Na era das redes sociais, da internet onipresente e após uma pandemia global, somos confrontados com uma realidade cada vez mais marcada pela superficialidade.
Os versos melancólicos da música “Muros & Grades”, dos Engenheiros do Hawai, ecoam até hoje os sentimentos de desconexão e vazio que muitos experimentam nas grandes cidades deste mundo moderno.
Nas metrópoles, onde o ritmo frenético do dia a dia domina, o medo muitas vezes nos conduz a construir muralhas virtuais e físicas em torno de nós mesmos.
Essas barreiras, embora nos proporcionem uma sensação de segurança, também nos isolam da verdadeira conexão humana e nos deixam preenchidos por uma vida vazia e desprovida de significado.
A pandemia, com seu isolamento forçado e a dependência ainda maior das tecnologias digitais para manter contato com o mundo exterior, exacerbou essa sensação de superficialidade.
Enquanto nos conectávamos virtualmente, muitas vezes nos distanciávamos emocionalmente, perdendo-nos em um mar de atualizações de status e selfies cuidadosamente editadas.
A vida pós-pandemia trouxe consigo uma nova consciência sobre a fragilidade da existência humana, mas também destacou a superficialidade que permeia muitos aspectos de nossas vidas.
O culto à imagem, ao sucesso instantâneo e à busca incessante pela validação externa se tornaram os pilares de uma sociedade que muitas vezes confunde quantidade com qualidade, e popularidade com significado.
Nesse cenário, as redes sociais desempenham um papel ambivalente.
Por um lado, oferecem uma plataforma para expressão pessoal e conexão com os outros; por outro, alimentam uma cultura de comparação constante, onde a felicidade é medida pelo número de curtidas e seguidores.
A superficialidade se manifesta não apenas nas interações online, mas também na vida offline.
Os muros e grades que nos cercam nas grandes cidades são símbolos tangíveis dessa desconexão e isolamento.
Embora nos protejam de ameaças externas, também nos impedem de verdadeiramente nos envolvermos com o mundo ao nosso redor, criando uma sensação de alienação e solidão.
É preciso reconhecer que viver uma vida superficial não é uma escolha consciente, mas sim uma consequência da sociedade em que vivemos.
A pressão para se encaixar em padrões predefinidos de sucesso e felicidade muitas vezes nos leva a sacrificar nossa autenticidade em prol da aceitação social.
No entanto, a busca por uma vida mais significativa e autêntica é possível.
Isso requer um esforço consciente para desafiar as normas impostas pela sociedade e se reconectar com nossos valores mais profundos.
Significa priorizar conexões reais sobre likes virtuais, cultivar relacionamentos genuínos e encontrar um propósito que vá além das aparências.
Em última análise, a vida pós-redes sociais, internet e pandemia é um convite para mergulharmos nas profundezas da nossa própria humanidade, em vez de nos contentarmos com as superfícies brilhantes e vazias que a sociedade moderna tantas vezes nos oferece.
É um chamado para abraçarmos a complexidade da existência humana e encontrarmos significado na imperfeição, na vulnerabilidade e na verdadeira conexão com os outros.
DIJAN DE BARROS