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"Continuamos a morrer. Os médicos não conseguem chegar, não tem apoio, nem medicamentos"

do líder e xamã do Ianomâmis, DAVI KOPENAWA

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“Continuamos a morrer. Os médicos não conseguem chegar, não tem apoio, nem medicamentos. Não tem transporte, nem gasolina. E os garimpeiros estão voltando. Lula está devagar, muito devagar”, do líder e xamã do Ianomâmis, DAVI KOPENAWA.

Quase chegando o período da safra 2023-2024, o Ministério da Agricultura está mais do que preocupado: entre janeiro e junho deste ano, houve queda de 5% no desembarque de fertilizantes nos portos brasileiros na comparação com os primeiros seis meses de 2022. 

Mais: esse declínio pressionará para cima os preços de insumo. A principal razão é a guerra Rússia-Ucrânia. A produção russa caiu 8,3% e o medo é que a redução da oferta da Rússia, de onde vem um quarto do fertilizante consumido no Brasil, afete o agronegócio num momento-chave. 

In - Forro de PVC

Out - Forro de fibra mineral

PSB na roda

As reclamações de Carlos Siqueira, presidente do PSB, contra partidos de centro no governo, faz sentido: os cargos ocupados por seu partido foram colocados na mesa de negociação pelo próprio Lula. O presidente avalia que sua prioridade é aliciar partidos de centro, para que integrem uma bancada de fidelidade ao governo, como é o caso do PSB. E Lula acha que os socialistas estão bem atendidos: diz que ressuscitou Geraldo Alckmin tornando-o vice e ministro. Não é bem assim: Alckmin é considerado uma das peças mais importantes do governo. Enfrenta difíceis missões domésticas enquanto o petista viaja – e muito. 

Ideia de quem

Aliados mais lúcidos de Lula é que tiveram a ideia de colocar Geraldo Alckmin na vice: faria um contraponto às eternas acusações de corrupção que o atual presidente e seu partido não conseguiram frear às vésperas do período eleitoral e como pré-candidato ao Planalto. A fórmula até deu certo e para Lula “demorou para cair a ficha”. Acabou dando o Ministério de Desenvolvimento Social, Indústria e Comércio para Alckmin e vive repetindo que “é meu vice porque é um homem de caráter e decente”. Tem cuidados especiais com ele. 

Agentes provocadores
 

O depoimento do ex-diretor-adjunto da Abin, Saulo Cunha, na CPI de 8 de janeiro, está sendo considerado um indício de que o atual governo pode ter estimulado os atos de vandalismo por omissão e “agentes provocadores” de efeito manada para criminalizar a oposição. Imagens de câmeras (já exibidas na TV) mostram o general Gonçalves Dias, então no comando do GSI, conversando com invasores no Planalto sob ataque. Cunha teria alertado G.Dias sobre o risco de vandalismo no próprio dia 8 de janeiro. O ex-diretor da Abin queria uma sessão secreta com os membros da CPI, não deu e acabou recebendo elogios do bloco bolsonarista. 

Arrependidos
 

Nas redes sociais proliferam os comentários sobre Carla Zambelli (PL-SP): entre eles, um que ironiza que 946.244 eleitores de São Paulo estão chorando de arrependimento. É o volume que ela recebeu de votos nas últimas eleições à Câmara (foi a segunda mais votada, perdendo apenas para Guilherme Boulos). Joyce Hasselmann, que também teve super votação no passado e hoje se dedica a um tipo de academia, espalha que Zambelli  é “biruta e bandida”. O hacker Walter Delgatti contou tudo o que sabia, de mentira sobre o sistema de votação até falsas notícias sobre Alexandre de Moraes, mais atos conspiratórios. Detalhe: Jair Bolsonaro quer distância total dela. 

Cassação
 

O PL não deverá fazer nenhum esforço para proteger Carla Zambelli em eventual cenário de cassação. Além do medo de uma eventual delação de Delgatti, o PL considera que Zambelli perdeu crédito no ano passado, em especial com a perseguição a mão armada a um crítico. É alvo de inquérito no STF e pode virar ré. Zambelli é acusada de porte ilegal de arma de fogo (pena de 2 a 4 anos de prisão) e constrangimento ilegal mediante arma de fogo (3 meses a um ano).

