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CINEMA

Que tal um filme francês? Temos quatro boas dicas para você assistir, confira

Pelo menos 4 dos 20 filmes de longa-metragem exibidos na 14ª edição do Festival Varilux de Cinema Francês, em novembro e dezembro do ano passado, exploram diferentes aspectos e matizes das relações familiares

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A família reaparece como um emblema permeado de situações-limite que, em maior ou menor grau, vão precisar ser superados ou reinventados se os personagens em jogo quiserem garantir a sua afirmação pessoal perante os próprios desejos e planos e, mais ainda, perante toda a sorte de compromissos, convenções e tabus que marcam as relações familiares.

Assim pode ser resumido o desafio a que se lançam os personagens de cada trama em pelo menos quatro das duas dezenas de produções inéditas apresentadas no País durante a 14ª edição do Festival Varilux de Cinema Francês. De novembro a dezembro do ano passado, o festival ocupou mais de 100 salas de exibição em 60 cidades brasileiras, inclusive em Campo Grande.

Além das sessões no Cinemark (Shopping Campo Grande), de 9 a 22/11, que foi o período oficial das exibições anunciado inicialmente, a produção local do Varilux realizou algumas projeções, em salas alternativas da Capital, que se estenderam até o mês o seguinte, a exemplo da Sala Glauce Rocha, na Estação Cultural Teatro do Mundo, e do Auditório Marçal de Souza Tupã-Y, no campus da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS).

Incesto (ou quase isso), superproteção, a descoberta do amor e a chance de reconciliação atravessam, respectivamente, os enredos de “Culpa e Desejo” (2023), de Catherine Breillat; “O Livro da Discórdia” (2023), de Baya Kasmi; “O Desafio de Marguerite”, de Anne Novion; e “Maestro(s)” (2022), de Bruno Chiche. Acompanhe, a seguir, uma breve análise de cada um dos filmes.

“CULPA E DESEJO”

O que fazer quando você percebe que se sente atraída pelo filho adolescente de seu atual marido? E o que fazer, depois de ter cedido à tentação, ao precisar lidar com a culpa que se instaura na cabeça do enteado? 
A advogada Anne (Léa Drucker) decide enfrentar o medo que toma conta de Théo (Samuel Kircher) e todo o risco da situação que se segue quando o rapaz joga toda a verdade no ventilador, move uma ação na Justiça contra a madrasta e, sim, conta ao pai sobre o envolvimento.

Anne é uma renomada especialista em abuso contra menores e treme na base só de pensar na destruição da carreira profissional e no desmoronamento da sua relação com Pierre, o marido interpretado por Olivier Rabourdin, com quem cria as duas filhas adotivas do casal.

Porém, o que era para ser apenas uma aventura sem maiores consequências se torna um problemão daqueles. Mesmo depois do disse me disse suscitado pela exposição pública do affair, a coisa continua a rolar, ainda que sob o manto da noite e da credibilidade de Anne.

Mesmo que precariamente, ela mantém o controle da situação, já que Pierre parece aceitar a versão da parceira, segundo a qual o “monstro” é o garoto, por ele supostamente estar mentindo. Fosse somente pelo choque de versões e pelo fetiche sexual no centro do novelo, “Culpa e Desejo” (“L’Été 
Dernier”) seria mais um entre tantos filmes a tratar do tema.

O ponto de vista assumido pela diretora, no entanto, salva seu longa da platitude. E os atores dão conta com folga de seus papéis. É o adolescente quem procura a mulher do pai para insistir no repeteco. Mas Anne aceita e retribui com desejo, mesmo ante a batalha pública que trava com Théo.

As imagens dão conta – sem pudor e sem culpa – do avanço de sinal do casal improvável e, sob a condução segura e despojada da diretora Catherine Breillat, materializam, em certa medida, a suspensão de julgamento que define os passos e abraços dentro de um universo em que o desejo dita as regras. Caminho que a realizadora trilha desde os anos 1960, a tematizar o tesão e a liberdade. Uma canção da banda Sonic Youth (“Dirty Boots”) reforça esse grito no filme.

