Correio B

Retrospectiva 2010

Artistas de MS e cinema são destaques

Artistas de MS e cinema são destaques

Thiago Andrade

03/01/2011 - 02h30
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Quais acontecimentos marcaram 2010? O que entrará para a posteridade? O ano foi marcado pelo crescimento cultural em diversas áreas. Graças ao desenvolvimento econômico do Brasil, diante, principalmente, da crise econômica que continua afetando países do mundo inteiro, exposições, shows e eventos culturais ganharam espaço por aqui. Como em todos os anos, também houve perdas para a cultura, com a morte de algumas personalidades.
O cinema brasileiro esteve melhor do que nunca, principalmente com o fenômeno de “Tropa de elite 2”. Em Mato Grosso do Sul, projetos como o Ava Marandu, eventos teatrais e o sucesso dos sertanejos do Estado ganhando o País foram alguns dos destaques. Confira a retrospectiva cultural de 2010:

Sertanejos da vez
Fenômeno musical da vez, os músicos sertanejos do Estado alçaram voos ainda maiores em 2010. Maria Cecília & Rodolfo gravaram DVD em casa noturna de São Paulo para público de 4 mil pessoas. Luan Santana se consagrou como maior ídolo teen do ano, com cachês milionários e shows com público recorde, inclusive na Festa do Peão de Barretos, que teve o maior número de pessoas desta edição. O jovem artista gravou seu segundo DVD em dezembro do ano passado, no Rio de Janeiro, para mais de 15 mil pessoas. Outros nomes também tiveram destaque como João Bosco e Vinícius,  Michél Teló e, mais recentemente, Munhoz & Mariano.

Eu quero uma festa rock!
Não é apenas de sertanejo que sobrevive Mato Grosso do Sul. Este ano, as festas promovidas pelo coletivo Bigorna, as chamadas Bigornadas, trouxeram bandas de diversas regiões do País para apresentações memoráveis em Campo Grande. Artistas que despontaram no ano, como Jair Naves e Suéteres, a nomes novos como The Name e The Salad Maker passaram pelos palcos de bares da Capital. Entre as apresentações inusitadas, o rapper Emicida foi a maior surpresa. O coletivo também promoveu a 3ª edição do Festival Fogo no Cerrado, que se consolida como o principal evento de música alternativa do Estado.

Arte em cena
O caminho para a consolidação do teatro no Estado é longo e tortuoso, mas não há como negar que o segmento se fortaleceu em 2010. A realização da 1ª Cena do Mato – Bienal de Teatro de Mato Grosso do Sul, apesar de enfrentar alguns problemas como a aglutinação de projetos diversos de teatro sem diferenciá-los, promoveu também o diálogo necessário para o fortalecimento da cena. Já a 4ª edição do Festival de Teatro de Campo Grande (Festcamp) permitiu a circulação de um número grande de peças de todo o País pela Capital, inclusive de companhias importantes como o carioca Grupo Tapa, que encenou “Mão na luva” (foto).

Cena na rua
Uma das principais companhias de teatro de rua passou por Campo Grande em 2010. A Tribo de Atuadores - Ói Nóis Aqui Traveis encenou na Praça Ary Coelho o espetáculo “O amargo santo da purificação – Uma visão alegórica e barroca da vida, paixão e morte do revolucionário Carlos Marighella”. A Capital também foi palco do VIII Encontro da Rede Brasileira de Teatro de Rua, em novembro, que promoveu lançamentos de livros, debates, mesas de discussão e apresentação de espetáculos.

O convite Guarani
O projeto “Ava Marandu – Os Guarani convidam” foi um marco na história indígena do País. Envolvendo governos, sociedade civil e a Organização das Nações Unidas, foi realizado entre janeiro e junho de 2010, com atividades voltadas para as questões dos direitos humanos dos povos Guarani, que incluem os índios Kaiowa e Ñandeva. Quem esteve a frente do evento foi o Pontão de Cultura Guaicuru, que promoveu oficinas de cinema e fotografia (foto), concursos sobre direitos humanos, ações culturais em escolas, website, documentário sobre o projeto e o show Cultura e Direitos Humanos dos Povos Guarani, que trouxe à Capital Milton Nascimento e Nação Zumbi.

