Política

ORÇAMENTO SECRETO

Congresso muda regras de emendas de relator em reação a julgamento do STF

Supremo Tribunal Federal julga a constitucionalidade dessas emendas

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O Congresso Nacional aprovou nesta sexta-feira (16) o projeto de resolução que propõe critérios para a distribuição das chamadas emendas de relator-geral do Orçamento.

A proposta concentra parte dos recursos nas mãos dos chefes das duas Casas legislativas e divide o montante de acordo com o tamanho das bancadas partidárias.

O projeto de resolução é uma reação da cúpula do Congresso ao STF (Supremo Tribunal Federal), que analisa a constitucionalidade dessas emendas -usadas como moeda de troca nas negociações políticas entre Planalto e Congresso.

O texto vem sendo costurado nos últimos meses pelos presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), para tentar esvaziar os questionamentos dos ministros ao mecanismo.

A votação estava prevista para a próxima terça-feira (20), mas foi antecipada para esta sexta pouco após o fim da sessão do STF desta quinta (15).

A sessão foi suspensa com o placar de cinco votos contrários ao uso das emendas contra quatro favoráveis, e será retomada na segunda (19).

Em meio à discussão do projeto de resolução no Congresso, o ministro Ricardo Lewandowski pediu que o julgamento fosse suspenso "devido à complexidade da matéria". Faltam os votos dele e de Gilmar Mendes.

O projeto de resolução foi aprovado pelos deputados federais por 328 votos a favor, 66 contrários e quatro abstenções -eram necessárias 257 manifestações favoráveis. No Senado, foram 44 votos a favor, 20 contra e duas abstenções, quando eram necessários 41.

O relator do projeto de resolução, senador Marcelo Castro (MDB-PI) -que também é relator-geral do Orçamento de 2023-, apresentou um texto substitutivo, mas praticamente manteve o teor da proposta original que havia sido apresentada pelo presidente do Senado.

O projeto prevê que o limite financeiro dessas emendas não poderá ser superior ao total das emendas individuais e de bancada. A resolução também determina que metade dos recursos seja destinada para ações e serviços públicos de saúde, assistência social e educação.

Segundo o texto, o relator-geral poderá apresentar indicações para execução das emendas desde que sejam feitas exclusivamente por parlamentares, ainda que fundamentadas em demandas apresentadas por agentes públicos ou por representantes da sociedade civil.

No formato atual, a decisão sobre o destino dessas emendas cabe ao próprio relator-geral, sem critérios objetivos.

A distribuição das emendas deverá obedecer a alguns parâmetros. Até 5% deverão ser provenientes de indicações conjuntas do relator-geral e do presidente da CMO (Comissão Mista de Orçamento).

Outros 7,5% ficarão a cargo do presidente do Senado e outros 7,5% serão distribuídos conforme indicações do presidente da Câmara. Ou seja, Lira e Pacheco, que devem ser reeleitos em fevereiro do próximo ano, vão manter controle sobre parte da distribuição.

O texto uniu parlamentares do centrão -que deram sustentação ao governo do presidente Jair Bolsonaro (PL), como PL, Progressistas e Republicanos-, ao PT do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

O mecanismo foi duramente criticado pelo petista durante a campanha e chegou a ser comparado por ele ao mensalão.

O senador Jean Paul Prates (PT-RN), líder da minoria no Senado, afirmou que as emendas não serão usadas pelo presidente eleito como moeda de troca, e justificou a posição do partido. Segundo ele, o PT não tinha "massa crítica" para "derrubar totalmente" o instrumento, e concordou com a "modulação".

"É a única saída que nós temos para que não fique como está. Se trata de uma nova regra, com transparência, com proporcionalidade e, principalmente, não impositividade [não obrigatoriedade de pagamento]. Nunca houve, mas quando há conluios específicos, funciona. O Legislativo manda e o Executivo cumpre", disse.

"Como aqui não há impositividade, o novo governo não usará esse dispositivo para cooptar ninguém. O presidente Lula não fará isso. Sabemos que [a emenda de relator] não será usada assim. Essa é uma regra de transição. O que queremos é nada, mas, neste momento, colocar alguma regra é melhor que o caos", completou.

