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INCÊNDIO E PÂNICO Hospitais públicos de Campo Grande continuam sem alvará dos bombeiros Santa Casa teve documento provisório até abril e tenta definitivo, já HU e Regional devem passar por vistoria 28 OUT 2020 • POR Daiany Albuquerque • 09h00

Nenhum dos três hospitais públicos de Campo Grande, Santa Casa, Hospital Universitário e Hospital Regional, receberam certificação do Corpo de Bombeiros contra incêndio e pânico, ao menos não o definitivo.  

Em outubro do ano passado a Santa Casa conseguiu o provisório, com validade de três meses, em janeiro deste ano o documento foi renovado por igual período, mas ainda havia a necessidade de adequações na estrutura da unidade para conseguir o definitivo. 

A assessoria do hospital não soube informar, até o fechamento desta matéria, se o documento foi validado novamente.

No início deste ano, o Correio do Estado já havia informado a situação em reportagem publicada em janeiro. Dentro desses 10 meses, nenhum avanço em relação à certificação foi feita nas três unidades.

Desde 2013, Mato Grosso do Sul tem código de segurança contra incêndio, pânico e outros riscos que delimita todas as obrigações em prédios, instalações e áreas de risco. 

Neste ano, algumas adequações neste documento foram feitas, mas a obrigatoriedade dele permanece.

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UNIVERSITÁRIO

No caso do Hospital Universitário, a burocracia é um dos motivos de o centro médico não ter o documento. 

Segundo o comandante do 1º Grupamento de Bombeiros, tenente-coronel Waldemir Moreira Júnior, responsável pela vistoria no local, na segunda-feira (26) foi feita uma reunião com a direção da unidade.

a previsão é de que ainda nesta semana uma vistoria seja realizada no local para que possa ser emitido o documento.

“Será feita uma vistoria para apontamentos das medidas mitigatórias para buscar essa certificação”, afirmou à reportagem o tenente-coronel.

Em contato com a assessoria e imprensa da unidade, o Correio do Estado foi informado de que o processo de compra para a aquisição de placas refletivas a serem colocadas nos corredores, com previsão para sair este ano, não foi efetuado.

Segundo o hospital, a compra seria realizada com outra unidade administrada pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), mas, com a pandemia, muitas compras atrasaram. E ainda não há previsão para que essa seja feita.

Mesmo assim, o hospital já fez as outras adequações que eram necessárias, como a criação de uma brigada de incêndio entre servidores da unidade. O centro médio, porém, nunca teve essa certificação.

REGIONAL

No caso do Hospital Regional, a vistoria também fica a cargo do 1º Grupamento de Bombeiros e, segundo Moreira, será marcada uma reunião com a diretoria para tratar sobre o tema.

Hoje, esse é o hospital público mais atrasado nas tratativas com o Corpo de Bombeiros sobre as adequações para conseguir a certificação da corporação. 

O prédio possuía um projeto aprovado, entretanto, em vistoria feita no ano passado, foi encontrado incongruências entre o que estava no projeto e o que havia realmente na unidade.

Segundo os bombeiros, isso ocorreu por mudanças feitas na unidade, entre reformas e ampliações.  

SANTA CASA

O maior hospital de Mato Grosso do Sul, a Santa Casa, estava há seis anos sem conseguir a certificação, o que mudou no ano passado, quando a unidade conseguiu o documento de forma provisória, já que várias medidas ainda precisavam ser feitas.

Em outubro do ano passado o jornal detalhou que o hospital não tinha rampas entre os andares, o que poderia impossibilitar, em caso de incêndio, a retirada dos pacientes que precisariam continuar em macas, já que o uso dos elevadores não é recomendado.

Outro problema grave apontado é de que as portas corta-fogo, usadas para impedir que incêndios avancem ou que a fumaça se alastre para outros cômodos, ficavam constantemente abertas, segundo servidores da unidade.

Agora, a assessoria da unidade garante que regularmente são feitas simulações de incêndio no prédio, que possui brigada 24 horas. Nas simulações, ainda conforme o hospital, é checada a situação das mangueiras e dos alarmes de incêndio.

Em julho de 2017, um princípio de incêndio que ocorreu em uma sala de descanso da equipe – no terceiro andar do prédio do hospital, no setor da maternidade – mobilizou funcionários e acompanhantes. 

Em fevereiro de 2019, outro princípio de incêndio assustou pacientes do Prontomed, que atende usuários de planos de saúde.

A única estrutura dentro do complexo hospitalar da Santa Casa que tem liberação é a Unidade de Trauma, inaugurada em março de 2018 e que passou a receber pacientes em setembro daquele ano.

PARTICULARES

No caso dos hospitais particulares de Campo Grande também há dificuldade em obter o documento definitivo. 

As unidades da Cassems e da Unimed informaram que tem o certificado contra incêndio e pânico provisório, mas que estão em processo para conseguir o definitivo.

“O Hospital Cassems de Campo Grande informa que, no momento, possui o alvará provisório contra incêndio e pânico e que está realizando adequações em sua estrutura física para cumprir todas as normas de segurança exigidas pelo Corpo de Bombeiros do Estado de Mato Grosso do Sul. Assim que as adequações forem feitas, haverá nova vistoria”, informou a Cassems, em nota.  

Já a Unimed disse que o “Hospital Unimed Campo Grande é totalmente equipado e capacitado para prestar o melhor atendimento, seguindo todos os protocolos exigidos pelo Corpo de Bombeiros Militar”.  

“O hospital tem certificado de vistoria provisória desde 2015, quando iniciou o seu projeto de ampliação, que ocorre até os dias atuais”, completou a nota. 

Tragédias mostram necessidade do documento

A busca por um alvará em unidades hospitalares têm se mostrado cada vez mais importante, com as recentes tragédias que ocorreram em unidades de outros estados. Ontem, duas pessoas morreram em um incêndio no Hospital Federal de Bonsucesso, na zona norte do Rio de Janeiro. 

Uma delas era uma mulher de 42 anos que estava em estado grave da Covid-19 e faleceu durante o processo de transferências dos pacientes para o Hospital Municipal Ronaldo Gazolla, em Acari. A unidade incendiada não tinha alvará do Corpo de Bombeiros.

As chamas de ontem começaram no prédio 1 da unidade, no qual estão as enfermarias e o Centro de Tratamento Intensivo (CTI). Ao todo, 162 pacientes deixaram o local, sendo que 66 foram removidos para outros hospitais com o auxílio do Samu.  

Oito pessoas diagnosticadas com Covid-19 foram transferidas para o Leblon, na zona sul, e para Acari, incluindo a mulher que morreu.  

No ano passado Hospital Badim, também no Rio de Janeiro, pegou fogo, o que resultou em 19 pessoas mortas, em sua maioria, idosos. O incêndio aconteceu no dia 12 de setembro de 2019 e começou com um curto-circuito no gerador, que ficava no subsolo da unidade.  

A fumaça se espalhou rápido nos andares superiores do centro médico e os pacientes  internados tiveram de ser retirados às pressas do local. (Com Estadão Conteúdo)