Michel Gondry em CG
A exposição “Rebobine, por favor”, do cineasta francês Michel Gondry passou por Campo Grande, fato de grande ineditismo. Durante os meses de outubro e novembro, o Museu de Arte Contemporânea (Marco), na Capital, recebeu os cenários que serviram de base para vídeos de gêneros variados feitos pelos próprios visitantes. O museu também recebeu outras exposições importantes, como a mostra de gravuras do artista carioca Osvaldo Goeldi, que figurou até mesmo na 29ª Bienal de São Paulo. Além desta, exposições de destaque como a Galeria Caixa Brasil e a mostra do coletivo Aluga-se, ainda aberta para visitação no museu.

Invasão estrangeira
O ano de 2010 foi recheado de shows de bandas internacionais. Desde bandas pouco conhecidas como as escocesas Camera Obscura e Belle and Sebastian aos ícones do rock como AC/DC e o ex-beatle Paul McCartney. Também foi a vez dos grandes festivais. Starts With You ou SWU, realizado em Itu no mês de outubro, durante três dias, trouxe bandas de estilos variados, como Rage Against the Machine, Pixies, Yo La Tengo, Linkin Park, Incubus, Kings of Leon, Queens of the Stone Age, entre outras atrações internacionais, além dos grupos nacionais. No mesmo mês, Jamiroquai, Air e outras bandas se apresentaram no festival Natura Nós. Também foi realizada mais uma edição do Planeta Terra, em novembro, que contou com um Line-up colorido e ultramoderno, com bandas como Of Montreal, Mika, Phoenix, os clássicos Pavement e Smashing Pumpkins, além dos indies, Passion Pit e Yeasayer.

O ano das telonas
Com mais de 11 milhões de espectadores, “Tropa de elite 2” foi o maior sucesso cinematográfico da história do País, superando filmes como “Dona Flor e seus dois maridos”, o primeiro lugar desde 1976. A produção de José Padilha coroou o ano em que os brasileiros decidiram ir às salas de exibição do País. Outros filmes como “Avatar”, “Alice no País das Maravilhas” e “Toy Story 3”, todos em 3D, também fizeram parte da lista de maiores arrecadações em bilheteria. Os nacionais “Chico Xavier” e “Nosso lar”, ambos de temática espírita, fizeram parte da lista de maiores arrecadadores de 2010.

Aprovação do Plano Nacional de Cultura
Fechando com chave de ouro a administração do ministro da cultura, Juca Ferreira, a aprovação do Plano Nacional de Cultura (PNC) em novembro de 2010, foi um momento de celebração para todos os segmentos. Estabelecendo diretrizes para as políticas culturais nacionais, que serão articuladas regionalmente por meio dos planos estaduais e municipais de cultura, o projeto de lei foi sancionado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva no começo do mês de dezembro. Em seis meses, começam a se estabelecer metas para a implementação dos objetivos da lei.

A intermitência da morte
O escritor português José Saramago faleceu aos 87 anos em sua residência em Tías, nas Ilhas Canárias, Espanha, no dia 18 de junho de 2010. Controverso e polêmico em suas opiniões, o autor de “Ensaio sobre a cegueira” e “O evangelho segundo Jesus Cristo” foi o primeiro ganhador do Prêmio Nobel de Literatura a escrever em língua portuguesa. Saramago sofria de leucemia há alguns anos e morreu em decorrência de múltipla falha de ôrganica.

Também se despediram em 2010
Personalidades importantes, embora não tão conhecidas, como o bailarino japonês Kazuo Ohno, um dos principais nomes do Teatro Butoh, e o diretor americano Blake Edwards, de filmes como “Bonequinha de luxo” e “A pantera cor de rosa”, disseram adeus à vida em 2010. Na véspera do Natal, em Campo Grande, morreu o cantor e compositor Airo Garcia Barcellos.

Diálogo

A eleição passou, mas a prefeita reeleita Adriane Lopes continua...Leia na coluna de hoje

Por Ester Figueiredo ([email protected])

22/11/2024 00h01

Diálogo

Diálogo Foto: Arquivo / Correio do Estado

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Davi Roballo - escritor brasileiro

"Infelizmente, descobrimos um pouco tarde que devemos viver para deixar saudades, boas lembranças, e não bens, já que tudo perece, menos a alma, que é eterna”.

