Mais de um ano após visita da comitiva da Petrobras e do governo federal para confirmar a retomada das obras da Unidade de Fertilizantes Nitrogenados III (UFN3), localizada em Três Lagoas, nenhum avanço efetivamente foi realizado. Conforme noticiou o Correio do Estado, em abril de 2024, o então presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, a ministra Simone Tebet e o alto escalão do governo federal visitaram as instalações e anunciaram com entusiasmo a retomada das obras.
A fábrica, paralisada desde 2014, com cerca de 81% das obras concluídas, é vista como um passo crucial para reduzir a dependência brasileira de fertilizantes importados. No entanto, mais de um ano após o anúncio, a retomada efetiva das obras ainda não ocorreu.
Em fevereiro deste ano, o Correio do Estado publicou que o governador Eduardo Riedel (PSDB) foi informado de que a licitação para a escolha da empresa responsável pela obra seria feita até o início do segundo semestre, ou seja, daqui um mês, mas, até o momento, nenhuma movimentação foi identificada. O orçamento para a sua conclusão será de US$ 800 milhões (R$ 4,6 bilhões).
O conselho de administração da Petrobras aprovou a continuidade da implantação da indústria em outubro do ano passado. A presidente da Petrobras, Magda Chambriard, afirmou, em fevereiro deste ano, que a companhia recebeu "encomenda" do Planalto para impulsionar o Produto Interno Bruto (PIB) do País, e o incentivo à industrialização é o principal enfoque para acelerar o crescimento.
"Temos de mostrar para a indústria que o que fazemos tem de ser revertido em progresso para o povo", disse Magda Chambriard, no Fórum Brasil de Energia, na sede da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan).
"Não podemos crescer sozinhos, precisamos da indústria nacional e internacional para nos atender prontamente", disse a executiva. E completou: "Estejam preparados [indústria], porque estamos pisando no acelerador".
Conforme reportagem publicada pelo Valor Econômico, entre as prioridades da companhia, estão a ampliação do parque de refino e a volta dos investimentos em fertilizantes e biocombustíveis. A UFN3 entraria como um dos principais ativos na produção de fertilizantes do Brasil.
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A primeira confirmação de retomada das obras foi em novembro de 2023, pelo então presidente da estatal, Jean Paul Prates, destacando que o anúncio oficial seria feito após a conclusão do Plano Estratégico da Petrobras 2025-2029. Em abril de 2024, durante visita à estrutura da fábrica, Prates afirmou que a obra estava "superbem-cuidada" e que a avaliação técnica e econômica do projeto já estava em curso.
Na ocasião, o governador Eduardo Riedel afirmou que Mato Grosso do Sul está preparado para receber estes grandes investimentos.
"Um projeto como este não afeta apenas a economia de Três Lagoas, e sim de toda uma região. As cidades estão passando por uma transformação vigorosa, com recursos aplicados que vão prepará-las para receber este boom de crescimento neste ciclo positivo em todo o Estado".
A ministra Simone Tebet ponderou que a obra será a maior fábrica de fertilizantes nitrogenados da América Latina.
"O Brasil chegou a produzir 50% dos fertilizantes que consome, e hoje tem apenas entre 15% e 16%. O governo federal apoia este investimento da Petrobras, que vai impactar positivamente as lavouras e o agronegócio e vai colocar comida mais barata na mesa do povo brasileiro. Um sonho de Três Lagoas e uma necessidade ao desenvolvimento do Brasil".
Em outubro de 2024, o conselho de administração da Petrobras aprovou a retomada das obras da UFN3. A previsão era de que a obra gerasse cerca de 8 mil empregos durante a fase de construção e mais 600 na fase de operação.
A expectativa era de que as obras fossem finalizadas até 2026, antes do fim do mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, contudo, o prazo passa a ser inviável, considerando a necessidade de uma licitação, além do reinício das obras e da conclusão delas, que deverá levar 18 meses.
FÁBRICA
A construção da UFN3 começou em 2011, com o objetivo de produzir anualmente cerca de 1,2 milhão de toneladas de ureia e 70 mil toneladas de amônia, atendendo principalmente os mercados consumidores de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Paraná e São Paulo. A localização estratégica da unidade visa suprir a demanda nacional de fertilizantes, especialmente a ureia, cuja demanda estimada para 2024 era de cerca de 7 milhões de toneladas, sendo integralmente importada atualmente.
As obras foram paralisadas em 2014, após integrantes do consórcio serem envolvidos em denúncias de corrupção. Na época, a estrutura da indústria estava cerca de 80% concluída. O processo de venda da UFN3 começou em 2018 e incluía a Araucária Nitrogenados (Ansa), fábrica localizada em Curitiba (PR). A comercialização conjunta inviabilizou a concretização do negócio.
No ano seguinte, a gigante russa de fertilizantes Acron havia fechado acordo para a compra da unidade, mas a crise boliviana impediu o negócio. Em fevereiro de 2020, a Petrobras lançou nova oportunidade de venda. As tratativas só foram retomadas no início de 2022, com o mesmo grupo russo.
Já no dia 28 de abril de 2022, a petrolífera anunciou que a transação de venda da fábrica para o grupo Acron não havia sido concluída. Ainda em 2022, a Petrobras relançou a venda da fábrica ao mercado.
Em 24 de janeiro de 2023, a estatal anunciou o fim do processo de comercialização da indústria e, desde então, há a expectativa do reinício das obras.



Estado registrou aumento das vendas ao mercado internacional - Foto: Gerson Oliveira/Correio do Estado