“O LIVRO DA DISCÓRDIA”

Também assinado por uma diretora, “O Livro da Discórdia” (“Youssef Salem a du 
Succès”), de Baya Kasmi, centra foco em no quarentão Youssef Salem (Ramzy Bedia), um descendente de imigrantes da Argélia que vive em Paris longe da família estabelecida em Marselha e labuta para acontecer como escritor.

O sucesso só vem quando ele escreve um romance com passagens autobiográficas, em que recobra momentos da juventude e, uma vez mais, tabus sexuais relacionados ao ambiente familiar e à cultura islâmica. Com a fama, vêm os perrengues com os parentes. Sua mãe e seu pai reprovam o livro e vivem pressionando o filho pela publicação de uma obra dedicada aos heróis da história argelina.

Até a redenção chegar, o longa-metragem vai expor – com graça, mas nem por isso sem assertividade – curiosos contrastes que pontuam as diferenças culturais (e olha que não faltam desvãos em relação à cultura árabe no território francês) e também uma divertida resenha em torno do showbiz do mercado editorial na terra de Balzac.

As piadas sobre esse último aspecto que o roteiro de Baya Kasmi, escrito em parceria com Michel Leclerc e Olivier Adam, alinhava deixam a comédia de costumes da diretora ainda mais leve. Ela começou a carreira escrevendo para televisão, já na parceria com Leclerc, seu marido.

Talvez venha daí seu timing para algumas tiradas: a disputa e a inveja veladas nutridas a base de falsidade e sorrisos amarelos por duas editoras concorrentes; o fingimento de quem não leu e posa de fã para ficar bem na fita; a agente literária tarada; e por aí vai.

O maior trunfo de “O Livro da Discórdia”, porém, talvez seja o ator Ramzy Bedia, que vive o autor errático da trama. Ele está hilário, por exemplo, durante a confusão gerada quando decide trocar de personalidade com uma celebridade instantânea produzida pela mídia.

“O DESAFIO DE MARGUERITE”

A matemática existe para revelar a verdade. A frase é dita por um dos personagens do longa “O Desafio de Marguerite” (“Le Théorème de Marguerite”). 

A aspiração ao estado de pureza cristalina que, para lograr êxito na realidade, precisa de comprovações de fatos concretos para se materializar enquanto tal, na ciência dos números requer o estabelecimento e a resolução de equações quilométricas, por vezes intransponíveis mesmo para experimentados matemáticos.

Um desses enigmas, que perdura desde o século 18, é a conjectura de Goldbach, assim chamada em decorrência do matemático da Prússia que a propôs, Christian Goldbach. Trata-se de um imbróglio amparado por uma teoria que, grosso modo, diz o seguinte: todo número par acima de 2 pode ser representado pela soma de dois números primos.

Aí está – ou estaria – o desafio da Marguerite do título. Estaria porque, após um fracasso em público, justamente ao tentar descortinar o mistério, a personagem vivida pela atriz Ella Rumpf busca outra superação. 

E é nesse desvio, na guinada para fora do mundo da tabuada, que se revelam a surpresa e o encanto do filme de Anne Novion.

Os números até continuam formigando na tela. Mas é de reinvenção pessoal que se passa a falar. E, a partir disso, de misoginia e carreirismo, ligação entre mãe e filha, abandono paterno, autoconfiança e, sobretudo, da descoberta de um amor que nos possa adoçar a vida. Aliás, como já disse um samba: “A vida não é uma equação, não tem que ser resolvida”.

“MAESTRO(S)”

Talvez o mais irregular dos quatro filmes aqui em resenha, “Maestro(s)”, de Bruno Chiche, tem lá a sua beleza. Mas a impressão que fica, ao fim, é que o diretor percorre os 90 e poucos minutos da trama para franquear ao espectador a derradeira cena.