FELPUDA

A eleição passou, mas a prefeita reeleita Adriane Lopes continua sob a artilharia pesada dos adversários, principalmente de alguns dos derrotados. Esse, digamos assim, fogo cerrado deverá continuar, na tentativa de impedir a sua consolidação como forte liderança, e poderá vir a atrapalhar os planos de muita gente em um futuro não muito distante. Desde já, portanto, estão jogando ainda tachinhas, pregos e similares no caminho político-administrativo da prefeita. Ah, o poder!

Diálogo

Elas

As duas vereadoras que em 2025 atuarão na Câmara Municipal de Campo Grande têm ideologias políticas extremamente diferentes. Luiza Ribeiro, que foi reeleita, é do PT e defende temas que batem de frente com as posições da chamada direita.

Mais

Já Ana Portela, do PL, a qual exercerá o seu primeiro mandato, é verdadeiramente do time do ex-presidente Jair Bolsonaro e tem, portanto, posições políticas que duelam com a esquerda. Os embates entre ambas prometem ser constantes em plenário.

Diálogo
Maria Pedrossian de Abrantes - Foto: Arquivo Pessoal
Diálogo
Paulo Verissimo - Foto: Rafael Cusato

Retorno

Passada a ressaca pela derrota do candidato tucano a prefeito de Campo Grande, que não chegou nem sequer ir para o segundo turno, aqueles que foram nomeados para trabalhar na campanha começaram a voltar para os seus, digamos, “antigos aconchegos”. As nomeações estão saindo aos poucos no Diário Oficial. Dizem, aliás, que tem gente com insônia, pois o tempo passa, o tempo voa, e…

Press trip

Encerra-se hoje a visita ao Pantanal – promovida pela Embratur e pelo Sebrae-MS – de cinco jornalistas do Reino Unido e da Irlanda para conhecerem a região. A press trip pelos destinos e atrativos desse bioma que é Patrimônio Natural da Humanidade e Reserva da Biosfera pela Unesco teve início no dia 18 e também  contou com o apoio da Fundtur.

Turistas

Segundo o Portal de Dados da Embratur, de janeiro a setembro deste ano, o Estado recebeu 51.173 estrangeiros. No ano passado, entraram pelas fronteiras de MS 70.277 turistas. Entre os dois primeiros semestres de 2023 e 2024, houve um aumento de 18,6% na entrada de visitantes internacionais. Mato Grosso do Sul recebeu turistas principalmente de Portugal, da Inglaterra e dos EUA no primeiro semestre deste ano, tendo destaque os aeroportos de São Paulo (91,9%), de Brasília (2,3%) e do Rio de Janeiro (1,5%) como portões de entrada.

