Diante do contexto de eleições e do histórico de notícias falsas (fake news) e desinformação nos últimos anos no Brasil, o Correio do Estado decidiu criar o primeiro núcleo de verificação de Mato Grosso do Sul, o Correio Verifica, cujo objetivo é informar a população e desmentir informações enganosas que possam prejudicar o processo eleitoral no Estado.
Ao precisar disputar espaço e visibilidade nas mídias sociais, o jornalismo também tem se reformulado. As fake news ganharam força rapidamente nos últimos anos, e não há como negar o papel do jornalismo nessa problemática.
Desde 2016, o termo fake news passou a ser mais empregado, tendo em vista o cenário político internacional, principalmente o dos EUA. No Brasil, processo similar teve mais destaque durante a corrida presidencial de 2018.
A definição do conceito de fake news ainda é amplamente discutida no âmbito das Ciências Humanas e Sociais. Em uma tradução literal do termo inglês, é possível dizer que são “notícias falsas”, apesar de se tratar de uma engrenagem mais abrangente.
Os pesquisadores Marco Antônio Sousa Alves, Professor Adjunto de Teoria e Filosofia do Direito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), e Emanuella Ribeiro Halfeld Maciel, Pesquisadora do Grupo SIGA – Sociedade da Informação e Governo Algorítmico (UFMG), realizaram uma revisão bibliográfica do termo fake news.
Segundo eles, o espaço midiático tem se tornado um verdadeiro campo de batalha, utilizado para a disseminação de notícias enganosas.
“Via de regra, as fake news encontram seu motor não no desejo de negar a verdade, mas, sim, na vontade de vencer a disputa a qualquer preço, mesmo que para isso seja preciso falsear a realidade. As pessoas deixam de se perguntar se a notícia é verdadeira ou falsa. Estão ainda menos preocupadas se os fatos estão bem assentados ou se a fonte é confiável. A única coisa que importa é se a notícia favorece sua posição em um contexto polarizado”, pontuaram na pesquisa.
Entendendo isso, a equipe do Correio Verifica se compromete a informar a população e combater a repercussão de materiais enganosos e falsos. Para tanto, nossa equipe passou pela formação do Programa Núcleos de Checagem Eleitoral, liderado pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), com apoio da Google News Iniciative.
Durante a fase de capacitação, ministrada por profissionais especializados, foram abordados temas como metodologia de verificação e checagem, monitoramento das redes sociais, além de técnicas e ferramentas de análise e verificação dos conteúdos.
Atualmente, já existem outros núcleos de verificação, entre eles: o Estadão Verifica, as agências brasileiras Lupa e Aos Fatos, assim como diversas outras espalhadas pela América Latina, como a argentina Chequeado, além do próprio Projeto Comprova, fundado em 2018, justamente para o cobrir o escopo do período eleitoral.
TRE
No processo eleitoral, além das iniciativas independentes, o próprio sistema possui uma engrenagem fundamental, inclusive no trabalho de combate à desinformação, papel este desempenhado pelo Tribunal Regional Eleitoral em Mato Grosso do Sul.
Conforme a servidora do TRE-MS, Kátia Souza, que está à frente do Núcleo de Combate à Desinformação, o enfrentamento à desinformação feito dentro dos Tribunais passa por três eixos principais:
• Informação – direcionado à disseminação de informação oficial, confiável e de qualidade.
• Capacitação – para alfabetização midiática e capacitação de toda a sociedade, para compreender o fenômeno da desinformação e o funcionamento do processo eleitoral.
• Resposta – quanto à identificação de casos de desinformação e à adoção de estratégias, tanto preventivas como repressivas, para a contenção de seus efeitos negativos.
Desembargador do TRE-MS, Paschoal Carmello Leandro, frisa que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) está estruturado para combater a desinformação, com um grupo que acompanha notícias por meio de todas as plataformas.
Sobre o que não chega ao TSE, do trabalho ao nível estadual, o desembargador aponta que, nos limites das possibilidades e estruturas, o combate à desinformação tem sido feito.
“Não temos uma estrutura no Estado como tem em Brasília. Nós temos uma equipe muito boa, principalmente a parte de informação, parte de TI [tecnologia da informação], todos servidores excelentes e preocupados com isso”, explica.
Paschoal reitera que o avanço da tecnologia, com o fator da facilidade para propagar informação, é um dos principais causadores desse “tumulto” observado em período eleitoral.
