A chegada da Arauco, multinacional chilena que promete instaurar em Mato Grosso do Sul uma rivalidade saudável com a Suzano sobre qual será a dona da maior planta processadora de celulose do mundo, já começa a transformar a realidade do mercado de trabalho no município de Inocência, distante 330 quilômetros de Campo Grande.
Em um intervalo de 12 meses, o estoque de vagas formais de trabalho, aquelas cujos contratos são regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), aumentou em 271%. Em junho de 2024, antes da instalação do canteiro de obras da Arauco às margens do Rio Sucuriú, havia 1.335 pessoas trabalhando com carteira assinada em toda a cidade.
Agora, em maio deste ano, mês com a estatística mais recente do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), o estoque de vagas formais de trabalho no município é de 4.961 vagas. A expectativa é de que esse número suba ao longo do ano.
No auge das obras da planta processadora de celulose de Inocência, a Arauco prevê 14 mil pessoas trabalhando na cidade.
A transformação também veio para ficar. Depois de pronta, a expectativa de conclusão é para o fim de 2027, a fábrica da multinacional chilena vai gerar 6 mil postos de trabalho diretos e indiretos.
A título de comparação, conforme a estimativa mais recente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2024, a cidade de Inocência tem uma população de 8.712 habitantes. Mais da metade da população está incluída nesse número de trabalhadores com carteira assinada, um número considerado alto, pois não abrange funcionários públicos, microempreendedores individuais ou empresários, apenas contratos de trabalho com carteira assinada.
Além disso, o número também desconsidera a população que não é economicamente ativa, como crianças, aposentados e pensionistas.
Mudança de perfil
O mercado de trabalho de Inocência também mudou de perfil. Há um ano, a agropecuária era o setor que mais empregava no município, com 859 trabalhadores com carteira assinada. Em segundo lugar apareciam os serviços, com 402, e em terceiro, o comércio, com 297.
Na construção civil, por exemplo, ninguém trabalhava, e na indústria havia 48 contratos de trabalho ativos.
Com a instalação do canteiro de obras da Arauco, o setor de serviços assumiu a liderança como segmento que mais emprega, com 2.277 trabalhadores – mais que o total de todos os empregados com carteira assinada da cidade no ano anterior.
A construção civil, que antes não existia no mercado de trabalho local, é agora o segundo segmento que mais emprega, com 1.251 vagas. A agropecuária tem um número similar ao de 2024: 920. O comércio conta com 315 trabalhadores, e a indústria, com 198.

Maior do mundo?
A nova fábrica terá capacidade para produzir 3,5 milhões de toneladas de celulose por ano. A unidade da Suzano, em Ribas do Rio Pardo, atualmente a maior do mundo, tem capacidade de produzir 2,55 milhões de toneladas por ano em uma única linha.
A controvérsia sobre qual planta é maior, porém, está no projeto de expansão. A unidade de Ribas tem espaço para a instalação de uma segunda linha. Já em Inocência o projeto inicial da Arauco previa uma planta com capacidade para 2,5 milhões de toneladas e espaço reservado para outra do mesmo tamanho, como ocorre em Ribas.
No entanto, a empresa optou por construir uma linha única maior, com capacidade para 3,5 milhões de toneladas.
Durante as obras, a Arauco vai oferecer capacitação e gerar mais de 14 mil oportunidades de trabalho. Depois que a fábrica for ativada, ela empregará cerca de 6 mil pessoas nas áreas industrial, florestal e logística.
“O propósito é impulsionar o desenvolvimento social e econômico de toda a região, fomentando um aumento na geração de renda e na arrecadação de impostos, além de contribuir para atrair investimentos”, afirma a Arauco em seu site.
O investimento previsto na unidade é de US$ 5,6 bilhões. Na cotação de ontem, o montante ultrapassava R$ 24 bilhões.
A planta da Arauco ainda vai gerar 400 MW de energia, que serão utilizados pela própria fábrica, com a venda do excedente para o sistema.