Aniversariantes

  • Dra. Anamélia Wanderley Xavier,
  • Luiz Carlos Santini Júnior,
  • Simplícia (Pimpa) Alves Arruda,
  • Luiz Fernando Buainain,
  • Dra. Thaisa Saddi Tannous Silvino,
  • Marie Rose Jabur Sleiman,
  • Diego Fabricio Cruz Duailibi,
  • Cecílio Lino de Rezende,
  • Rubens Aleyne,
  • Gilberto Henrique de Oliveira,
  • Nirton Froeder,
  • Luciano Dias Ferreira Dutra,
  • Oswaldo Pires de Rezende,
  • Guilherme Roncaglia Seco,
  • Erminio Berto da Silva,
  • Ana Sirlei Vieira Castoldi,
  • Cassia Modena de Souza,
  • Leonardo Marques Ennes,
  • Odorce Bentos da Cunha,
  • Paulo Antônio Serra da Cruz,
  • Gabriel Silva Fernandes,
  • Milene Garcia Busato,
  • Glauco Cortez Mattos,
  • Dr. Leonardo Higa Nakao,
  • Leozitor Floro de Souza,
  • Paulo Antunes de Siqueira,
  • Jussara Coimbra Pedra Brum,
  • Jerônimo Rezek Rocha,
  • Celso Chaia,
  • Edson de Souza Teixeira,
  • Gledson Paulino Leal,
  • Rodrigo Bombonato Postinguel,
  • Fernando Bittar,
  • Daniele Costa Morilhas,
  • Gilberto Alves Ferreira,
  • Nilda da Silveira Falcão,
  • Fabiana Soares Katayama,
  • Cecília Barcellos Teixeira,
  • Jayme de Magalhães Júnior,
  • Cristiane Tavares Soares Bigolin,
  • Jander Castellani Dias,
  • Renato Baschi,
  • Aimar Joppert Junior,
  • Darci Marques,
  • Ana Claudia Nacer de Souza,
  • Dr. Marcos Estevão 
  • dos Santos Moura,
  • Dra. Gabriela Ferreira 
  • Calarge Jankauskis,
  • Dr. Euler Simões Corrêa Jorge,
  • Maxwell Aparecido Chaves,
  • Inah Barbosa dos Anjos,
  • Neiva Guerreiro,
  • Assaf Jorge Nesrala,
  • Roberto Assaf Nesrala,
  • Cesar Augusto Pires da Silva,
  • Márcio Augusto de Oliveira,
  • Fabiola Matte Freitas,
  • Joice Mara Medeiros da Silva,
  • Fátima Aparecida Maronha Fujimak,
  • Eugênio Quevedo,
  • Leontina Aparecida de Souza,
  • Idelso Berro,
  • Ana Maria Lima Mendonça,
  • José Wilson Capdeville Bastos,
  • Eliane dos Santos Silva,
  • Albano do Prado 
  • Pimentel Franco,
  • César Chedid,
  • Dr. Benedito de Oliveira Neto,
  • Claudio Augusto Guerra,
  • Luiz Claudio Monteiro,
  • Ana Paula Silva,
  • Pedro Henrique Gomes,
  • Denise Maria Decco,
  • Adriana Queiroz Sobreira,
  • Edgar Buytendorp,
  • Volnei Camargo Borges,
  • Gabriela Gelir Capitânio,
  • Mirella Galando Montilha,
  • Driele Luz Bahia Rodrigues da Silva,
  • João Mitumaça Yamaura,
  • Nilva de Oliveira Neves Inoue,
  • Cecílio Claudiano Yegros Aranda,
  • Patricia de Souza Lima,
  • Alberto Grangeiro da Costa Júnior,
  • Paula Latta Pereira Camargo,
  • Mara Moreira Luna,
  • Rui Pires dos Santos,
  • Lídio Recalde,
  • Vivaldo Batista,
  • Kelei Zeni,
  • Ivone Pessine,
  • Lisete Padilha Rubert,
  • Mariana Moura de Almeida Vieira,
  • Nilma Maria Nascimento Lima,
  • Enio Alberto Soares Martins,
  • Antonio Carlos Silveira Soares,
  • Vitória de Oliveira Pedroso,
  • Cecilia Elizabeth Grotti,
  • Silvia de Lima Moura Figueira,
  • Pedro Valdemar Lopes,
  • Bruno de Brito Curto,
  • Celso Mazzoni Haidamus,
  • Maria das Graças Ribeiro,
  • Antonio Valdir Severo,
  • Juliana Morais Arthur,
  • Amarildo Jonas Ricci,
  • Alberto Henrique 
  • Teixeira de Barros.

*Colaborou Tatyane Gameiro

LITERATURA

"A MORTE FAZ PARTE DA VIDA"

Psiquiatra e escritora, Natalia Timerman, autora de "As Pequenas Chances" (Editora Todavia), em que, na chave da ficção, aborda a morte do pai, conversa com o público hoje na Hámor Livraria; Lorena Gonçalves e Marcos Vitor participam do bate-papo e a entr

21/11/2024 10h00

"Anoto coisas o tempo todo, em cadernos, nos livros que leio, no próprio celular. Mas quando meu pai estava doente não anotei uma única linha", afirma a escritora Natalia Timerman, que já lançou um romance pela Todavia, entre outras publicações Foto: Renato Parada

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O que pensamos e sentimos e como agimos quando perdemos um familiar? E se quem morrer for seu pai? Natalia Timerman passou pela experiência em 2019. E como, nas suas palavras, “não havia mais nada a se fazer”, sentiu-se instada a escrever o que se tornou “As Pequenas Chances”, segundo romance da psiquiatra e escritora paulista, publicado em 2023 pela Editora Todavia, que ganha lançamento em Campo Grande. A autora conversa com o público hoje, na Hámor Livraria, a partir das 19h, com entrada franca.

