Ela, que é quase uma unanimidade, teve início na semana passada, mais precisamente no dia 22 de setembro – a primavera. Estação que faz renascer e reflorescer as paisagens do Cerrado, sobretudo as florais, e gesta frutos dos mais doces do ano. Nos centros urbanos, eleva a temperatura e dá ar de graça às copas das árvores das ruas e praças; e, mesmo entre prédios e carros, é impossível não notar sua chegada. O apelo da estação ao colorido e ao florescimento nas cidades é inspiração para as pessoas. A cada ano, um novo motivo emprestado da primavera é destaque na moda, nas artes plásticas, na fotografia, nos casamentos e na literatura.
Ela inspirou e inspira, por exemplo, as psicólogas e amigas Lúcia Lemes e Bibiana Vargas, que abriram neste ano uma loja, em Campo Grande, para vender camisas e quimonos totalmente inspirados na alegria e no clima primaveris. As flores e os personagens são os principais temas das estampas das peças, que são unissex e vestem de crianças a adultos. A exclusividade das roupas é a marca da empresa. Elas são produzidas a partir de criações de ilustradores e artistas plásticos.
O tecido utilizado é leve e também confortável, ideal para o clima da primavera – além disso, não amassa. O tema floral é o mais presente nas roupas e, às vezes, vem associado a personagens como sereias e animais. A originalidade e a alegria dão o realce. Segundo Bibiana, o lançamento da primeira coleção aconteceu em agosto.
Ela adianta que a próxima coleção será lançada no mês que vem e trará novamente os temas da primavera. “As estampas florais e os temas da natureza continuarão presentes na coleção, e pretendemos, ainda, homenagear artistas regionais com estampas alegres também”, afirma.
NA NATUREZA
Para os noivos que optam por realizar cerimônia de casamento durante o dia, ao ar livre, a primavera também é uma estação favorável e inspiradora. O clima mais ameno em relação ao verão e inverno e o aproveitamento das paisagens de chácaras e estâncias como plano de fundo para o evento são atrativos para os casais.
A empresária Cristiane Neto trabalha há 10 anos no ramo e atende casais em todo o Estado. É proprietária da Flor de Noiva e aceita encomendas de buquês, cintos de flores para vestidos, coroas de flores, flor de lapela e outros acessórios, todos em tecido, que podem ser utilizados nas cerimônias e na festas.
É claro, as flores decoram casamentos o ano todo, mas Cristina, pela experiência, sabe que nos meses em que a primavera permanece as flores habituais ganham características especiais. Ela conta que, nesse período, as noivas preferem o buquê com flores maiores e mais coloridas, gostam de orquídeas e arriscam combinar tons como azul e roxo, além de procurarem por uma composição mais assimétrica.
As produções variam conforme a inspiração dos casais e da equipe que vai cuidar do casamento. Apesar de a época ser de florada, a empresária descarta os arranjos naturais e produz os acessórios em tecido, para eternizá-los. “Principalmente o buquê, que as noivas costumam guardar depois e até emoldurar. As flores reais da primavera são a inspiração, levo até mais de uma semana para confeccionar e tento ser fiel aos detalhes”, explica.
Nesta estação, impossível não notar o florescimento de ipês. Eles geralmente ganham cores de junho a setembro. Na Capital, estão espalhados diferentes gêneros da espécie, e, em setembro, é comum se deparar com os que florescem em tons claros de rosa. Não é raro encontrar alguém parado na calçada, fotografando-os.
Inspirado na beleza da espécie, o fotógrafo André Patroni está fazendo mais do que isso: está fotografando e mapeando essas árvores em Campo Grande. Ele começou a fotografar em junho e, até o momento, fez o total de 65 registros. O trabalho, batizado de Rota dos Ipês, continua neste mês e só termina quando eles voltarem a ser árvores secas.
A ideia do fotógrafo é vincular ao mapa da cidade a imagem e a localização exata dos ipês, bem como as informações sobre dia e horário em que a fotografia foi tirada. Ele começou o projeto no começo deste ano, com a intenção de facilitar o acesso ao local em que as árvores estão plantadas, e, aos poucos, percebeu que a iniciativa possuía outras funções e significados.
Para André, o trabalho também serve para retratar o tempo da natureza e a mudança de estações no meio urbano. “A natureza é condicionada pelo tempo, cada cor da flor de ipê aparece em uma diferente época do ano, é como se a natureza desse o seguinte recado em meio a isso tudo: cada coisa tem seu tempo”. A ideia de André já inspirou outras pessoas.
Uma artista entrou recentemente em contato com ele e pediu autorização para pintar um quadro a partir de uma das fotos do mapeamento, e o fotógrafo topou. No ano que vem, André pretende realizar uma exposição com o material reunido.
CRIAÇÃO
Os ipês e as flores da primavera também são referências do artista plástico Apres Gomes, que é baiano, mas se considera um verdadeiro campo-grandense. Ele já pintou diversos quadros com esses temas e, no próximo mês, alguns deles vão fazer parte de um leilão virtual.
Para Apres, as árvores floridas desta época do ano são “condensadoras da paisagem urbana” e despertam nas pessoas sensações que só a natureza proporciona. Em seu trabalho, costuma explorar as cores quentes, os detalhes das flores e das copas das árvores e outros elementos da natureza.
E no campo da palavra não poderia faltar referência à primavera. Na literatura, a obra do escritor regional Geraldo Ramón Pereira é repleta de particularidades dessa estação do ano.
Um exemplo é o romance “O Caroço da Manga”, publicado em 2012, que já no título faz referência a um fruto da primavera e do verão. Ele narra a história de um estudante de Medicina que se apaixona por uma professora, e o enredo se passa nas paisagens de São Paulo e Minas Gerais.
A obra é quase autobiográfica, segundo o autor. Geraldo é também poeta e a flor aparece como objeto de contemplação nos versos. Ele se desculpa pela insistência em sempre compará-la à mulher, mas não consegue evitar a repetição.
“Para mim, a mulher é a humanização da flor. Essa comparação é comum, é simples, mas é tão expressiva, a gente não cansa de repetir”.
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