“A partir do momento que você está ligado à internet, ao grupo social, está sujeito a receber informações de tudo quanto é tipo e algumas falsas. Essa preocupação já vem desde a eleição de 2018, o Tribunal Superior Eleitoral, naquela ocasião, diante das matérias falsas que estavam surgindo, procurou analisar a situação, formar equipe para estudar e regulamentar tudo isso”, complementa ele.
Dependendo da situação, e da gravidade do conteúdo de desinformação, as consequências podem ir de uma simples retirada do conteúdo – pelo site, rede social –, após análise e confronto com a política de uso, até consequências mais graves, com o responsável respondendo por investigações (inquéritos) e/ou ainda por ações judiciais.
“A desinformação gera uma intranquilidade, uma insegurança. E a população também, os próprios eleitores são prejudicados, porque não têm o conhecimento do fato verdadeiro”, salienta o desembargador.
Paschoal ainda frisa que essa é uma preocupação de toda a sociedade, em que e o eleitor deve se valer dos mecanismos apontadores, daquilo que é duvidoso e enganoso, durante o período eleitoral.
“Naturalmente contamos com vocês, com a imprensa, que também nos ajuda porque a divulgação chega ao TRE depois de muita comunicação social, principalmente no WhatsApp, hoje estamos presenciando tanta matéria que não tem conteúdo, estão visando afetar até mesmo a própria Justiça Eleitoral”, diz o desembargador.
Por fim, Paschoal faz questão de ressaltar que a desinformação afeta, justamente, a democracia, e que essas matérias falsas põem o princípio democrático em jogo, mas que a sociedade pode ajudar e fazer sua parte.
“Precisamos da colaboração da própria população. A partir do momento que você faz a verificação da origem da matéria que você está recebendo, aquela informação, estará também auxiliando a combater a desinformação”, finaliza ele.
Como atua o Correio Verifica?
O Correio Verifica é um núcleo constituído por equipe que trabalha colaborativamente para investigar informações suspeitas sobre as eleições em Mato Grosso do Sul. Temos como princípios orientadores: o rigor, a imparcialidade, a transparência e o compromisso com a verdade.
A partir de monitoramento de plataformas, em aplicativos de mensagens e em sites hiperpartidários, bem como dos assuntos em alta midiaticamente, selecionamos os temas com maior alcance ou relevância para serem apurados.
Os conteúdos selecionados são submetidos ao processo de apuração e verificação, por meio dos quais recorremos a fontes, dados e informações oficiais, a fim de verificar a veracidade desses conteúdos. Após a etapa de apuração, produzimos o material escrito para a divulgação, o qual sempre será submetido à revisão dos pares.
O Correio Verifica recorre a estratégias semelhantes à do Projeto Comprova – do qual parte de nossa equipe é integrante e no qual o Correio do Estado é o único veículo de imprensa de Mato Grosso do Sul que colabora. Além disso, todos os integrantes de nossa equipe já passaram pelo treinamento do Comprova.
Antes de nos debruçarmos sobre qualquer verificação, qualquer conteúdo será abordado como suspeito até que possa receber uma das etiquetas: falso, enganoso ou comprovado.
Critérios de seleção:
1 – Alcance e viralização do conteúdo suspeito;
2 – Impacto social e político do conteúdo suspeito.
ETIQUETAS
O Correio Verifica utiliza as mesmas etiquetas do Projeto Comprova. Por meio delas, conseguimos definir de forma mais objetiva o que caracteriza o conteúdo suspeito.
Enganoso: conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.
Falso: conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.
Comprovado: fato verdadeiro; evento confirmado; localização comprovada; ou conteúdo original publicado sem edição.
Além destas três etiquetas, nós também realizamos investigações voltadas à explicação de acontecimentos que repercutem de forma confusa entre a população, realizando um serviço de esclarecimento para diminuir a repercussão de desinformação. Tais materiais levam a etiqueta “Correio Explica”.
Serviço
Você pode entrar em contato e mandar conteúdo que tenha dúvida para a equipe Correio Verifica por meio do WhatsApp, pelo número: (67) 9 9922-6705, ou por e-mail, pelo endereço: [email protected].
Além da própria imprensa – e do projeto Correio Verifica, pioneiro em MS –, o eleitor pode contar com o Sistema Alerta para reportar desinformação; a plataforma Fato ou Boato, com um compilado de materiais que chegam ao TSE; assim como o Sistema Pardal (disponível para iPhone e aparelhos Android), para denúncia de irregularidades em período eleitoral, que podem ser acompanhadas pelos portais da Justiça Eleitoral. (Equipe Correio Verifica)