Assim, por mais lírico e confessional que possa soar o movimento de Denis Dumar (Yvan Attal), o modo como seus dramas paralelos vão tecendo o enredo acaba dando uma certa canseira que o epitáfio do longa apenas confirma.

Profissionalmente, ele é um regente de orquestra premiado rumo à consagração, mas que, em sua vida pessoal, debulha na seguinte rotina: distanciamento com o filho Mathieu (Nils Othenin-Girard), a reproduzir, quem sabe, a rejeição que recebeu do próprio pai; o namoro burocraticamente tórrido com Virginie (Caroline Anglade), a violinista bonita sem talento de quem Denis quer fazer spalla; e a relação com uma dócil e compreensiva ex-esposa, Jeanne (Pascale Arbillot), que permanece cuidando de sua carreira.

A ideia do filme é valorizar a relação entre pai e filho, triangulada com a presença do avô (e consequentemente do neto). Ok, mas o problema é não avançar com envolvimento nesse plot. O longa vale pela dupla que interpreta François (Pierre Arditi) e Hélène Dumar (Miou-Miou), pai e mãe do gatão de meia-idade regressivo vivido por Attal. E só. Chiche poderia ter apurado melhor a batuta. Deu vontade de assistir “Nota de Rodapé” (2011), de Joseph Cedar, que inspirou o diretor.

Diálogo

Tremenda de uma "cascata" a informação apregoada pelo governo de Lula que... Leia na coluna de hoje

Leia a coluna desta terça-feira (23)

23/12/2025 00h01

Diálogo

Diálogo Foto: Arquivo / Correio do Estado

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Cecília Meireles - escritora brasileira

Liberdade é uma palavra que o sonho humano alimenta, não há ninguém que explique e ninguém que não entenda”

Felpuda

Tremenda de uma “cascata” a informação apregoada pelo governo de Lula que ele ressarciu os aposentados, vítimas da roubalheira de esquema que envolve pessoas ligadas ao INSS, empresas privadas, ONGs, laranjas e políticos. Na realidade, essa conta sobrou para o cidadão, inclusive os próprios aposentados que pagam Imposto de Renda. Nenhum dos bandidos até agora restituiu aos cofres públicos o dinheiro que roubou. Aliás, a maioria está sendo blindada de forma vergonhosa. Há quem diga até que buscam “freio” para que a CPMI do INSS comece a patinar e não avance. Lamentável!

Pra cabeça

Quem entrará em 2026 com problemas no Conselho de Ética da Câmara é a deputada federal Camila Jara, do PT. O Partido Novo protocolou representação contra ela.

Mais

A acusação é de violação do decoro, ao se envolver na confusão originada quando da retirada à força de Glauber Braga, do Psol, e de ofensa ao secretário-geral da Mesa Diretora.

Diálogo

O vorí-vorí, tradicional prato paraguaio, foi eleito o melhor do mundo na lista anual do Taste Atlas, plataforma internacional que reúne avaliações gastronômicas de todas as partes do planeta. A iguaria recebeu nota 4,64 de 5, com base em votos de usuários reais que experimentaram o prato. Conhecido também como borí-borí, o vorí-vorí é descrito pelo portal como “a icônica sopa de galinha paraguaia com bolinhos de fubá recheados com queijo”. Rico em sabor, textura e história, o prato ocupa um lugar especial na mesa das famílias paraguaias e agora também no cenário global da gastronomia. Nos últimos anos, o vorí-vorí já havia figurado entre as melhores sopas do mundo em rankings do mesmo portal, reforçando sua reputação. A lista do Taste Atlas se tornou referência global por utilizar um sistema que identifica e descarta avaliações nacionalistas ou feitas por robôs, garantindo legitimidade às escolhas.

