Os ativos da empresa de mineração Vale, em Mato Grosso do Sul, estão sendo analisados para serem entregues em negociação ao mercado internacional ou para uma mineradora brasileira.
A empresa realiza a exploração de minério de ferro e também detém o direito de exploração nas minas de Santa Cruz e do Urucum, em Corumbá. A estrutura toda foi adquirida por US$ 750 milhões, em 2009.
Por enquanto, a mineradora não confirma as tratativas de venda, mas o assunto vem circulando desde o fim do ano passado e ganhou contornos oficiais neste mês.
A mina Urucum, que seria o ativo em negociação, fica a 22 km de Corumbá e possui exploração a céu aberto de minério de ferro e mina subterrânea de minério de manganês. A mina Santa Cruz tem várias frentes de lavra.
A Vale tem também nessa estrutura o pátio de expedição Pé da Serra, pátio de escoamento e pátio ferroviário Antonio Maria, pátio de expedição Tupacery, Porto Gregório Curvo, Terminal Portuário Granel Química (Ladário) e mina Belga (apenas ativo histórico, que foi iniciada em 1907).
A iminência de uma negociação, que estaria prevista para ocorrer neste ano, gerou mobilização no governo municipal de Corumbá. O prefeito Marcelo Iunes (Podemos) levou a situação para o governador Reinaldo Azambuja (PSDB), que visitou a capital do Pantanal nesta sexta-feira (18).
Os dois estão agendados para tratar do assunto com diretores da Vale na próxima semana, em reunião que pode acontecer ainda nesta segunda-feira (21).
Os boatos sobre a possível venda de ativos surgiram no fim do ano passado, quando a empresa passou a fazer demissões com a justificativa de adequação de seu quadro.
As minas localizadas em Corumbá não são as mais lucrativas para a mineradora. O Sistema Centro-Oeste é o que tem o menor volume em extração de minério de ferro diante das outras unidades.
Relatório trimestral apontou que 795 mil toneladas foram obtidas em Corumbá, contra 50 milhões no Sistema Norte; 18,6 milhões no Sistema Sudeste; e 12,9 milhões no Sistema Sul.
LOGÍSTICA
A atual logística também encontra muitos percalços, principalmente desde o fim de 2019.
O escoamento pelo Rio Paraguai, em produto para exportação, foi diretamente afetado porque o nível da hidrovia baixou e foram meses sem a possibilidade de transporte em volume satisfatório ou sem nenhum envio de carga.
O meio rodoviário passou a ser priorizado, porém, a capacidade de carregamento é inferior, o custo acaba aumentando e ainda há complicações com relação à situação da BR-262, que no trecho entre Corumbá e Miranda não suporta o peso de 300 caminhões ou mais por dia transitando.
Conforme apurado com fontes do setor de mineração e da prefeitura, há um histórico de prejuízo nas operações de venda.
Nesse pano de fundo, a estrutura da Vale na região estaria ficando onerosa e gerando discussão em torno da venda.
“Vamos falar com a presidência da Vale, eles estão com 10 empresas interessadas no negócio. Haverá uma licitação, o que sabemos é que a mina Urucum será vendida 100% e, dependendo do investimento do comprador, a mina Santa Cruz também pode estar no negócio”.
“Nossa preocupação é não deixar parar a extração. É também uma preocupação do governador. Não queremos que essa produção pare, queremos que continue gerando emprego, isso ainda faz girar nosso comércio local”, posicionou-se Marcelo Iunes.
Esse foco do prefeito envolve uma arrecadação milionária que a mineração distribui para o município, bem como para o Estado.
A Compensação Financeira da Exploração de Recursos Naturais (Cfem) rendeu para Corumbá, em 2021, R$ 33.895.877,15. A Vale não é a principal pagadora dessa taxa, porém contribui nessa conta.
O governador Reinaldo Azambuja foi mais cauteloso ao cravar sobre a venda da mineradora na região pantaneira, mas reconheceu que dará atenção ao assunto e voltará a Corumbá para discuti-lo.
“Segunda-feira eu estarei com o Marcelo aqui, conversando com o pessoal da Vale, a diretoria toda, para discutir investimentos, muitas vezes uma transferência deste ativo para outro grupo, isso está sendo discutido. Essa transferência de ativo deve gerar mais emprego, mais oportunidades e desenvolvimento. O Jaime [Verruck, secretário da Semagro] também vem”, pontuou.
No mercado de mineração em Corumbá, o que se especula é que há 10 empresas que avaliam o ativo da Vale para a compra.
Nessa lista, estaria a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), que é a segunda maior exportadora de minério de ferro do Brasil. Houve consulta na prefeitura de Corumbá sobre a estrutura que existe para possivelmente montar uma siderurgia no local e quais incentivos haveriam.
“A gente não sabe o que vai acontecer, mas o que chegou para nós é que pode haver uma siderurgia aqui. Para nós, isso interessa muito. Aqui temos a 4B [mineração] que vai investir também. Corumbá não pode ser o fim de linha, precisa ser o meio, principalmente com a implantação da ferrovia da Malha Oeste”, opinou Iunes.
Oficialmente, a Vale não divulgou detalhes da negociação.
“As operações da mina subterrânea de Urucum, que fica em Corumbá e Ladário, permanecem paralisadas para avaliação do ativo. Os empregados próprios e contratados que atuam na operação da mina foram temporariamente remanejados para outras atividades”.
Em 14 de outubro, a mina Urucum sofreu desplacamento de rocha em uma das galerias, onde ocorria a extração de minério de ferro. Desde então, o local foi fechado. No incidente, não houve feridos.
A estrutura da Vale em Corumbá
Compra dos ativos
Aquisição de operações de minério de ferro que pertenciam a Rio Tinto Plc em 18 de setembro de 2009.
Produção
Em 2008: 2 milhões de toneladas de minério de ferro.
Previsão de ampliação para 15 milhões de toneladas ao ano.
US$ 750 milhões foram pagos
Investimento previsto
Recursos que estavam previstos: US$ 2 bilhões (US$ 1,5 bilhão na compra de comboios de barcaças).
Classificação do minério em Corumbá
Classe mundial, alto teor de ferro e alta qualidade.