Novo álbum

A cantora Iza, 32 anos, lançou seu novo (e segundo) álbum nas plataformas digitais de música que é composto de 13 músicas, com cinco participações: MC Carol  em Fé nas Maluca, clipe que foi lançado na semana passada; L7nnon em Fiu Fiu; Russo Passapusso  (que faz parte da banda BaianaSystem)  no hit Mega da Virada; do rapper mineiro Djonga  em Sintoniza; e Bomzão que conta com a participação da cantora e atriz nigeriana Tiwa Savage. Para a divulgação do novo trabalho batizado de ‘Afrodhit’ postou em suas redes sociais  uma foto em cima de uma pedra, nua (cobrindo partes estratégicas) e com os cabelos claros, soltos, que lembra uma das figuras mais clássicas da arte, a Vênus de Boticelli. Em entrevista ao Fantástico Iza comentou que a música Exclusiva teve como inspiração o seu novo namoro com o jogador Yuri Lima.

“Eu fiz para esse novo momento que estou vivendo, que é estar apaixonada, sentir que estou amando de novo, me sentir amada de novo, descobrir o sexo mais uma vez. Energia sexual é energia criativa também. Tenho certeza de que isso fez diferença para a criação desse álbum”. E completou: “Dá pra ver na minha cara. Eu estou apaixonada, estou muito feliz. É muito bom admirar alguém. E quando a gente quer, a gente faz dar certo. Amar de novo está sendo inspirador, curativo, incrível, revolucionário. É uma descoberta de mim, de estar apaixonada por mim”.


Troca-troca 
com vítimas

 

O Planalto tem preferência em nomear uma mulher para o lugar de Rita Serrano, presidente da Caixa Econômica Federal e nesse caso, o nome mais cotado é o de Margarete Coelho, que tem a confiança de Arthur Lira – e um passado bolsonarista. Diante desse quadro, o PP já busca outro cargo para Nelson Antônio de Souza, inicialmente indicado para a CEF (já foi presidente do Banco do Nordeste). A saída pode ser a Sudene, que é um downgrade, mas tem Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste, com orçamento de R$ 34 bilhões para este ano. Esse Plano B negociado com o PP tem um problema: a eventual nomeação de Nelson de Souza para a Sudene significaria a saída de Danilo Cabral, que assumiu a chefia do órgão há menos de dois meses. Cabral foi indicado pelo PSB, partido do vice-presidente Geraldo Alckmin e importante aliado do PT no Nordeste. 

A serviço do bem


O programa Encontro com Patricia Poeta, reuniu na última quarta-feira (2) duas campeãs do “BBB”, Thelminha Assis (à esquerda), que venceu a edição de 2020 e Amanda Meirelles (à direita) campeã da edição deste ano. Apesar de terem falado da trajetória e passagem delas pela casa mais vigiada do Brasil, as duas que são médicas (Telma é anestesiologista e Amanda intensivista e pós-graduada em dermatologia) falaram sobre saúde e do novo tratamento para o câncer de pele. Thelminha (que substitui Valéria Almeida que está de férias), brincou: “Sofá de milhões”. Mais: as duas descartaram abandonar a carreira médica e disseram que vão tentar equilibrar  a profissão com o entretenimento, aproveitando o sucesso, para poder informar as pessoas, sobre como cuidar da saúde. 


Quase um replay

É um filme já visto no primeiro mandato de Lula: às vésperas de assumir a presidência vetou acordo entre José Dirceu e Michel Temer para dar dois ministérios ao então PMDB. Um ano mais tarde, precisava reforçar sua base no Congresso e enfiou o PMDB no ministério. Hoje, é quase um replay. Para se ter ideia da gula atendida: o Centrão não ficará apenas com a presidência da Caixa, mas também com 11 de suas vice-presidências. Será mantida apenas a vice da Habitação, Inês Magalhães.

    
Petroverde

Jean Paul Prates vai ter de contentar a União e seus acionistas majoritários. O presidente da Petrobras vai secar os dividendos da estatal para cumprir a política de investimentos com pé firme na renovação da matriz energética. Projetos de energia verde estão sendo tratados com outras empresas e a produção de hidrogênio verde é a parada final. Até se pensa em criar uma empresa subsidiária com nome diferente. A experiência do passado, quando se pensou em rebatizar a empresa de Pebrobrax, foi um desastre. Uma Petroverde, anexada à holding, pode emplacar.

 

 

Mais demissões
 

A exemplo de suas principais concorrentes, como Magazine Luiza e Americanas, a Via, dona das Casas Bahia e do Ponto (antigo Ponto Frio) tem acusado os efeitos da crise no varejo. No primeiro trimestre do ano, teve um prejuízo de R$ 297 milhões contra um lucro de R$ 18 milhões no mesmo período de 2022. Agora, a empresa atravessa um período de mais demissões e fechamento de lojas deficitárias, única alternativa vista pela rede varejista que, à propósito, não se conforma em ver a Americanas ser tratada a pão de ló, malgrado o mal que causou. 