DiálogoChayene Marques Georges Amaral e Luiz Renê Gonçalves Amaral

 

DiálogoCamila Fremder

Prova de fogo

O atual time que forma o entorno do governador Eduardo Riedel terá, no próximo ano, prova de fogo, porque a missão deverá ser reeleger o “chefe” para o segundo mandato. Será o momento de a tchurminha provar quem é quem na estrutura. Quando foi eleito em 2022, Riedel nunca havia disputado uma eleição, porém, tinha um grupo político forte que sabia “o caminho das pedras”, o que foi fundamental para sua vitória. Em 2026, ele não poderá contar com esse pessoal.

Nem tanto

O PT em Mato Grosso do Sul já não estaria demonstrando, digamos, tanto amor pela candidatura de Simone Tebet (MDB) ao Senado pelo Estado, achando ser melhor por São Paulo. Lideranças petistas cá dessas bandas dizem que a ministra poderá ser um dos nomes para suceder a Lula. Ela figura entre algumas opções para ocupar o trono petista. A lista tem Alckmin, do PSB, e Haddad, o único do PT. Tudo indica que não se faz mais petista raiz como antigamente...

Entrave

Nos bastidores, o que se fala é que a ministra Simone Tebet, até então considerada excelente opção para disputar o Senado por MS, seria fonte de problemas. Algumas das alas do PT teriam torcido o nariz com a possibilidade de ela disputar pelo partido, até porque esse time lembra de que, quando candidata à Presidência, ela desferiu ataques a Lula. Além disso, há dúvidas se no Estado teria potencial eleitoral para o embate com outros candidatos, em sua maioria da direita, tendo em vista que o governo do qual faz parte, dizem, “está caindo pelas tabelas”

ANIVERSARIANTES

Beatriz Rahe Pereira, 
Dr. Gevair Ferreira Lima Júnior,
Julianne Stranieri Metello, 
Stephan Duailibi Younes, 
Maria Fatima Bueno,
Adhemar Mombrum de Carvalho Neto,
Augusto Costa Canhete,
Rosangela Neves,
Edgar Basmage,
Gileno Almeida Costa Nonato,
Sérgio Aguni,
Rinaldo da Silva Cruz,
Edna Maria Potsch Magalhães,
Dr. Márcio Molinari,
Ivo Batista Benites,
Ronaldo Fernandes Donizeti de Jesus,
Fabiano Borges da Silva,
Maria Aparecida Menezes,
Rafael Medina Araujo,
Rosilene Gois Paes,
Antonio Angelo Garcia dos Santos,
Maria Elisa Hindo Dittmar,  
Beatriz de Almeida,
Dr. Amaury Bittencourt Gonçalves, 
Izabella de Matos Lopes,
Cláudia Regina Di Felice,
Neide machado da Silva Gimenes,
Domingos Puckes,
Silvio Luiz de Moura Leite,
Helder Kohagura,
Maria Clementina Aparício Fernandes,  
Aurino Rodrigues Brasil,
Tânia Ignez Pinheiro,
Marilda Flores Haidar,
Samara Carvalho Gomes Binn,
Josselen Resstel Escórcio,
Valdo Maciel Monteiro,
Luiz Eduardo Yukio Egami,
Rafael Ferreira Ribeiro Lima,
Leila Maria de Albuquerque,
Maria Aparecida de Moura Leite, 
Datis Alves de Souza,
Aurea Leite de Camargo,
Maria de Fátima Vendas Muzzi, 
Thiago Ferraz de Oliveira,
Ruth Lopes Abreu,
Sandra Rodrigues Pereira,
Paulo da Costa Oliveira,  
Paulo César Reis Mendonça,
Fernanda Marques Ferreira,
Terezinha Alves Araújo,
Lucilaine Aparecida Tenorio de Medeiros,
Maria Helena Alves Lima,
Rosana Paes de Matos,
Laura Holsback Alvarenga,
Renato de Freitas Martins,
Miriam Fontoura Prata,
Nelson Maia de Melo,
Cleonice Gomes de Oliveira,
Rodolfo de Morais Dias,
Jussara Leite Barbosa,
Hugo Sabatel Neto,
Carolina Saves,
Solange Xavier Vargas,
Augusto Coelho Freire,
Soraia Kesrouani,  
Rubens Mendes Pereira,
Lilian Gabriela Heideriche Garcia,
Ana Maria Coimbra Santos,
Nelly Vasconcelos Coelho,
Valmir de Andrade Ferreira,
Eliana Miyuki Aratani Kaiya, 
Flávia Ribeiro Ramirez,
Laurinda Paiva Peixoto,
Patrícia de Souza Queiroz,
José Antônio Braga,
Elaine Viana Nunes,
Washington Justino Gonzaga,
Maria Stella Maia Pepino,
Vânia de Toledo Neder,
Osvaldo de Moraes Barros Neto,
Raquel Barbosa Franco,
Suely Ferreira Leal,
João Rafael Sanches Florindo,
Antonio Fernando Cavalcante,
Lúcia Torres Marchine,
Marcos Henrique Boza,
Adriana de Oliveira Rocha,
Suely Luiza Comerlato,  
Benedito Celso Dias,
Alirio Leitun,
Débora Queiroz de Oliveira,
Edson Pulchério Alves,
João Borges da Silva Filho,
Mário Zan Moreira,
Marcelo Luiz Ferreira Correa,
Valdecir Jorge,
Sérgio Carlos Borges,
Dr. Ruy Alberto Bueno,  
Marta Maria Vicente,
Guilherme Nucci dos Reis,
Marcelo Flores Acosta,
Noêmia Ramos de Oliveira,
Luiz Carlos de Carvalho,
Cláudia Garcia de Souza Trefilo,
Leonardo Marques Mourão,
Maria Delfina Louveira Trindade,
Camyla Queiroz de Faria Gonzales. 

