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INVESTIGAÇÃO Traficantes de Ivinhema tinham contato com facção de SP e fornecedor na fronteira Na prisão de um dos envolvidos no município, juíza entendeu que influência de investigado poderia resultar em fuga 18 OUT 2024 • POR Daiany Albuquerque • 09h00
A Operação Defray foi realizada pela Polícia Federal (PF) na última terça-feira (15)   Foto: PF/Divulgação

Durante a Operação Defray, realizada pela Polícia Federal (PF) na terça-feira, em Mato Grosso do Sul, Eldo Andrade Aquino foi preso sob a suspeita de integrar organização criminosa de Ivinhema envolvida com o tráfico de drogas.

Segundo a Justiça Federal, o grupo teria contatos em São Paulo que levam a crer na relação com a facção Primeiro Comando da Capital (PCC) e traficantes da fronteira.

No mandado de prisão preventiva de Eldo, proferido pela juíza Ana Claudia Manikowski Annes, titular da 2ª Vara Federal de Ponta Porã, a possibilidade de fuga por conta dos “contatos” do suposto traficante foram levados em consideração na decisão.

“Os indícios colhidos apontam no sentido de que Eldo desenvolve profissionalmente as atividades ilícitas, ou seja, é necessária a tutela da ordem pública. Além disso, os contatos de Eldo, em São Paulo e com o exterior [local de proveniência do entorpecente] geram risco real de fuga, em prejuízo da instrução processual e da aplicação da lei”, diz trecho do mandado de prisão preventiva.

A operação é um desdobramento da Operação Lepidosiren, realizada no dia 8 de agosto. Na ação, foi apreendida a caminhonete do prefeito de Ivinhema, Juliano Ferro (PSDB), uma Silverado avaliada em R$ 519 mil, comprada no começo deste ano.

Autointitulado “o mais louco do Brasil”, o prefeito já havia tido a casa apreendida na primeira operação, que também tinha como alvo a quadrilha de tráfico transnacional de drogas.

Na operação de terça-feira, o mandado de busca e apreensão permitia o “bloqueio de bens totalizando R$ 100 milhões, pertencentes aos envolvidos”.

Na casa de Eldo, a polícia apreendeu dois celulares (um dele e outro de sua esposa) e cinco cheques de várias instituições bancárias, que juntos totalizaram R$ 107,5 mil.

“A investigação aponta a existência de uma associação criminosa responsável pela organização, logística e financiamento do tráfico transnacional de entorpecentes local”, dizia trecho de nota da PF sobre a operação.

“Resta demonstrado pela narrativa acima, na qual relatado material indiciário envolvendo os suspeitos em conduta criminosa de tráfico de drogas, com possibilidade de existência de associação criminosa ou organização criminosa”, relatou a juíza em outro trecho de sua decisão.

LEPIDOSIREN

A operação de agosto foi batizada de Lepidosiren em referência ao chefe da quadrilha que atua na região, que é conhecido como Piramboia (Lepidosiren é o nome científico do peixe piramboia). Ele conseguiu escapar, mas sua mulher foi presa.

Durante a Operação Lepidosiren, desencadeada no dia 8 de agosto, a PF prendeu Luiz Carlos Honório e cumpriu oito mandados de busca e dois de prisão em Ivinhema e Angélica.

A Justiça Federal determinou ainda o sequestro de pouco mais de R$ 33 milhões pertencentes ao grupo criminoso. A investigação começou após um flagrante no dia 8 de julho de 2021, em Ponta Porã. 

Naquele dia, descobriu-se a existência de um grupo “responsável pela logística e tráfico de drogas. Durante o citado flagrante, foram apreendidas 3,4 toneladas de maconha”, informou a PF em seu site, no dia 8 de agosto. 

“MAIS LOUCO”

Em seu depoimento, um dos presos, Luiz Carlos Honório, revelou que fizera uma série de negócios como Juliano Ferro. Em 2021, por exemplo, vendeu para ele uma casa de R$ 170 mil.

O prefeito, por sua vez, diz que pagou R$ 750 mil. É nesta casa que o prefeito reside desde 2021, a qual foi apreendida em agosto e segue registrada no nome do suposto traficante. 

Em seu depoimento no dia 3 de setembro, Juliano Ferro afirmou que entregou um imóvel por R$ 400 ou R$ 500 mil no negócio da casa que fizera em 2021, quando ainda era vereador.

No dia 8 de agosto, a Justiça Federal de Ponta Porã já havia bloqueado, pelo menos, oito imóveis pertencentes à quadrilha comandada por Piramboia – um deles foi a casa em que o prefeito reside.

A caminhonete, por sua vez, foi adquirida em janeiro e não havia sido quitada. À PF, o prefeito informou que deu um veículo Troller, de cerca de R$ 140 mil, e um cheque de R$ 380 mil, que seria liquidado agora em dezembro ou em janeiro do ano que vem.

O dinheiro para quitar esse cheque, segundo Honório, o prefeito conseguiria com a venda de rifas. Atualmente, o “mais louco do Brasil” está vendendo rifas para sortear um Landau “relíquia”. 

Oficialmente, o prefeito entrou na mira da PF porque não declarou à Justiça Eleitoral a posse de uma caminhonete Dodge Ram e da Silverado. Em seu depoimento, no começo de setembro, alegou que elas não estavam em seu nome, e por isso não fez a declaração. 

No dia 6, Juliano Ferro foi reeleito com 81,29% dos votos válidos em Ivinhema, tendo a votação mais expressiva da história do município. O “mais louco do Brasil” teve 12.838 votos e Fábio do Canto, seu oponente, 2.954 votos.

Saiba

Segundo a Polícia Federal, existe em Ivinhema “uma associação criminosa responsável pela organização, logística e financiamento do tráfico transnacional de entorpecentes local” e que tem contato com facção paulista.

*Colaborou Neri Kaspary

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