BOM HUMOR
 

Está num trecho do livro O que vi dos presidentes – Fatos e versões (Editora Planeta), livro póstuma de Cristina Lobo e finalizado por Diana Fernandes: conta que FHC, que nunca negou sua imodéstia, afirmou, certa vez, ser mais inteligente que vaidoso. Depois de tomar posse, ao se encontrar com sua amiga Ruth Escobar, ouviu que ela não sabia como se dirigir ao então mandatário. Aí FHC não resistiu e brincou: “Chame-me de Alteza”. O livro está chegando às livraria e traça um panorama de todos os governos pós-ditatura, de Sarney a Bolsonaro.

MISTURA FINA
 

DEPOIS de baixar a desconfiança da Faria Lima, o ministro Fernando Haddad (Fazenda) agora vai tentar fazer o mesmo em Wall Street. Investidores estão organizando uma agenda de encontros do ministro em Nova York. A ida aos Estados Unidos deverá acontecer depois da votação do arcabouço fiscal na Câmara, prevista para segunda semana de agosto. Seria a primeira viagem internacional de Haddad após recente elevação do rating do país pela Fitch e da aprovação da primeira etapa da reforma tributária. De qualquer maneira, ele passará ser o primeiro ministro da Fazenda celebrado pela banca estrangeira nos 200 dias no governo. 

O DISCURSO de Fernando Haddad (Fazenda) depois do corte de 0,5% na taxa básica de juros (Selic) trouxe sinalizações ao Banco Central e a Roberto Campos Neto. Ele passou a ideia de otimismo e pacificação. “Estamos na direção certa e mais aliviados”. O mercado esperava um corte mais tímido no início do ciclo de baixas. Haddad tem um plano de queda da Selic de 0,50 ponto percentual a cada reunião mensal do Copom até o final do mandato de Campos Neto na presidência do BC. Até toparia uma queda maior de 0,75%, menor nem pensar. 

O GOVERNADOR  de Minas Gerais, Romeu Zema tem mantido conversações com a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, na tentativa de acelerar a repactuação de acordo com a Samarco (leia-se Vale e BHP), referente à tragedia de Mariana, em 2015. Zema considera Marina uma aliada e não pode dizer o mesmo de Rui Costa (Casa Civil). Ele vem atrasando a assinatura do acordo propositalmente. Tem protagonizado manobras para estender o pagamento de indenizações a cidades do sul da Bahia, seu estado. A repactuação da Samarco alcança apenas Minas Gerais e Espírito Santo. 

NO primeiro semestre de 2023, servidores do Senado gastaram R$ 1.147.703,67 só com passagens aéreas. O valor considera apenas o gasto com servidores e senadores estão fora dessa conta. O bilhete mais caro, R$ 16,5 mil, bancou a passagem de um servidor para Portugal. Foi a um fórum promovido pela escola do ministro Gilmar Mendes e familiares. 

DIAS Toffoli, ministro do STF, anulou as provas obtidas contra Sérgio Cabral em ação que o acusava de receber propinas da Odebrecht. O magistrado estendeu ao ex-governador do Rio os efeitos da decisão que declarou inválidos os elementos apresentados pela empreiteira em acordo de leniência e que embasaram, por exemplo, denúncia contra o presidente Lula. 

OS processos de registro de novos sindicatos estão suspensos até 4 de outubro. Uma portaria do ministro Luiz Marinho oficializou a paralisação. Para quem não tem ideia: de acordo com o Ministério do Trabalho, há no Brasil um total de 16.431 sindicatos, sendo 11.257 de trabalhadores e 5.174 de empregadores, fora confederações, federações e centrais sindicais. 

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CLÁUDIO HUMBERTO

"Nosso abraço, irmão Lula!"

Nicolás Maduro, ditador e fraudador de eleições na Venezuela, saudando o velho amigo

11/12/2024 07h00

Cláudio Humberto

Cláudio Humberto

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Lula e Dilma condecoraram ditadores e corruptos

A condecoração de Lula (PT) ao tirano deposto da Síria e a recepção de chefe de Estado ao ditador Nicolas Maduro durante mera visita de trabalho não foram casos isolados de bajulação a figuras abomináveis. A Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul, mais alta condecoração brasileira, foi usada por Lula para homenagear também o francês Nicolás Sarkozy, que acabaria preso por corrupção, assim como Dilma Rousseff o fez em 2015 a Cristina Kirchner, argentina também sentenciada por ladroagem.

