Morada Nova de Minas é uma cidade a 280 km ao Norte de Belo Horizonte. Foi ali, a poucos quilômetros da igreja que homenageia Nossa Senhora de Loreto, a padroeira local, que em agosto deste ano fez-se a primeira descoberta concreta e volumosa de gás natural em Minas Gerais.
Apenas em um poço, a Orteng, uma empresa privada que vem procurando gás na região há mais de dois anos em parceria com o governo mineiro, diz ter encontrado algo entre 175 bilhões e 195 bilhões de metros cúbicos de gás natural, o que permitiria uma extração diária de cerca de 6 milhões de metros cúbicos pelos próximos 25 anos. Na prática isso significa que, se as previsões da companhia estiverem certas, apenas de um poço será possível extrair 20% do que o Brasil importa da Bolívia todos os dias para abastecer indústrias, usinas térmicas de energia, lares e carros país afora.
“Com as informações que levantamos até o momento, temos indicativos muito bons de que de fato esse volume estará disponível para exploração, mas ainda precisamos de mais pesquisas para podermos usar a palavra certeza”, diz Frederico Macedo, gerente de Óleo e Gás da Orteng. “Mas não há dúvida de que temos hidrocarbonetos lá”. Hoje o Brasil tem um volume de reservas provadas de 417 bilhões de metros cúbicos de gás natural e as descobertas da Orteng ainda precisam de mais dados para entrar nessa conta.
Gás que vaza da terra
Mas se forem confirmadas essas estimativas, é um volume de gás espantoso para apenas uma perfuração, representando quase 50% de todo o gás que já foi descoberto no Brasil. Pesquisas indicam que pode haver concentrações de gás em uma área que se estende desde o centro do Estado até quase a divisa de Minas Gerais com a Bahia e com Goiás. Tecnicamente, trata-se da Bacia do São Francisco, uma região em que desde antes das caminhadas de Guimarães Rosa por seus sertões e veredas se aventa possibilidade de haver gás.
O próprio Guimarães em Grande Sertão Veredas já fazia menção dos indícios de que aquela região de Minas havia o que hoje os especialistas chamam de hidrocarbonetos. “Em um lugar, na encosta, brota do chão um vapor de enxofre, com estúrdio barulhão, o gado foge de lá, por pavor”, escreveu o autor ainda nas primeiras páginas de seu livro mais famoso. Nas pequenas cidades por onde Guimarães passou, até hoje os sertanejos tem causos e lendas a contar envolvendo o gás. Como Marcolino Ferreira, gari da cidade de Buritizeiro, que garante ter visto seu pai cozinhar peixe na beira do rio com o gás que brota da terra. “Lá na localidade de Remanso do Fogo é assim, o gás vaza do chão”, conta ele.
Por conta disso e de indícios menos empíricos, a Agência Nacional de Petróleo já licitou – e encontrou compradores - quase 40 blocos de exploração em uma área de 750 mil metros quadrados, algo como 25% do Estado de Minas Gerais. Nesse momento sete empresas brasileiras e estrangeiras, entre elas as gigantes Petrobrás, Shell e Vale, estão perfurando ou se preparando para perfurar poços de exploração em meia dúzia de municípios mineiros.
Além de Morada Nova de Minas, já foram encontrados indicativos de concentrações volumosas de gás em outras duas cidades do Norte do Estado – Brazilândia de Minas e Corinto. A expectativa do governo de Minas Gerais é de que os investimentos apenas em prospecção passem dos R$ 1,2 bilhão nos próximos anos.
Até agora, no entanto, com exceção de Morada, ainda não se sabe exatamente o volume e se há viabilidade econômica para a extração nesses municípios. “É cedo ainda para cravar se teremos um volume que seja suficiente para impactar a matriz energética do Brasil, como há quem diga por ai”, diz Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE). “Mas não há como negar que estamos diante de perspectivas muito, muito animadoras”.
Enquanto especialistas, como Pires, e empresas, como a Petrobrás, que encontrou gás em Brazilândia mas ainda não definiu se há de fato viabilidade econômica para explorá-lo, primam pela cautela, nas cidades que formam a Bacia do São Francisco o clima é de euforia. “É a nossa redenção, graças a deus encontramos esse gás”, diz Nilton Ferreira, prefeito de Corinto, já se adiantando às pesquisas que confirmarão ou não a viabilidade econômica das descobertas iniciais que a Petra, a empresa que está explorando a região, já fez.