Um estudo recente revelou que os povos do sul da China e do Sudeste Asiático já realizavam práticas de mumificação muito antes do Egito Antigo. Restos humanos encontrados em 95 sítios arqueológicos indicam que há cerca de 12 mil anos caçadores-coletores utilizavam o fogo e a fumaça para preservar os mortos. Esse período é quase o dobro da antiguidade das múmias egípcias mais antigas conhecidas.
A análise mostrou que os corpos eram colocados em posição fetal e expostos ao calor de fogueiras de baixa intensidade por semanas ou até meses. O processo retirava a umidade dos tecidos, retardando a decomposição, sem que os corpos fossem incinerados.
Após a defumação, eles eram enterrados em cavernas, abrigos rochosos ou sambaquis, o que permitia preservar parte das características físicas dos indivíduos por mais tempo. Para confirmar a hipótese, os pesquisadores recorreram a métodos laboratoriais como difração de raios X e espectroscopia de infravermelho.
Em 54 esqueletos examinados detalhadamente, 84% apresentaram alterações químicas compatíveis com exposição prolongada ao calor. Os achados foram publicados na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS).

Significado cultural e impacto arqueológico
Embora não restem tecidos moles nesses sepultamentos, os especialistas classificam os achados como múmias, já que houve intenção clara de preservar os mortos. A prática não era apenas funcional, mas também carregava significados espirituais.
A defumação permitia que os falecidos permanecessem visíveis por mais tempo, mantendo-os próximos aos vivos, o que reforça a importância dos laços familiares e comunitários nessas sociedades pré-neolíticas.
Práticas semelhantes ainda podem ser observadas em comunidades tradicionais da Papua, na Indonésia. Povos como os Dani e Pumo continuam a preservar ancestrais por meio da defumação, utilizando técnicas muito próximas às identificadas nos sepultamentos de milhares de anos atrás.





