Mais da metade da indústria da construção civil sofreu com a falta de materiais ou com o alto custo dos insumos no último trimestre de 2020, de acordo com a Confederação Nacional da Indústria (CNI).
Representantes do setor destacam que no Estado o que mais tem impedido a retomada das obras e dos investimentos, de maneira geral, são os valores excessivos de materiais para construção.
Segundo representantes do setor, houve uma desaceleração no ritmo, que deve culminar em atraso e até mesmo na paralisação de obras. Ainda de acordo com o setor, as obras ficaram até 20% mais caras.
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Conforme o presidente da Associação dos Construtores de Mato Grosso do Sul (Acomasul), Diego Canzi, todos os produtos subiram em relação ao primeiro semestre de 2020, com reajustes que variam de 70% no tijolo a 150% nos fios elétricos, o que impacta diretamente o bolso do consumidor.
“Campo Grande sofreu muito com a falta de materiais e insumos, principalmente, no segundo semestre do ano. Os produtos que ficaram mais escassos foram tijolo, ferro e fios elétricos, por conta da falta de cobre no mercado internacional. Todos os derivados do aço tiveram alta de 100%, o que atinge a retomada do setor imobiliário”, explicou Canzi.
RANKING
No ranking dos problemas listados pelos executivos da construção aparecem na sequência a elevada carga tributária (26,8%), a burocracia excessiva (24,1%) e a fraca demanda interna (23,9%).
Apesar do aumento nos custos e da falta de insumos, a indústria da construção projeta crescimento para 2021, contudo, as altas de preços de insumos e a escassez de materiais podem representar riscos.
O presidente da Acomasul ainda destaca que houve desabastecimento e falta de estoque na cadeia da construção, o que ocasionou demora na entrega e no aumento nos valores.
“Produtos, como louça e pisos cerâmicos, que antes as fábricas tinham à pronta-entrega, hoje estão com prazo médio de 90 dias para entrega”.
Conforme dados divulgados pela Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic), o PIB do setor em 2021 deve crescer 4%, maior expansão desde os 4,5% registrados em 2013.
Para o presidente do Sindicato Intermunicipal da Indústria da Construção do Estado de Mato Grosso do Sul (Sinduscon-MS), Amarildo Miranda Melo, apesar do atual cenário de pandemia, alguns fornecedores aproveitam o momento para superfaturar em cima de materiais essenciais para a execução dos trabalhos.
“Não tinha motivo para o aumento excessivo, é importante que o governo tome as medidas necessárias, o mercado se acomoda, sendo vantagem para eles. O setor diminuiu muito sua produção, agora é o momento de reaquecer o mercado, estão com valores abusivos, é desleal isso que está acontecendo”, pontuou.
Melo reitera que, a partir da falta de materiais e o aumento de preços, tanto investimentos públicos quanto privados sofrem com o atual cenário.
“Para obras públicas, todo esse aumento também é péssimo, por exemplo, isso pode acarretar em uma repactuação de contrato, já que o acertado visava um preço menor ou ainda no abandono dessa construção, que acaba em obra parada e em nova licitação. Os valores abusivos atrapalham muito o setor como um todo”, explica.
COMERCIANTES
Antônio Machado, dono da loja de materiais e ferramentas Machado Construção, relata que os insumos em geral estão subindo no mercado interno, o que impacta nos preços e assusta o consumidor.
“O preço subiu bastante, principalmente no início da pandemia e a população se impressionou. Os valores já chegam elevados para os comerciantes do mercado interno, não tem muito o que pode ser feito. Durante os primeiros meses, teve pessoas que queriam estocar os insumos, isso levou a uma demanda atípica. É preciso observar a situação e pensar na coletividade”, afirma.
Além dos preços em alta, a demanda acima do esperado para o período acabou deixando alguns produtos em falta. Tijolos, sacos de cimento e peças de cerâmica estão entre os itens.
O Índice Nacional da Indústria de Construção Civil (INCC/Sinapi), divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), subiu 1,94% no que diz respeito aos insumos em dezembro, após um avanço de 1,82% em novembro.
O custo nacional dos insumos da indústria de construção passou de R$ 1.252,10 por metro quadrado em novembro para R$ 1.276,40 por metro quadrado em dezembro. A parcela dos materiais teve elevação de 3,39%.
Há 15 anos, José Mendonça, 64 anos, administra a loja de materiais de construção da família Tem Tudo Construção, o comerciante afirma enfrentar dificuldade para encontrar produtos e oferecer aos clientes.
“As fábricas estão com falta de material. Cobre e fio subiram muito e nem todo mundo tem. O que já está acontecendo é que a escassez dos produtos causa aumento dos preços”, destacou Mendonça.