*Colaborou Tatyane Gameiro

CINEMA

Curta-metragem "Carne Amarela" transforma a Terra do Pé de Cedro em set de filmagens

Com produção de Marcus Teles e direção de Gleycielli Nonato Guató, curta-metragem "Carne Amarela" tem equipe local e conta história que entrelaça memórias da infância em meio aos pequizeiros e banhos de rio

22/12/2025 10h30

Com recursos da Política Nacional Aldir Blanc (Pnab),

Com recursos da Política Nacional Aldir Blanc (Pnab), "Carne Amarela" mobiliza comunidade de Coxim a partir de um enredo que une nostalgia da infância a uma mensagem de pertencimento territorial e de defesa da natureza Divulgação: Marcus Teles

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Nostalgia e engajamento são os motores para evocar os sabores da infância que fizeram Coxim voltar a ser cenário de cinema. Conhecida como Terra do Pé de Cedro, a cidade localizada a 245 quilômetros de Campo Grande, no norte do Estado, é uma das protagonistas de “Carne Amarela”, curta-metragem de ficção dirigido por Gleycielli Nonato Guató e produzido por Marcus Teles.

Os dois nasceram na cidade, que também é conhecida como Portal do Pantanal, e são profundamente conectados ao Cerrado e ao Pantanal.

As filmagens se encerraram ontem e foram realizadas integralmente por lá, contando com elenco local, que envolveu moradores atuando pela primeira vez na frente de uma câmera e também uma equipe de produção majoritariamente formada por coxinenses. Ou seja, uma combinação de saberes tradicionais, talento regional e formação técnica.

A produção nasce do desejo de fazer Coxim se ver na tela grande, “suas cores, sua luz, seus frutos, suas infâncias”, como afirma a diretora. E nasce, segundo Gleycielli, também da necessidade urgente de lembrar o que esses mesmos elementos significam para a identidade do município.

“Eu estou completamente em êxtase. Planejei muito trazer esse filme para cá. É emocionante gravar na cidade onde cresci, com o povo daqui, com artistas da terra. Noventa por cento do elenco é coxinense, a equipe tem muita gente da cidade, e isso me deixa profundamente feliz”, compartilha Gleycielli Nonato Guató, que, além de dirigir a produção, também assina o roteiro baseado em seus próprios textos literários.