A posição do PT foi duramente criticada pelo senador Renan Calheiros (MDB-AL). O ex-presidente do Congresso afirmou que a resolução vai na contramão do que defende a maioria dos ministros do STF, e amplia os poderes de Arthur Lira -um dos principais rivais políticos do senador alagoano.

"[A resolução] não resolve nada do ponto de vista da transparência, do ponto de vista da impessoalidade e, mais ainda, agrava a situação ao destinar ao presidente da Câmara dos Deputados 7,5% dos recursos. Isso é um escárnio. Acho que é uma incoerência brutal do PT. Eu conheço a posição do presidente Lula", disse.

Após a sessão, Pacheco afirmou que o projeto é "integralmente bom", e que o Congresso buscou corrigir todos os pontos criticados pelo Supremo. O senador argumentou que as emendas garantem a "descentralização dos recursos" e a "formatação do Orçamento através de uma ação conjunta entre o Executivo e o Legislativo".

"Eu considero adequado o que o Congresso fez hoje, que é uma demonstração de comprometimento com a qualidade do gasto público, com a impessoalidade e, algo muito importante, que é a transparência. Ou seja, somente o parlamentar poderá fazer indicação", afirmou Pacheco.

"De modo que, tudo aquilo que era ponto vulnerável apontado pelo Supremo e pelas próprias ações se busca corrigir com essa resolução. Evidentemente que, a depender da decisão do STF, se houver algo mais que o Congresso possa fazer para poder atacar eventuais pontos vulneráveis, obviamente haverá toda nossa disposição de poder fazê-lo."

O projeto prevê ainda até 23,33% para indicações de senadores, obedecendo à proporcionalidade partidária e formalizadas pelo líder do partido, e até 56,66% para indicações de deputados, conforme o mesmo critério de bancada partidária.

O Orçamento de 2023 reserva mais de R$ 19 bilhões para as emendas de relator-geral. O Congresso deve votar o texto na próxima semana, antes do recesso parlamentar. Já a resolução aprovada nesta sexta será válida caso o Supremo forme maioria para preservar o instrumento.

O primeiro voto, da ministra Rosa Weber, foi para vedar o uso das emendas de relator para atender a solicitações de parlamentares ou de pessoas externas ao Congresso.

A presidente da corte, relatora do texto, citou os escândalos envolvendo essas emendas e refutou a proposta dos parlamentares, que já havia sido apresentada, mas não votada.

negociações

Federação entre PP e União Brasil pode nascer rachada em Mato Grosso do Sul

Ex-deputada federal Rose Modesto promete continuar cobrando as promessas feitas em campanha pela prefeita Adriane Lopes

14/03/2025 08h00

A prefeita Adriane Lopes (PP) e a ex-deputada federal Rose Modesto (União Brasil), durante debate

A prefeita Adriane Lopes (PP) e a ex-deputada federal Rose Modesto (União Brasil), durante debate Reprodução

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Com provável desfecho na próxima semana, a possível federação entre dois dos maiores partidos do Brasil – PP e União Brasil – pode já nascer rachada em Mato Grosso do Sul, em razão da disputa pelo comando do Executivo municipal de Campo Grande nas eleições do ano passado entre a atual prefeita Adriane Lopes (PP), que acabou reeleita, e a ex-deputada federal Rose Modesto (União Brasil).

Caso seja consolidada essa federação, o bloco, que funcionaria como um único partido por pelo menos quatro anos, colocaria no mesmo barco as duas adversárias, que travaram uma disputa acirrada, principalmente no segundo turno das eleições municipais, quando os ânimos de ambas ficaram mais exaltados, atingindo o ápice no último debate televisivo.

Procurada pelo Correio do Estado para comentar a convocação feita pelo presidente nacional do PP, senador Ciro Nogueira (Piauí), aos deputados federais, senadores e presidentes de diretórios da legenda que não sejam parlamentares para uma reunião na terça-feira, em Brasília (DF), para trata da possível federação com o União Brasil, Rose Modesto não deixou de marcar posição.

“Não tenho problemas com o PP, até porque no PP tem muita gente. Se isso acontecer, terei uma boa relação com todos os partidos da federação, porém, vou manter minha independência de continuar cobrando as melhorias e as promessas de campanha que foram feitas nas eleições do ano passado”, adiantou a presidente estadual do União Brasil, referindo-se à gestão da prefeita Adriane Lopes.

