Uma auditoria por empresa especializada está sendo aberta para levantar todas as contas da Cooperativa Agropecuária e Industrial (Cooagri) e identificar quais os motivos da sua falência. Mas o juiz da 2ª Vara Cível de Dourados, José Carlos Souza considerou “uma pouca vergonha” e “uma calamidade” o que ocorreu com ela, pois quatro anos atrás era considerada uma das maiores do País no seu segmento. O anúncio foi feito na tarde de ontem durante audiência pública, realizada no auditório do Fórum da cidade, com funcionários, bancos e outros credores e agricultores, quando foi anunciado oficialmente o arrendamento dos 18 armazéns da Cooagri. A iniciativa, segundo o juiz, “foi para democratizar o debate e dar transparência a esse processo de liquidação judicial”. Cerca de 70 pessoas compareceram à convocação. O que surpreendeu foi o reduzido número de associados da Cooagri – que tinha quase quatro mil, bem inferior ao volume de advogados, representantes de bancos e outros grandes credores. O juiz lamentou que a Cooagri tivesse chegado a esse ponto de insolvência financeira, porque era a maior do Estado na área agrícola e gerava mais de 300 empregos diretos e contribuía com a arrecadação de impostos. Mas com dívidas de R$ 240 milhões e um patrimônio de R$ 90 milhões “ela está falida”. O agrônomo Gi l ber to Bernardi, liquidante nomeado pelo juiz, explicou que já entrou em contato com empresas de auditoria para abrir a “caixa preta” financeira da cooperativa para identificar os motivos da falência e seus responsáveis. Em entrevista ao Correio do Estado, José Carlos Souza confirmou o arrendamento dos armazéns para cooperativas do Paraná e cerealistas de Dourados, Itaporã e Maracaju, considerados “grupos sólidos”. O valor dos contratos atinge R$ 12 milhões, pelo prazo de três anos. A proposta da ADM, embora um pouco maior, foi descartada porque a trading norte-americana queria arrendar por sete anos. Outras empresas interessadas também foram descartadas. Bernardi afirmou ontem que os arrendatários assinaram essa semana o contrato e depositaram a parcela inicial, em torno de R$ 5,5 milhões, que será aplicada integralmente no pagamento dos direitos trabalhistas. Mas o dinheiro não será suficiente esses encargos somam R$ 8 milhões, já que eles não recebem desde julho de 2009. “Mas vamos liquidar de 50% a 60% da dívida com os 310 funcionários”, acrescentou o liquidante. Apenas um grupo de 20 pessoas continuou nas suas atividades – e recebendo salário, para preservar as instalações da cooperativa e cuidar da papelada administrativa e contábil. O restante do crédito trabalhista somente será pago dentro de um ano, quando for paga a segunda parcela dos arrendamentos. A ordem de pagamento das dívidas será: primeiro, o passivo trabalhista; em segundo os bancos, que têm bens penhorados da Cooagri como garantia das antigas dividas; a Fazenda pública (só em ICMS são devidos R$ 400 mil ao Estado); e, por fim, o crédito dos agricultores associados. “Mas essa conta não vai fechar”, admitiu o juiz douradense, que recomendou os bancos credores a diminuir juros e encargos da dívida para que possam receber, com maior facilidade, os créditos habilitados.