Militares das Forças Armadas da Bolívia tentaram um golpe de Estado nesta quarta-feira (26), tomando a praça em La Paz onde fica o palácio presidencial. Soldados, liderados pelo general Juan José Zúñiga, destituído do cargo na terça-feira (25), adentraram o prédio.
O presidente boliviano, Luis Arce, ordenou que Zúñiga desmobilize as tropas imediatamente. Mais cedo, Arce denunciou a “mobilização irregular” de unidades do Exército, enquanto o ex-presidente Evo Morales convocou uma “mobilização nacional pela democracia”.
Vídeos circulando na internet mostram um blindado do Exército colidindo com a entrada do palácio presidencial e soldados invadindo o prédio. Tropas também foram vistas marchando pelas ruas da capital.
General Zúñiga e a Liberação de Jeanine Añez
Zúñiga, que lidera a tentativa de golpe, afirmou que “por enquanto” reconhece Arce como chefe das Forças Armadas, mas anunciou uma troca ministerial no governo. Ele foi removido do posto de comandante do Exército após ameaças contra Evo Morales. Zúñiga declarou que libertará “prisioneiros políticos”, incluindo a ex-presidente Jeanine Añez, condenada a dez anos de prisão em junho de 2022 por organizar um golpe de estado contra Evo em 2019.
Segundo o jornal boliviano El Deber, Zúñiga entrou no palácio, conversou com Arce e depois saiu do prédio. O Clarín, veículo argentino, informou que Arce ordenou que Zúñiga se retirasse. Tropas dispararam bombas de gás contra pessoas que tentaram entrar na Praça Murillo, onde fica a sede da Presidência boliviana.
Antes de entrar no palácio, Zúñiga fez um curto pronunciamento: “Parem de destruir o país, parem de empobrecer o país, parem de humilhar o Exército”, afirmando que a ação tinha apoio popular.
Tensão Política e Mobilização Nacional
Zúñiga foi removido do cargo após uma série de ameaças contra Evo Morales, antigo aliado e padrinho político de Arce. Embora Arce tenha sido ministro da Economia de Evo e o candidato de seu partido nas eleições de 2020, os dois se afastaram nos últimos anos.
O general vinha dizendo que Evo “não pode mais ser presidente deste país”, referindo-se a uma suposta ingerência do ex-presidente no governo.
Em uma entrevista na segunda-feira (24), Zúñiga declarou: “Não permitirei que pisoteie a Constituição, que desobedeça o mandato do povo. As Forças Armadas são o braço armado do povo, o braço armado da pátria”.
Evo respondeu que ameaças desse tipo não têm precedente na democracia e pressionou o governo Arce, dizendo que se a fala não fosse desautorizada pelo presidente e pelo ministro da Defesa, “estará comprovado que na verdade estão autorizando um autogolpe”.
Nesta quarta-feira, Evo convocou apoiadores a uma “mobilização nacional pela democracia” contra “o golpe de Estado encabeçado pelo general Zúñiga” e convocou uma greve geral com bloqueio de rodovias. “Não permitiremos que as Forças Armadas violem a democracia e intimidem o povo”.
Reação Internacional
O secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), o uruguaio Luís Almagro, condenou a movimentação do Exército, afirmando que a Força “deve se submeter ao controle civil legitimamente eleito”.