Retirada de células-tronco já é uma técnica comum utilizada pelos médicos quando feito por meio do cordão umbilical do ser humano já após o nascimento ou em outros tecidos, mas com o avanço da ciência, outras técnicas foram aperfeiçoadas e hoje já é possível retirar células-tronco do dente de leite em crianças com idades de 6 à 12 anos, época que já estão trocando os dentes.
Considerado para os cientistas e odontopediatras como ‘uma joia’ para a medicina regenerativa, a técnica vai ser debatida pela primeira vez em Mato Grosso do Sul durante palestra do 3° Ciclo de Palestras Gratuitas organizado pela Associação Brasileira de Odontologia, seção Mato Grosso do Sul (ABO/MS), em Campo Grande.
Odontopediatra há 27 anos, Daniel Borges Daniel presidente da ABO acredita que é uma técnica muito inteligente que vai garantir à criança não só a possibilidade de tratamento no futuro caso tenha alguma doença, mas que já terá uma segurança no tratamento de uma fratura por ter uma célula regeneradora. “A gente sempre cuidou da preservação do dente de leite e vimos que existe um tesouro ali e para recuperação e tratamento é um diferencial para a criança já que ela terá inúmeras oportunidades de ter células-tronco”, disse.
Sobre o diferencial de extração de células do cordão umbilical e o dente de leite, o odontopediatra destaca grandes quantidades de células para maior versatilidade de onde podem ser utilizadas. “A diferença é que o cordão só é retirado uma vez, a célula dele é sanguínea então obviamente é utilizado em problemas sanguíneos como a leucemia por exemplo, já as células da polpa dental servem para qualquer tipo de tecidos e cartilagens, porque ela está bem próximo das células embrionárias que têm maior potencialidade de regeneração, ou seja, podem ser utilizadas desde um osso quebrado até uma reconstituição em pele no caso de queimados”, explicou.
ENTENDA
O profissional explica que é feito todo um protocolo para dar maior bem estar a criança. Quando o dente de leite está se preparando para cair, é feito um acompanhamento radiograficamente e quando está pelo menos um terço da raiz, o profissional faz a extração, antes mesmo de cair, ação essa que não prejudica o processo natural da criança, segundo Daniel. “Existe todo um protocolo, uma idade correta e acompanhamento, depois de extraído, o dente é levado por uma empresa especializada, o mesmo transporte como é feito em órgãos e após isso entregue ao laboratório que realiza todo o procedimento das células-tronco em Campinas”, contou o odontopediatra.
O cientista José Ricardo Muniz Ferreira é cirurgião-dentista e estuda as células-tronco há pelo menos 15 anos, a pouco mais de cinco, ele trabalha com o armazenamento e multiplicação das células em laboratório. Ao Correio do Estado, ele explicou que o estudo é recente, começou em 2000 nos dentes permanentes mas três anos depois, estudos feitos na China chegaram aos dentes de leite.
No entanto ele comentou que os estudos que basearam essa técnica começaram na década de 60. “As células-troncos são consideradas jóias, porque são células jovens com qualidade e podem ser multiplicadas. Só em um único dente de leite podem ser retirados de 7 a 10 mil células e multiplicadas no laboratório para milhões de células”, disse.
Para o pesquisador, a terapia celular é menos invasiva e custosa comparada às tradicionais e com os avanços principalmente de 2018 para cá, sempre conforme resoluções da Anvisa. “O Brasil entrou nessa rota de avanço, é fundamental que a comunidade clínica e a sociedade, entendam e saibam os recursos que possuem”, destacou José Ricardo.
A PALESTRA
Para debater melhor sobre o assunto, amanhã dia 20 de agosto às 19h30 haverá uma palestra sobre as possibilidades que o armazenamento das células-tronco da polpa dental podem trazer no avanço de doenças como Alzheimer, Autismo, Diabetes e Câncer com o pesquisador José Ricardo de Campinas (SP).
Além disso, o tema vai debater a possibilidade da reprogramação celular capaz de auxiliar na regeneração de tecidos e órgãos, como a pele, células beta (pâncreas), cartilagem, tecido nervoso e adiposo, ossos, tecido cardíaco, fígado, dentes e músculos.
O evento é gratuito e destinado a cirurgiões-dentistas e médicos e as vagas serão limitadas. Para os interessados sobre o tema, é necessário confirmar presença pelos telefones: (67) 3383-3842 ou 9 9212-8088. O evento será realizado no auditório da ABO-MS na Rua da Liberdade, 836, Monte Líbano.
