O vento que carrega sonhos e histórias desde o bioma amazônico agora sopra forte no Cerrado do Centro-Oeste. Depois de passar por Belém e Manaus, o projeto Escambo: Rede Parente aportou em Campo Grande no fim de semana, tendo o grupo Fulano di Tal como anfitrião, para uma maratona teatral de encher os olhos de quem curte a arte da representação, mas também para os interessados em apenas conferir um espetáculo teatral de qualidade.
Toda a programação, envolvendo apresentações, oficinas e mesas públicas, é gratuita, sempre aos sábados e domingos, até o dia 25. A agenda começou com duas sessões de “A Fabulosa História do Guri-Árvore”, montagem que é o carro-chefe do repertório do Fulano di Tal, nos dias 3 e 4, no espaço da trupe campo-grandense, localizado na Rua Rui Barbosa, nº 3.099. Trazendo no cerne “o solo fértil da poesia de Manoel de Barros”, como afirma Marcelo Leite, diretor do grupo, a peça foi selecionada este ano para a 27ª edição do Palco Giratório, do Sesc.
Neste fim de semana, no sábado e no domingo, será a vez de “Com os Bolsos Cheios de Pão”, da Cia Cisco (São Paulo/SP), na Estação Cultural Teatro do Mundo. Nos dias 17 e 18, a dupla Francisco Rider e Ly Scantbelruy, de Manaus (AM), apresenta “HUMA/”. E, encerrando a temporada, nos dias 24 e 25, o público poderá conferir “MOMO – Um Ato Poético para Testemunhas”, do Grupo Usina, de Belém do Pará.
MAPA AFETIVO
De março a junho, o projeto “desenha, entre rios e asfaltos, um mapa afetivo do Brasil”, como seus criadores gostam de dizer, promovendo trocas artísticas entre grupos do Norte, do Centro-Oeste e do Sudeste. Ao todo, 53 ações serão realizadas em Belém, Manaus, Campo Grande e São Paulo. Escambo: Rede Parente é uma realização da Cia Cisco (SP), idealizada por Edgar Castro e Donizeti Mazonas, com financiamento da Fundação Nacional de Artes (Funarte), via Bolsa Myriam Muniz de Teatro.
“Somando as estradas percorridas pelos grupos, já ultrapassamos 10 mil quilômetros, entre São Paulo, Belém, Manaus e Mato Grosso do Sul. Mas são as distâncias simbólicas que mais me tocam, essas, creio, são infinitas”, afirma Edgar Castro. “Até agora, realizamos 24 atividades em Belém e Manaus e já ultrapassamos mil pessoas de público. Mas sei que o impacto é muito maior: é o que ecoa depois, nos ensaios, nas salas de aula. Nosso alcance vai além do que a matemática fria pode medir”, diz o encenador.
COINCIDÊNCIA FELIZ
“O Edgar nos encontrou por meio do Festival América do Sul. Coincidência feliz que virou convite, sonho e, agora, realidade”, lembra Marcelo Leite, do Fulano di Tal. “Ficamos encantados com o projeto desde o início. Circular com o ‘Guri-Árvore’ pelo Brasil era um desejo antigo. E receber esses grupos incríveis, aqui, é um presente”, celebra o diretor.
Quanto à escolha do espetáculo, Marcelo é direto. “‘O Guri-Árvore’ traz a nossa identidade, livremente inspirado em Manoel de Barros, mas também homenageando Conceição dos Bugres, Lídia Baís, Wega Nery e Maria da Glória Sá Rosa. Era natural levar as histórias do nosso quintal e nossa essência a outros cantos do País”, afirma.
MOMO
Entre as vozes que chegam, está também a do Grupo Usina (Belém/PA), com “MOMO – Um Ato Poético para Testemunhas”. Solo protagonizado por Alberto Silva Neto, o espetáculo traz cartas trocadas entre o pai e o avô do artista, destilando um misto de ancestralidade masculina e conflitos geracionais, entre choro e cura.
“Um aspecto importante é que ‘MOMO’ é uma criação do Norte do Brasil, de um teatro amazônico que não se encaixa no exótico. Cria-se a possibilidade de contato com uma obra que sai do enquadramento regionalista”, diz Alberto. “Estou com uma expectativa enorme de ver como a diversidade estética dos quatro coletivos será recebida em Campo Grande”, revela o artista.
“HUMA/”
De Manaus (AM), chega o premiado “HUMA/”, de Francisco Rider e Ly Scantbelruy. Preparadora de elenco da montagem, Koia Refkalefsky compartilha nuances da obra e destaca a emoção de integrar o projeto. “O nome do espetáculo vem de humanidade. A personagem enfrenta dilemas da existência, resistência e minorias. E estar em um novo lugar nos enche de responsabilidade, especialmente após receber, de Campo Grande, o presente que é a montagem do ‘Guri-Árvore’”, afirma Koia.
PERTENCIMENTO
Assim, entre encontros e travessias, o projeto procura fazer jus ao seu nome, Escambo, que significa qualquer troca direta de qualquer coisa ou serviço sem envolver dinheiro, “tecendo laços, misturando vozes e expandindo o sentido de pertencimento em tempos de distâncias físicas e simbólicas”, frisa Edgar Castro.
Além do financiamento da Funarte, que é ligada ao Ministério da Cultura (Minc), o projeto Escambo: Rede Parente conta com o apoio da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul (FCMS) e da Estação Cultural Teatro do Mundo. Interessados em acompanhar o projeto ou obter informações sobre oficinas e mesas públicas devem acessar o Instagram @projetoescamboredeparente. As vagas são gratuitas e limitadas e podem ser garantidas pelo formulário on-line, que está disponível por meio de um link no perfil do projeto.
PROJETO ESCAMBRO: REDE PARENTE
PROGRAMAÇÃO
Cia Cisco – São Paulo (SP)
Estação Cultural Teatro do Mundo, Rua Barão de Melgaço, nº 177, Centro.
Espetáculo: “Com os Bolsos Cheios de Pão”, no sábado e no domingo, às 20h.
Oficina: A escuta do corpo, domingo, das 9h às 13h.
Mesa pública: O Trabalho do Intérprete Teatral como Ofício, domingo, das 17h às 19h.
Francisco Rider e Ly Scantbelruy – Manaus (AM)
Espetáculo: “HUMA/”.
Ponto de encontro: Estação Cultural Teatro do Mundo,
Rua Barão de Melgaço, nº 177, Centro, nos dias 17 e 18 (sábado e domingo), às 16h.
Mesa pública: Corpocidade/Dinâmicas em Via Dupla (após a apresentação).
Estação Cultural Teatro do Mundo, no dia 17 (sábado), às 17h.
Oficina: Corpo Cidade. Performance: “Como a Pessoa-Cidadã se Relaciona com sua Cidade?”.
Espaço Fulano Di Tal, no dia 18 (domingo), das 9h às 12h.
Grupo Usina – Belém do Pará (PA)
Espaço Fulano di Tal.
Espetáculo: “MOMO”, nos dias 24 e 25 (sábado e domingo), às 20h.
Oficina: A Carne da Palavra.
Espaço Fulano di Tal, no dia 24 (sábado), das 9h às 12h.
Mesa pública: Pachiculimba, uma Encenação Contra-Hegemônica.
Espaço Fulano di Tal, no dia 25 (domingo), das 10h às 12h.



Chayene Marques Georges Amaral e Luiz Renê Gonçalves Amaral
Camila Fremder
Equipe do curta-metragem posa em um boteco da cidade com a diretora Gleycielli Nonato Guató (em pé, à esquerda, de blusa preta) - Foto: Divulgação/Marcus Teles