DOIS TEXTOS

“Carne Amarela” nasce de dois textos de Gleycielli – o poema “Carne Amarela” e o conto “É Tempo de Ouro no Cerrado” – que guardam lembranças de uma Coxim que pulsava mata, rio e fruta. A diretora explica que o filme busca reencontrar essa paisagem quase perdida.

“Eu quero trazer a infância que vivi. A gente saía para caçar pequi, pegava ingá, comia goiaba no pé, trazia caju para fazer doce. Coxim era meu ‘Sítio do Picapau Amarelo’. Hoje, muitos lugares onde eu brincava viraram bairros. O filme é um lembrete do que ainda existe e do que não pode desaparecer”, afirma.

A obra convida as crianças e os adultos a olhar novamente para o Cerrado como pertencimento. O pequi, fruto central da narrativa, é apresentado como força, resistência e alimento da memória coxinense.

“O pequi já sustentou muitas famílias. Trouxe renda, trouxe mistura, trouxe nutrição. Ele resiste ao fogo, resiste ao tempo, mas não resiste ao machado. O filme quer acender esse sentimento de pertencimento e preservação, para que as próximas gerações vejam valor no que tantas vezes sustentou Coxim”, ressalta Gleycielli.

ZORAIDE

A protagonista adulta, Zoraide, teve como referências mulheres de alusão familiar e ancestral para Gleycielli: sua mãe, tias, avó e bisavó. A diretora revela que a personagem carrega traços de todas elas. E quem interpreta Zoraide é justamente Maria Agripina, mãe da diretora, pioneira do teatro coxinense.

“É muito emocionante ver minha mãe interpretando a Zoraide, que leva o nome da minha tia que faleceu na pandemia. Este filme é pioneiro em muitas coisas dentro de mim”, revela. Além disso, todos os cargos de direção são ocupados por mulheres, fortalecendo a presença feminina no audiovisual sul-mato-grossense.

“Trabalhar com essa equipe é um prazer imenso. Estamos construindo juntas. É uma energia muito poderosa”, afirma. A equipe ainda é formada majoritariamente por profissionais de Coxim, como Robertson Isan Vieira, artesão ceramista premiado, e José Carlos Soares, cabeleireiro e designer de imagem.

Com recursos da Política Nacional Aldir Blanc (Pnab), "Carne Amarela" mobiliza comunidade de Coxim a partir de um enredo que une nostalgia da infância a uma mensagem de pertencimento territorial e de defesa da naturezaEquipe do curta-metragem posa em um boteco da cidade com a diretora Gleycielli Nonato Guató (em pé, à esquerda, de blusa preta) - Foto: Divulgação/Marcus Teles

ENCONTRO

Para o produtor executivo e corroteirista Marcus Teles, filmar em Coxim não foi uma escolha estética, mas ética e afetiva. “Coxim faz parte da nossa formação pessoal e artística. Os textos que deram origem ao filme nasceram daqui.

A luz, a paisagem, o modo de vida, o jeito como o pequi aparece na cidade, tudo isso faz parte da essência da história. Filmar em Coxim é garantir autenticidade”, afirma Marcus.

O produtor explica que mapear as locações foi um processo guiado pela afetividade. “Coxim é uma cidade onde o urbano e o rural se encontram o tempo todo. Não procuramos cenários: reconhecemos neles o que a história já trazia em essência”.

Marcus destaca ainda que oito moradores da cidade trabalharam pela primeira vez no audiovisual, acompanhados de profissionais experientes. “Queremos abrir portas. Que jovens de Coxim encontrem no set um caminho possível, uma nova profissão, um futuro”, destaca o produtor.

101 FILMES

O elenco também conta com a participação especial do ator Breno Moroni, que marcou gerações como o Mascarado na novela “A Viagem” (Globo, 1994), além de ter participado de diversas outras produções no cinema e na televisão.