A ex-deputada federal ainda deixou claro que não é porque possivelmente os dois partidos vão caminhar juntos pelos próximos quatro anos que vai esquecer tudo o que se passou durante as eleições municipais do ano passado em Campo Grande. “Meu compromisso maior será sempre com os meus eleitores”,
argumentou.

A prefeita Adriane Lopes foi procurada pelo Correio do Estado, mas, até o fechamento desta edição, não retornou as ligações. No entanto, o espaço continuar aberto para a chefe do Executivo municipal.

NACIONAL

Em nível nacional, já há consenso entre Ciro Nogueira e o presidente do União Brasil, Antonio Rueda, sobre a união dos dois partidos, e a ideia é dividir os comandos estaduais da federação entre as siglas, seguindo o critério de tamanho das bancadas no Legislativo.

Já a presidência nacional seria exercida de forma intercalada, e não há objeção para que esse esquema se inicie pelo PP, com o comando do ex-presidente da Câmara dos Deputados Arthur Lira (PP-AL), um desejo de Nogueira. “Se a federação acontecer, a presidência vai ser um rodízio”, afirmou. 

Falta, porém, consenso entre as bancadas dos partidos, pois uma ala do União Brasil, por exemplo, reclama de que não foi ouvida por Rueda. Na última reunião do grupo, realizada na Câmara dos Deputados, o líder do partido, deputado federal Pedro Lucas Fernandes (Maranhão), foi instado a trazer o presidente da sigla para o próximo encontro.

Além de União Brasil e PP, a nova federação pode ter ainda o reforço do Republicanos, pois Ciro Nogueira e o presidente nacional republicano, Marcos Pereira, encontraram-se nesta semana, em Brasília, para debater se a sigla do presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Paraíba), faria parte do novo bloco. Ficou decidido que os partidos devem caminhar juntos nas eleições de 2026, mas, neste momento, a conversa sobre federação vai seguir apenas entre União Brasil e PP.

PRESIDÊNCIA

Uma aresta que precisará ser resolvida entre os três partidos é o candidato de consenso para disputar o cargo de presidente da República nas eleições gerais do próximo ano. O Republicanos tem entre seus quadros o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, um dos mais bem colocados para ser o candidato da direita.

Enquanto isso, o União Brasil conta com o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, que vai lançar uma chapa, no dia 4 de abril, ao lado do cantor sertanejo Gusttavo Lima. 

Para não abrir mão da candidatura, aliados de Caiado têm se colocado contra a federação com o Republicanos, temendo que o governador de Goiás seja preterido em uma disputa de forças interna.

Paralelamente, Ciro Nogueira tem sinalizado apoio a uma candidatura do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) ou do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), para depois tentar se viabilizar como vice de um dos dois filhos de Bolsonaro.

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Na bronca

Não sou contra emendas parlamentares, mas neste patamar sou contra, diz Simone Tebet

Segundo Tebet, em nenhum outro lugar do mundo o Parlamento tem tantos recursos quanto o Executivo para investimentos

13/03/2025 23h00

Simone Tebet, Ministra do Planejamento e Orçamento

Simone Tebet, Ministra do Planejamento e Orçamento Foto: Divulgação

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A ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, fez críticas ao crescimento descontrolado das emendas parlamentares, que podem virar "um caso de polícia".

"Eu já vi essa história antes, eu já vi esse filme antes. Não sou contra as emendas parlamentares, acho que elas são saudáveis Neste patamar que sou contra", afirmou a ministra, em entrevista exibida pela GloboNews na noite da quarta-feira, 12.

Segundo Tebet, em nenhum outro lugar do mundo o Parlamento tem tantos recursos quanto o Executivo para investimentos.

É preciso, segundo a ministra, encontrar um maior equilíbrio em relação às emendas, sob o risco de a situação atual levar a um cansaço da população brasileira com a classe política.

Nesse sentido, Tebet disse que sua maior preocupação para as eleições do ano que vem é com o surgimento de candidatos de fora da política tradicional. "Não tenho medo da direita ou da esquerda tradicional, tenho medo de um outsider, que vem com ideias mirabolantes de um mundo totalmente distópico."

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