Cícero Faria, Dourados A exemplo do que ocorreu nesta safra em alguns Estados agrícolas, em Mato Grosso do Sul houve o registro de ataques de uma praga nova para a região, a lagarta preta (Spodoptera cosmioides) nas lavouras de soja. Os danos foram pequenos, mas foi um sinal de alerta para os próximos anos, porque o seu controle com inseticida é difícil. Segundo o agrônomo Ângelo Ximenes, presidente do Grupo Plantio na Palha (GPP), de Dourados, a lagarta preta é uma praga descrita cientificamente e foi notada nesta safra de soja quando os agricultores e técnicos fizeram a ‘batida de pano’ para contar o numero de insetos nas lavouras, para fazer a pulverização com inseticida. Essa lagarta, disse o agrônomo, ataca nas fases vegetativa e reprodutiva. Quando as plantas da soja fecham as ‘ruas’ das lavouras, a praga fica nas partes mais baixas dificultando a sua localização. “Também é preciso saber qual o produto químico a ser usado e a sua dosagem”, explicou. Em regiões agrícolas de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, ocorreram surtos da lagarta preta causando perdas aos produtores, por se alimentar de plantas de valor comercial, como gramíneas e leguminosas, caso da soja. No Brasil ela tem como hospedeiros o pimentão, o tomateiro, o algodoeiro, mudas de abacaxizeiro, o arroz, a cebola, mudas de eucalipto, o mamoneiro, a mangueira e as hortaliças em geral. Constitui, juntamente com Spodoptera eridania (Cram.), o principal grupo de lagartas que atacam vagens de soja. Segundo o agrônomo e doutor em Fitotecnia, José Luis da Silva Nunes, em entrevista ao Agrolink, até o início da década não havia registros da ocorrência de danos da praga em níveis econômicos para a cultura da soja. Porém, em algumas fazendas do Brasil, principalmente em São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, ocorreram surtos da lagarta preta causando severos danos à cultura. “A provável causa dos surtos seria a aplicação frequente de inseticidas químicos de amplo espectro, que teriam eliminado os inimigos naturais que mantinham a população da espécie em equilíbrio. Um exemplo semelhante ocorreu em Honduras, no ano de 1996, quando a praga causou danos significativos em lavouras de milho e sorgo em estágio inicial de desenvolvimento, quando se fazia o controle de ervas daninhas com herbicidas”, explicou Silva Nunes. Também as condições climáticas de uma região podem ser fatores determinantes para a ocorrência desta praga, pois afetam diretamente o desenvolvimento e o comportamento do inseto, com a temperatura entre 15°C e 38°C. Com isso, acrescentou o fitotecnista, o inseto passou a ser encarado como um problema mais sério já que não existem produtos registrados para o controle desta espécie. O produtor acaba utilizando defensivos indicados para combate de outras lagartas que atacam a soja. A espécie apresenta grande variação de coloração na fase larval, o que dificulta a identificação da espécie. As lagartas depositam os ovos massa sobre as folhas baixas da planta ou sobre o solo. Após a eclosão, as lagartas possuem cor geralmente marrom, modificando a coloração para preta, com listas longitudinais e marrons.