Com uma carreira extensa que inclui desde aberturas de telenovelas e mais de 100 filmes, Breno esteve em Coxim para integrar o elenco de “Carne Amarela” como seu 101º trabalho audiovisual.

“Trazer o Breno foi como aproximar duas forças que se completam. Ele chega com experiência, mas com humildade. Ele senta na varanda e deixa a conversa fluir. É uma presença que soma sem apagar a simplicidade regional, que é a alma do filme”, reconhece Marcus.

“Ele é fantástico. Consegue ir do drama à palhaçaria. Traz o duo que a personagem dele pede: o velho ranzinza e o homem capaz de se transformar”, completa Gleycielli.

O CERRADO

O filme aborda temas urgentes como queimadas, perda de territórios e desmatamento, mas com a delicadeza necessária para o público infantil, segmento prioritário na meta de audiência da produção.

“O tema duro vem com sutileza. As crianças vão entender o sentimento de perder e o de pertencer. E, quando algo pertence a você, você quer cuidar”, explica Gleycielli. Ao fim, o curta reforça que a preservação é um aprendizado coletivo e que cuidar da terra só é possível quando ela é reconhecida como parte de nós.

Na semana passada, a equipe teve uma atividade formativa com Alexandre Lopes, que é doutor em Ciências Sociais e professor de Sociologia do Instituto Federal de Mato Grosso do Sul (IFMS), no campus de Coxim.

A interação rendeu contribuições fundamentais para reflexão sobre como pensar e construir um audiovisual mais inclusivo.

AUTOESTIMA

A expectativa da equipe é de que o filme leve Coxim para o Brasil e para o mundo por meio de festivais, mas, principalmente, que devolva à cidade a consciência de seu próprio valor.

“Esperamos que Coxim se veja com carinho. Que perceba que suas histórias merecem estar no cinema. ‘Carne Amarela’ é uma celebração da cidade, das suas raízes e da força do Cerrado”, diz Marcus.

Para Gleycielli, a gravação na cidade é também um gesto de retorno. “Eu sou uma Guató de Coxim. Este filme diz muito sobre de onde eu vim e quem sou eu”.

Como uma “semente que rompe a casca”, reforça a diretora, “Carne Amarela” nasce para devolver à cidade o brilho do seu fruto mais resistente.

Aquele que atravessa gerações, que muda o PIB, que alimenta famílias, que resiste ao fogo e que ensina a permanecer. E Coxim, agora, se prepara para ver sua história ganhar corpo, cor, movimento e tela.

O projeto conta com investimento da Política Nacional Aldir Blanc (Pnab), do governo federal, por meio do Ministério da Cultura, operacionalizado pelo governo do Estado, por meio da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul (FCMS).

"Carne Amarela"

> Direção e roteiro: Gleycielli Nonato Guató;
Direção de produção: Gabriela Lima Ferlin;
> Direção de arte: Maíra Espíndola;
Direção de fotografia: Dafne Alana;
Som direto e edição de mixagem: Laura Cristina;
Produção executiva, assistência de direção e roteiro: Marcus Teles;
Operador de câmera: Gabriel Ribeiro;
Produção de set: Jefley M. Cano;
Elenco: Breno Moroni, Maria Agripina, João da Mata, Elena Vendroscolo, Maria Sonea Domingos;
Trilha sonora original: Gian Markes;
> Edição de imagem e cor: Rafael Viriato;
Microfonista: 4real.wav;
Assistente de produção executiva: Lucas Moura e Guinha Serrou;
Assistente de produção e captação: Robertson Vieira;
Assistente de produção: Carlos Soares;
Assistente de arte: Angela Gabrieli;
2º assistente de direção: Eduardo Henrique;
2ª assistente de fotografia: Lavinia Ribeiro;
Assessoria de imprensa: Lucas Arruda e Aline Lira.

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