Com forma de borboleta e localizada no pescoço, logo abaixo do pomo de adão, a tireoide é a glândula responsável por coordenar a velocidade do metabolismo e o gasto calórico do nosso corpo. Ela consegue isso pela produção de hormônios tireoideos, que viajam pelo sangue para todas as partes do nosso organismo. Esses hormônios “dizem” ao corpo quão rápido trabalhar e usar energia. A glândula tireoide pode produzir hormônio demais (hipertireoidismo), fazendo o corpo usar energia mais rápido do que deve, ou produzir pouco hormônio (hipotireoidismo), fazendo o corpo usar energia mais lentamente do que ele deve. A glândula também pode sofrer inflamações (tireoidites) ou aumentar de tamanho (bócio).
Para entender melhor essas doenças, é importante saber como é o funcionamento desta glândula. “A tireoide trabalha como um ar-condicionado. Se há hormônio tireoideo suficiente no sangue, ela para de produzi-lo, assim como um aparelho de ar-condicionado que se desliga quando o ar da sala está suficientemente frio. Quando o corpo necessita de mais hormônio da tireoide, a glândula recomeça a produzi-lo”, explica a endocrinologista Ana Rosa Zeferino, presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, regional do Mato Grosso do Sul.
Entre as principais disfunções da tireoide, o hipotiroidismo é o mais comum, geralmente associado a um cansaço e desânimo sem explicação. Sintomas bem comuns no início da gravidez, por isso, profissionais alertam para o diagnóstico e o teste hormonal durante o pré-natal, visto que uma mulher portadora de hipotireoidismo deve fazer acompanhamento também com um endocrinologista durante a gestação. Caso contrário, poderá ter sérias intercorrências na gravidez e no desenvolvimento do bebê.
Causas
Segundo a doutora Ana Rosa, uma gravidez normal resulta em uma série de importantes mudanças fisiológicas e hormonais que acabam alterando a função tireoidiana. “Em geral, a causa mais comum de hipotireoidismo durante a gravidez é a desordem autoimune, conhecida como tireoidite de Hashimoto, ou seja, a mulher já tem a disfunção e não a adquiri na gravidez”, ressalta a médica, acrescentando que o problema pode aparecer por correção excessiva em portadora de hipertireoidismo.
Portanto, enfatiza a especialista, “é importante avaliar a função tireoidiana no primeiro trimestre de gestação para detectar precocemente as gestantes com hipotireoidismo sem diagnóstico prévio a gestação. O diagnóstico é feito por exame de sangue simples, por meio da dosagem de TSH, caso haja alteração neste resultado seguimos para exames mais específicos”, exemplifica.
Consequências
Sem controle adequado, o hipotireoidismo na gestação pode causar sérias consequências para a mãe e o bebê, como: anemia materna, miopatia (dor muscular, fraqueza), insuficiência cardíaca congestiva, doença hipertensiva na gestação, anomalias placentárias, aborto espontâneo, recém-nascidos com baixo peso, parto prematuro, complicações fetais, descolamento de placenta etc. “Vale a pena ressaltar que mulheres com problema de infertilidade devem ter sua tireoide avaliada, pois o hipotireoidismo causa infertilidade”, lembra a médica.
Essas complicações são mais frequentes em mulheres com hipotireoidismo clínico. Entretanto mulheres com hipotireoidismo leve ou inicial podem não ter sintomas, mas também podem apresentar problemas obstétricos e neurocognitivos na criança. Caso a mulher já tenha sido diagnosticada com hipotireoidismo e venha controlando a doença, as chances de ter uma gestação saudável são iguais as de uma mulher que não tenha a doença. É preciso apenas consultar sempre o médico de confiança para ajuste da dosagem.
Campanha
Com o objetivo de alertar sobre os sintomas do hipotireoidismo e ressaltar a importância do diagnóstico precoce foi criada uma campanha por meio do site www.mulhersemfalta.com.br. Neste site a população terá acesso a mais informações sobre hipotireoidismo, fatores de risco, causas, alerta sobre exames e autoexame e poderá, ainda, tirar dúvidas com especialistas no assunto.
Quando a doença é congênita
Antes de qualquer coisa é importante ficar claro que congênito não significa hereditário. Durante o período gestacional a tireoide do feto é imatura e o sistema nervoso central e outros órgãos do feto dependem do hormônio tireoidiano materno para seu desenvolvimento adequado. O hormônio da tireoide é fundamental para o desenvolvimento do cérebro do bebê. As crianças que nascem com hipotireoidismo congênito (sem função tireoidiana ao nascer) podem ter sérias sequelas cognitivas, neurológicas e de desenvolvimento, caso o problema não seja identificado e controlado precocemente. Na maioria das vezes, estes problemas de desenvolvimento podem ser evitados se a doença for reconhecida e controlada imediatamente após o nascimento.
O hipotireoidismo congênito representa uma das causas mais frequentes de retardo mental. A disfunção acontece quando o bebê nasce com ausência total ou parcial dos hormônios tireoidianos. A criança nasce sem a glândula ou com uma glândula que funciona apenas parcialmente. O problema é identificado em 1 para cada 3.500 a 4.000 recém-nascidos vivos, segundo levantamento da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM). Os sintomas da doença são choro rouco, icterícia, demora na evacuação, hérnia umbilical, língua protrusa (para fora), apatia e sonolência, e por serem características comuns para várias doenças, são facilmente confundidas.
Entre as causas pode-se apontar a deficiência em iodo (cretinismo endêmico), considerada a mais frequente, anomalias no desenvolvimento tireoidiano, defeitos na síntese hormonal, distúrbios hipotálamo-hipofisários e resistência ao TSH ou ao hormônio tireoidianos (mais raros).
“Teste do pezinho”
Para identificar se o recém-nascido apresenta problemas na tireoide, basta realizar o teste do pezinho. Se o hipotireoidismo congênito for controlado de forma adequada e precocemente, a criança leva uma vida normal.


