prefeitura Cuê e a Padaria Cuê, edificações que datam da década de 1920 localizadas em Porto Murtinho, a 440 quilômetros de Campo Grande, na fronteira com o Paraguai, foram tombadas como bens do patrimônio histórico material de Mato Grosso do Sul, conforme decretos publicados na edição do dia 7 de agosto do Diário Oficial do Estado.
A Padaria Cuê é uma construção que exibe elementos da arquitetura industrial trazida da Europa e da América do Norte para o Brasil, com fachada em tijolo cerâmico queimado, característica da Revolução Industrial (1760-1840) retomada no século 20.
Erguida pelos construtores espanhóis Canellas e Abelardo, sob o comando do comerciante uruguaio Jaime Aníbal Barrera, a edificação funcionava como padaria no térreo e abrigava um moinho de trigo.
Localizada na Rua Dr. Costa Marques, número 1.089, esquina com a Rua Antônio João, a construção foi concluída em 1928. Em 1954, a padaria foi adquirida pela Cooperativa Florestal S. A. e, em 1978, entregue ao estado de Mato Grosso como forma de pagamento de dívidas da cooperativa. Desde 2004, passou para a responsabilidade da prefeitura municipal de Porto Murtinho, abrigando o Museu Dom Jaime Aníbal Barrera.
A Prefeitura Cuê (Edifício Jorge Abrão), construída entre 1920 e 1922 pelo uruguaio José Grosso Ledesma para sediar a administração municipal, apresenta influências neoclássicas e traços do estilo colonial brasileiro.
Localizada na Rua Pedro Celestino, de frente para o Rio Paraguai, o edifício teve entre as suas atribuições supervisionar o movimento fiscal do porto. Sua arquitetura simboliza o poder econômico e cultural de Porto Murtinho.
Após uma revitalização, o prédio voltou a abrigar a prefeitura municipal em 2005. Na década de 1980, quase foi destruído, por conta das obras do dique que circunda a cidade. A edificação é isolada em dois pavimentos, com uma estrutura simétrica de sua planta em U, fundação e alvenaria estrutural de tijolo maciço e concreto revestidos de argamassa, aberturas com quadros e vedos de madeira, telhas de barro e piso de madeira.
MATE E ROTA
O secretário de Estado de Turismo, Esporte e Cultura, Marcelo Miranda, enfatiza que o tombamento é um marco significativo para Porto Murtinho e para Mato Grosso do Sul:
“Ao preservarmos essas edificações, estamos mantendo viva a memória histórica do ciclo da erva-mate e também reforçamos a identidade cultural da região. A integração com a Rota Bioceânica representa uma oportunidade única de unir nosso passado com o futuro econômico, criando um legado duradouro para as próximas gerações”.
A gerente de Patrimônio Histórico e Cultural da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul (FCMS), Melly Sena, destaca a relevância do tombamento.
“Tanto a Prefeitura quanto a Padaria Cuê representam um momento importante da nossa história relacionado ao ciclo da erva-mate, um período fundante do nosso estado, que na época era Mato Grosso uno. Com esses dois prédios tombados, preservamos a memória fundante do nosso estado”, afirma.
“Esses processos estavam parados há duas décadas, e conseguimos resolvê-los. Isso é particularmente importante agora, com a instalação da Rota Bioceânica, cujo percurso inicial passa por Porto Murtinho, evidenciando a importância da cidade, tanto pela questão histórica do ciclo da erva-mate, dos primeiros portos para o escoamento da erva, quanto pela futura ligação econômica, unindo história e economia”, diz Melly Sena.
Para o diretor-presidente da FCMS, Eduardo Mendes, o tombamento vai além da preservação histórica e cultural.
“O tombamento da Prefeitura Cuê e da Padaria Cuê serve como um incentivo ao turismo cultural na região. Esses prédios são testemunhos vivos da nossa herança e têm o potencial de atrair visitantes que desejam conhecer mais sobre a história e a cultura de Mato Grosso do Sul. Valorizando nosso patrimônio, estamos também promovendo o desenvolvimento econômico e social da região”, reforça Mendes.

Estener Ananias de Carvalho e Renata dos Santos Araújo de Carvalho
Anderson Varejão, Luiz Fruet e Aylton Tesch


