Sob a espessa cobertura de gelo da Antártida existe uma cadeia geológica pouco explorada: mais de uma centena de vulcões, alguns visíveis na superfície e outros ocultos a quilômetros de profundidade. Muitos permanecem adormecidos há milhares de anos, mas estudos recentes indicam que esse quadro pode mudar à medida que o gelo antártico continua a derreter em ritmo acelerado.
O derretimento das geleiras, provocado pelas mudanças climáticas, não representa apenas o risco da elevação dos oceanos. Ele também altera a pressão sobre as câmaras de magma subterrâneas, fator que pode desencadear um aumento na atividade vulcânica.

Como o derretimento pode impulsionar erupções
Pesquisadores dos Estados Unidos e da Alemanha publicaram recentemente um estudo no periódico Geochemistry, Geophysics, Geosystems, realizando milhares de simulações para entender a dinâmica entre gelo e magma. Os resultados apontam que a redução da camada de gelo pode intensificar tanto a frequência quanto a potência de erupções na Antártida.
O processo ocorre por razões físicas: a retirada do peso das geleiras diminui a pressão sobre o magma, permitindo sua expansão. Essa expansão aumenta o risco de rompimento das câmaras magmáticas, favorecendo erupções. Além disso, gases voláteis presentes no magma passam a escapar mais facilmente, ampliando ainda mais a instabilidade.
Essas erupções, chamadas subglaciais, não costumam apresentar sinais visíveis imediatos, já que ocorrem sob quilômetros de gelo. No entanto, o calor do magma acelera o derretimento local, criando um ciclo de retroalimentação: menos gelo significa mais chance de erupções, que por sua vez aumentam ainda mais o degelo.
Registros geológicos indicam que fenômenos semelhantes ocorreram no fim da última era do gelo, há cerca de 12 mil anos, quando o continente passou por forte retração da camada de gelo. Hoje, os cientistas avaliam que o processo é lento em escala humana, mas já pode estar em andamento.