Até o ‘carniceiro’

A condecoração a Bashar Al-Assad, o “carniceiro de Damasco”, com a Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul, cobriu a diplomacia de vergonha.

Agressor premiado

O ex-presidente argentino Alberto Fernández, indiciado por agredir a ex-mulher, suspeito de corrupção, também foi condecorado por Lula.

Honraria a Fujimori

O tucano FHC também fez a presepada de conceder a Ordem do Cruzeiro do Sul ao peruano Alberto Fujimori, que cumpriu longa pena.

Anulações difíceis

O Senado anularia em 2002 a comenda de Fujimori, mas a honraria ao “carniceiro”, proposta por Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), não anda.

PT não quer nem saber de Alckmin assumir o cargo

A cirurgia de Lula no cérebro confrontou o PT com seu maior fantasma: a posse do vice Geraldo Alckmin. Já aconteceu antes em sua trajetória, quando vice de Mário Covas, falecido no cargo. Os petistas até toleram, mas não confiam em Alckmin. Ontem cedo, com aval de Janja, “ministros da casa” plantaram que Lula não se afastaria do cargo. Ele está na UTI, incapacitado de tomar decisões, mas o vice foi impedido de exercer seu papel constitucional. Alckmin não reclama. Coisa de quem sabe esperar. 

Vice de fato

Ao vice são confiados só fatos irrelevantes, como ontem, no Rio, com o premiê eslovaco. A “vice” Janja representa Lula em eventos midiáticos.

Ela se impõe

Janja se impôs para representar relutante marido na visita à tragédia gaúcha, em setembro de 2023, e na abertura das Olimpíadas de Paris.

Virou piada

A “vingança” ficou por conta dos criadores de memes, das montagens mostrando o vice “atleta” alongando ou posando com faixa presidencial.

Osmar tinha razão

Há 47 dias, ao Diário do Poder, o deputado e médico Osmar Terra (MDB-RS) alertou para risco de piora no quadro de saúde de Lula em razão da queda no banheiro. Não deu outra.

Foi chocante

Arthur Lira e Rodrigo Pacheco saíram impactados da reunião em que Lula começou a apresentar sintomas da hemorragia cerebral que o levou à cirurgia. Meio devagar, o presidente chegou a dormir durante a reunião.

Não faz tempo

A expectativa é que o Comitê de Política Monetária aumente a nova taxa Selic de 0,75% a 1 ponto percentual. A última vez que houve aumento da taxa em mais de 0,75 ponto foi em maio do ano eleitoral de 2022.

Veja bem

O presidente do Supremo Tribunal Federal, Luís Roberto Barroso, deveria começar dando o exemplo e obrigando o uso de câmeras corporais pelos policiais que fazem a segurança dos ministros do STF.

Salgou o churrasco

Coitado de quem espera pela promessa de “churrasco e cervejinha”: o preço do grupo “alimentação e bebidas” foi o que mais subiu em novembro, diz o IBGE. Só o preço das carnes subiu mais de 8%.

Malddad desagradou

O ministro Fernando Haddad (Fazenda) conseguiu o improvável com o corte de gastos fake: uniu direita e esquerda para descer a borduna na proposta. Esta semana, a turma do PSB apresenta projeto alternativo.

Empréstimo é dívida

O Senado autorizou três Estados a captarem empréstimos no exterior. Bahia, governada pelo PT, fará dois com o BID e o Fida; Ceará (PT) vai pegar dinheiro do Bird; e Paraíba, governada pelo PSB, com o Banco dos Brics. No total serão mais de US$705 milhões.

Baixa motivação

Foi cancelado debate na Comissão de Finanças e Tributação da Câmara ontem (10) sobre o impacto das apostas on-line no endividamento da população e na política de juros. Não há nova data para a discussão.

Pensando bem...

...com a “tabelinha” Lula-STF, quem precisa de Congresso legislando?

PODER SEM PUDOR

Um baiano nos pampas

Reza o folclore político que o gaúcho Getúlio Vargas arrumou encrenca com o general Flores da Cunha, em 1937, ao nomear o general Daltro Filho, soteropolitano, interventor no Rio Grande do Sul. “Que fizeste, Getúlio? Tu és um renegado!” Getúlio reagiu com naturalidade: “Ora, Flores, se um gaúcho pode governar o Brasil, por que um baiano não pode governar o Rio Grande?”

