Será que seria possível um dia um governo em que o desejo da maioria não fosse levado em conta, e sim a consciência determinasse o rumo das coisas? Isso seria justo ou injusto perante a sociedade? Esse questionamento já foi feito há muito tempo por um escritor e filósofo americano.
Há 170 anos, Henry David Thoreau se rebelava contra o adormecimento da curiosidade do ser humano, que se deixava levar pelas notícias dos rádios e jornais e conversas vazias dos botecos, sem se importar com o que seria verdade, mentira ou fantasia. Ele defendia que as pessoas também lessem livros, pesquisassem e discernissem o joio do trigo. Foi ele o criador da expressão “brain rot”, ou seja, “podridão cerebral” ao criticar a intensidade da massificação da comunicação.
Agora imaginem só o que diria hoje o sr. Henry David Thoreau diante desse turbilhão quase infinito que se chama rede social! Na época dele não existia internet, e o comportamento da massa alienada já o incomodava, tanto que se retirou da vida urbana, foi viver no meio rural e ali escreveu sua grande obra, o livro “Walden, ou A vida nos Bosques”, que viria interferir no modo de pensar de muita gente, inclusive de grandes pensadores e filósofos. A expressão “podridão cerebral” está na moda e recentemente foi escolhida como destaque do dicionário Oxford em 2024.
Mas o que vem ser exatamente isso? Quando a gente se dedica a acreditar piamente no que revela a mídia, nos conceitos dos “pseudos” analistas dos meios de comunicação, no que expressam as manchetes dos jornais, nas propagandas majestosas dos produtos que nos oferecem e até mesmo nos bate papos e conversas nas redes sociais, etc., sem se importar em criarmos uma consciência crítica do tema ou assunto que nos se apresenta, corremos o risco de nos tornarmos um zumbi humano, um alienado mental.
E como podemos evitar isso? Ironicamente, não é deixar de acessar as redes sociais, evitar a televisão, a mídia, ou seja, fugir da comunicação em massa para uma floresta isolada, como fez Henry Thoreau, até porque, hoje em dia, ninguém mais vive sem a internet. Nem o filósofo inglês pregava que se devia deixar de ler jornais. Para evitarmos o “brain rot”, devemos nos nutrir de conhecimento e sabedoria, que são diferentes um do outro. Não é ruim conhecer de tudo um pouco, mas é péssimo não usar a sabedoria para distinguir o que nos seja útil ou não. Uma boa opção é ler livros bons, jornais imparciais e isentos.
Quando deixamos a preguiça mental tomar conta de nossa mente e ela só se alimenta das coisas que recebe via rede social, mídia em geral, estamos cedendo ao conformismo e, muitas vezes, até o que não é justo. Se só pensamos em adquirir, consumir, “estar na moda”, adorar futilidades, etc., deixamos de ser nós para ser o que querem nos tornar, ou seja, um Frankenstein diante de tanta comunicação em massa que nos transmitem.
É importante reprisar que já não podemos mais viver sem as redes sociais, e elas são importantes nas vidas de milhões ou bilhões de pessoas no planeta. Contudo, é inegável que as pessoas que as usam, em sua grande maioria, automatizaram-se e perderam muito de suas humanidades. Se Henry Thoreau fosse vivo hoje já nem diria que essas pessoas tinham o cérebro podre.
Talvez dissesse que elas já nem tinham mais o cérebro, dado os intensos efeitos negativos ou positivos das redes sociais, da mídia, etc. Voltando ao início deste artigo e reportando sobre a possibilidade de um governo em que a maioria não tinha importância, e sim a consciência determinasse a forma de governar, eu diria que ótimo seria um governo em que a maioria tivesse consciência das coisas corretas e justas. Aí sim seria o ideal, mas isso é utopia, principalmente diante dos rumos que as coisas estão tomando nesse planeta Terra.
A verdade é que os “cérebros podres” estão tomando conta da grande maioria das ações e reações dos habitantes terrestres e parece que não há nada a se fazer. Eu levanto minha mão, pois ainda não apodreci o cérebro, mas isso não me torna melhor do que ninguém. Apenas não creio em tudo que vejo, que escuto e que leio. Ainda gosto de pensar. Ainda.