A expansão da citricultura em Mato Grosso do Sul deve impulsionar a geração de empregos no estado, com projeção de pelo menos 10 mil vagas diretas à medida que o setor avance para os 50 mil hectares plantados até 2030.
A estimativa foi apresentada durante o Encontro Regional de Capacitação da Citricultura, realizado em Três Lagoas, que reuniu equipes técnicas de cerca de 20 municípios, além de representantes da Semadesc, Iagro, Agraer e prefeitura.
Segundo Rogério Thomitão Beretta, secretário-executivo da Semadesc, o cálculo considera o ritmo atual de expansão.
“A expectativa é gerar um emprego a cada 5 hectares. Se considerarmos os 50 mil hectares projetados, devemos atingir a marca de 10 mil empregos”, afirmou.
O secretário Jaime Verruck reforçou que, no longo prazo, a área plantada pode chegar a 100 mil hectares, o que dobraria esse número. Ele também destacou que parte dessa mão de obra poderá ser suprida por trabalhadores indígenas, especialmente em regiões próximas às aldeias, onde há tradição em atividades agrícolas.
Atualmente, Mato Grosso do Sul possui 15 mil hectares plantados, distribuídos em 60 propriedades, com cerca de 7 milhões de mudas em desenvolvimento. Técnicos apontam que a disponibilidade de terras, o clima favorável e os investimentos em logística têm estimulado novos produtores e empresas a ingressar no setor.
Durante o encontro, foram discutidos procedimentos de fiscalização, manejo, atualizações sanitárias e o impacto da crise que reduziu em 44% os pomares de São Paulo, principal polo citrícola do país.
Para evitar problemas enfrentados pelos vizinhos paulistas, Verruck destacou que o estado será rigoroso no controle da murta, planta hospedeira do greening.
“Teremos tolerância zero com a murta, e, diferentemente do que ocorreu nos pomares de São Paulo, se identificarmos um pé de laranja com a presença do hospedeiro, imediatamente substituiremos essa planta”, afirmou.
O diretor-presidente da Iagro, Daniel Ingold, ressaltou que a vigilância tem sido intensificada para evitar a entrada de doenças presentes em outros estados. Já o secretário-adjunto Artur Falcette afirmou que a capacitação das equipes municipais é essencial para garantir padrões adequados de manejo e fiscalização.
Para o agrônomo e professor da USP Marcos Fava Neves, o deslocamento da citricultura para Mato Grosso do Sul é resultado das limitações enfrentadas em São Paulo.
“A citricultura vem para cá porque em São Paulo está com problemas, porque não faria sentido fazer uma produção longe da fábrica. Então a citricultura foi para Minas Gerais e veio para cá. Se nós chegarmos a uma produção de 25 mil toneladas, as fábricas chegam junto”, disse.
Ele acrescentou que a expansão amplia a arrecadação, o PIB e a geração de empregos no estado.
Juliano Aires, do Fundecitrus, avalia que Mato Grosso do Sul reúne condições para pomares de alto padrão.
“Teremos uma citricultura top mundial, sadia e de altíssima qualidade. A proximidade de São Paulo vai nos aproximar da produção de suco futuramente”, afirmou.
Por sua vez, o governador Eduardo Riedel (PP) destacou que o aumento da produção está intrinsecamente ligada à industrialização futura.
"A gente está atraindo as pessoas, trabalhadores de Minas Gerais, do Nordeste, as pessoas tem que vir trabalhar, é mais que isso trazer a família. Muitas delas voltam aos seus estados, temos que buscar meios dessas pessoas se estabelecerem. Temos que pensar toda a cadeia produtiva, não adianta a gente pensar no pequeno produtor se ele não tiver pra quem vender essa laranja, toda a cadeia produtiva tem que ser levada em consideração", disse.
O encontro integrou a programação do MS Citrus Summit e antecedeu a visita técnica do governador Eduardo Riedel à Fazenda Paraíso, no Distrito de Garcias, que possui 110 hectares de laranja em produção.
Além disso, projeções discutidas por Fava Neves indicam que, caso o estado alcance 25 milhões de caixas de laranja, o volume seria suficiente para atrair indústrias de processamento de suco, hoje concentradas no interior paulista, fator que ampliaria ainda mais o impacto econômico da atividade no território sul-mato-grossense.