ARTIGOS

O mundo caótico das narrativas

10/12/2024 07h45

Arquivo

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Desde quando o mundo foi o mundo das realidades e da verdade em si? Tudo que nos chegou foi pelo processo de histórias mal engendradas, mal registradas e mal contadas. Toda a história da humanidade viajou no tempo por intermédio de narrativas, por intermédio de enunciadores que não a viveram. São elas que formaram o cerne de todas as entranhas culturais existentes no mundo. Toda nossa vida foi-nos traduzida pelos que nos precederam (lembranças são memórias atualizadas, nunca fiéis aos acontecimentos). Tudo o que deles sabemos, também o foi. Tenho insistido na tese de que a verdade, enquanto categórico universal, não nos seja acessível. 

Fatos são fenômenos irrecuperáveis na linha do espaço-tempo. Mesmo com o advento das novas mídias, “vê-se” o registro, mas não se pode recuperar a “realidade”, a “verdade” tal como se deu. Isso porque nossa capacidade de percepção do mundo é ínfima, parcial, individual: o que eu percebi, o que eu vi e o que eu inferi está absolutamente lincado a minha (in)capacidade de captar, deduzir, interpretar e enunciar o fato em si. O que vejo, creio, percebo, está contido no campo de minha potencialidade de perceber, interpretar e enunciar.

Vivemos, mesmo, mergulhados em um mundo caótico de narrativas. De enunciados e de enunciadores, a respeito da “verdade dos fatos” (inapreensíveis em si) vamos construindo narrativas possíveis dentro dos parâmetros que podemos ter. Nossas enunciações deixam nossas assinaturas, marcas e rastros de opinião, reescrevendo, diuturnamente, a história contada do nosso e único jeito de compreendê-la e transmiti-la. 

Tudo se apresenta como meras traduções. Metabolizamos o que capturamos de fora, por intermédio da filtragem do que temos por dentro. E nesse processo de captação e representação da realidade, a carregamos com pinceladas de uma cosmovisão personalíssima que constitui nossa lente de olhar o mundo. Tal como o observado vê o observador, o mundo traduzido, por recorrência de quem o captou, apresenta-se particularíssimo diante de nós.

Depois de Einstein e da física quântica, legaram um antecartesiano novo paradigma do encontro, no qual ambos (observador e observado) se auto modificam, todas as narrativas a respeito de tudo são possíveis.

Com isso, somos os que observam e os observados. Influímos e somos influenciados, modificamos o que captamos como realidade e verdade em si e as enunciamos conforme a capacidade que temos de interpretá-las e passá-las adiante. 

Somando-se ao conceito anterior, com relação à captação do mundo, a Semiótica (ciência dos signos, estudo de como lidamos com as representações) determinou que a apreensão da “realidade” se dá por intermédio de traduções sígnicas. O mundo que habitamos (e tudo que há nele) é único e individual. Vivemos a realidade que, potencialmente, podemos viver – “somos quem podemos ser” – por meio das significações que somos capazes de dar, seja com relação aos acontecimentos (aos fatos), às pessoas, à realidade, à “verdade”, à vida em si. 

Enunciadores-narradores de fatos e verdades – com nossos parcos recursos de captação, interpretação e compreensão – é o que somos. Tudo arrolado em um imenso caldeirão, no qual razão e emoção nos constituem enquanto humanos pensantes e sencientes. Somos, sim, complexidades (ainda ignorantes e narcísicas), as quais atribuímos uma capacidade que não temos. Tudo é e não é; existe e não existe, dependendo do filtro que temos e usamos. É a esse mundo de “enunciações”, “paradigmas”, “concepções” e “narrativas” que estamos todos subjugados e afetados.

Dotados da arrogante prerrogativa anacrônica de que somos capazes do que não temos condição de ser, ou seja, compreender o outro e o mundo que nos asfixia por si mesmo, tal como é, tal como somos, intérpretes do que nos chega – oriundo da esfera das significações – filtrado, de antemão, por nosso próprio lastro interpretativo. Reconhecer e conseguir vivenciar esse mundo de narrativas, talvez, seja a habilidade que precisamos reconhecer como de nossa natureza, para esse momento caótico de estar no mundo, que de toda forma é só nosso, visto que o real não existe.

A concepção que temos a respeito de tudo sempre será pessoal e intransferível. Enfim, tudo o que podemos acessar se dará, unicamente, por intermédio de traduções e de narrativas nossas e dos demais. A torre de babel não seria, assim, apenas um mito, talvez seja uma explicação.

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