Na manhã desta terça-feira (7), durante Sessão Plenária da Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul, o deputado estadual João Henrique Catan (PL), exibiu o livro "Mein Kampf", escrito pelo líder nazista, Adolf Hitler, que expressa seus ideais de extrema-direita, antissemitismo, racismo, anticomunismo, anticomunismo e nacionalismo.
O livro é conhecido mundialmente como "a bíblia do nazismo", e é um símbolo para os apoiadores deste regime.
João Henrique Catan defendia o requerimento 356/2023, apresentado por ele, que pede transparência, quando se dirigiu ao presidente da Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul, deputado Gerson Claro (PP), com o livro em mãos, e afirmou:
"Senhor presidente, é com a apresentação do Mein Kampf, de Hitler, que peço para que este parlamento se fortaleça, se reconstrua, se reorganize, nos rumos do que foi o parlamento europeu da Alemanha".
O deputado explicou que o modelo parlamentar utilizado no Brasil é inspirado no modelo reconstruído na Alemanha. Com estes argumentos, o representante da extrema-direita declarou seu voto favorável ao requerimento.
Catan ainda menciona a proibição do livro no estado do Rio de Janeiro, em janeiro de 2022, pelo prefeito Eduardo Paes (PSD). Segundo a lei, é proibida a venda, publicação, distribuição e circulação do conteúdo integral ou parcial do livro "Mein Kampf" ("Minha Luta"), de autoria de Adolf Hitler.
Anteriormente, no Rio de Janeiro, já havia uma decisão, do desembargador Carlos Gustavo Direito, que proibia o livro no site "Estante Virtual". .
"Verifica-se que a livro “Mein Kampf (Minha Luta)” além de ser discriminatório, o que já seria naturalmente vedado pelo ordenamento jurídico pátrio, ainda apresenta ideologias contrárias aos princípios fundamentais constitucionais, o que, de fato, implica na correta vedação de sua exposição e comercialização", escreveu o desembargador.
O deputado do PL relatou que ficou com medo ao entrar com o livro no Brasil, e considerou o juiz que aprovou a decisão "mais ditador do que Adolf Hitler".
"Fiquei com medo de entrar com esse livro no Brasil, porque à época, um juiz, talvez mais ditador do que Adolf Hitler, suspendeu a entrada e as vendas do Mein Kampf, “minha luta, minha história, minha vida” de Adolf Hitler, onde retrata suas estratégias para aniquilar, fuzilar, o parlamento e os direitos de representação popular", comentou.
Pedro Kemp (PT) que foi à tribuna na sequência, considerou que o deputado "pegou pesado" ao comparar a votação do requerimento com o nazismo, e afirmou que ser contra o pedido de Catan não o "tornava" nazista.
“Eu penso que o deputado pegou pesado aqui quando trouxe o exemplar do Mein Kampf (...), jogou pesado, e eu vim aqui porque eu vou votar contra esse requerimento e não quero ser taxado de nazista”, afirmou.
Foram 16 votos contra o requerimento, e apenas dois a favor.
Em suas redes sociais, o candidato à Deputado Federal pelo Partido Democrático Trabalhista (PDT), Jean Ferreira, que conseguiu a suplência nas eleiçoes de 2022, manifestou sua indignação com o ocorrido.
ReproduçãoAinda na publicação, Jean Ferreira relembrou o episódio, em maio do ano passado, em que João Henrique Catan (PL) realizou disparos, diretamente de um stande de tiros, durante uma sessão remota, enquanto votava pela aprovação do projeto que legitima os CACs (colecionadores, atiradores e caçadores) como atividade de risco.
"Dessa vez, o parlamentar decidiu invocar uma obra q já foi proibida sua venda, exposição e divulgação em juízo no RJ", comentou Jean.
O deputado se manifestou em suas redes sociais, respondendo uma postagem que dizia "Os nazi estão como deputados já", afirmando que a intenção da fala era frisar o oposto à ditadura. Pouco tempo depois, deletou a postagem. Confira:

"Minha Luta"
O livro Mein Kampf, traduzido como "Minha Luta", em português, foi escrito por Adolf Hitler, e relata, além de sua biografia, seus ideais políticos.
O livro é dividido em dois volumes, e foi escrito para um público específico: os membros do partido nazista. Ele se popularizou entre os alemães, e passou a ser considerada "a bíblia do nazismo".
Durante a administração nazista, era costume oferecê-lo a recém-casados, a soldados prestes a servir, e era ensinado nas escolas primárias de toda a Alemanha.
O primeiro volume foi publicado em 1925 e o segundo em 1926. Segundo o autor Emerson Santiago, autor do site "Info Escola", o livro possui discurso e narrativa própria, e o texto é marcado pelo radicalismo e pela violência, buscando ao mesmo tempo responder perguntas que afligiam à sociedade alemã, entre elas uma crucial: a razão da perda da guerra, a qual atribuiu aos judeus e aos comunistas, que seriam inimigos do povo alemão e de seu progresso.
Segundo o autor do artigo, o "Mein Kampf" pregava ainda a volta do império e uma retomada no sentimento de orgulho alemão, além de um ódio pelo liberalismo e sua consequente modernidade democrática.
"Curioso notar que seu livro não dá uma descrição pormenorizada do que seria o nacional-socialismo, ao mesmo tempo que seu movimento ia estabelecendo laços com empresários e financistas", diz Santiago.
Após o fim da Segunda Guerra Mundial, o livro se tornou uma prova dos crimes cometidos pelo regime, já que (quase) tudo foi relatado nele.
Até os tempos atuais, o livro nazista é proibido em muitos países, devido ao conteúdo de intolerância política, religiosa e racial que este apresenta.
"O fato é que o livro permanece como o documento primário para se entender a doutrina nazista, e o porquê da necessidade desta de ser combatida", conclui Emerson Santiago.
Colaborou: Daniel Pedra
Ex-deputado Fábio Trad / Foto: Marcelo Victor / CE