Lorena Gonçalves e Marcos Vitor participam do bate-papo, em que a prática da escrita como aliada ao processo de luto familiar e sua articulação com o exercício literário devem pautar o encontro, assim como a expressão autobiográfica e as origens judaicas da autora, que para ela representaram o resgate de tradições que até então desconhecia e que a morte do pai, também médico, em decorrência de um câncer, acabou ocasionando.

Natalia tem 43 anos e é mestre em Psicologia pela Universidade de São Paulo (USP), onde cursa atualmente doutorado em Literatura. Desde o lançamento, “As Pequenas Chances” vem obtendo seguidas resenhas positivas, pelo modo como sua narrativa confessional alinhava fabulação e reflexão pessoal a partir do mote autobiográfico. “Tem trilhado um caminho bonito”, diz a escritora sobre o livro que já ganhou algumas reimpressões e a levou à Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) e a Portugal.

"Anoto coisas o tempo todo, em cadernos, nos livros que leio, no próprio celular. Mas quando meu pai estava doente não anotei uma única linha", afirma a escritora Natalia Timerman, que já lançou um romance pela Todavia, entre outras publicações

Sua produção já publicada inclui “Desterros: Histórias de Um Hospital-Prisão” (Editora Elefante, 2017), a coletânea de contos “Rachaduras” (Quelônio, 2019), que esteve entre os finalistas do prêmio Jabuti, e, também pela Todavia, “Copo Vazio” (2021), seu primeiro romance, em que apresenta a perturbada paixão de Mirela por Pedro, em que “a dúvida e o desalento” se seguem à “felicidade insuportável” do início.

A quatro mãos, com a psicanalista Bel Tatit, publicou “Os Óculos de Lucas” (Brinque-Book, 2022), seu primeiro livro infantil, com ilustrações de Veridiana Scarpelli. Natalia é colunista do portal UOL e colaboradora das revistas Quatro Cinco Um e CULT. Também dá aulas de literatura em cursos livres. Confira, a seguir, o que diz a escritora sobre “As Pequenas Chances”, em entrevista ao Correio B.

Como apresentaria a trama de “As Pequenas Chances”?

“As Pequenas Chances” é um romance sobre a morte de um pai. Um pai médico, cuja filha, narradora do livro, também é médica, um pai que tem um linfoma e entra em cuidados paliativos e morre. É também um livro sobre luto, sobre memória e sobre judaísmo, pois essa filha, que até então não se reconhecia judia, se vê acolhida pelos rituais fúnebres judaicos e decide, depois, empreender uma viagem para as terras de onde vieram seus avós. 

O que motivou o desejo de escrevê-lo e publicá-lo?

Eu anoto coisas o tempo todo, em cadernos, nos livros que leio, no próprio celular. Mas quando meu pai estava doente não anotei uma única linha. Depois que ele morreu, não havia mais nada a se fazer. Por isso escrevi. “As Pequenas Chances” tem um cerne autobiográfico, sustentado por uma ficção, e é um livro que se assume como ficcional. Não pensei se devia ou não publicá-lo, porque o livro já foi concebido como parte do meu percurso como escritora.

O que diria ao leitor?

O leitor encontrará um livro que olha de frente para a dor da perda, mas que não considero um livro triste. É um livro acima de tudo sobre a vida, e a morte faz parte da vida. 

E você? O que espera com a publicação?

O livro foi lançado em outubro de 2023 e tem trilhado um caminho bonito. Me levou à Flip e a diversos outros festivais, foi publicado também em Portugal, de onde voltei há pouco, e já foi reimpresso algumas vezes. 

Como se deu a rotina da escrita?

Eu escrevi a maior parte do livro em uma residência artística para a qual havia ganhado uma bolsa e para onde fui apenas três meses depois da morte do meu pai. Dali, saiu um material denso, bruto, que me emocionou muito ao escrever. Passaram-se três anos antes que eu tocasse naquilo de novo e finalizasse o livro. Esse tempo foi importante, pois me possibilitou distinguir que dor pertencia à narradora e que dor pertencia somente a mim. 

Luto, perda, culpa, vínculos familiares, saudades, suturas. Do ponto de vista pessoal, qual o maior desafio de levar ao papel essa temática?

Escrever sobre a morte de alguém muito amado, se, por um lado, organiza um material doloroso disforme, por outro, revolve esse mesmo material. 
Como o livro parte de eventos autobiográficos, pessoas de verdade estão envolvidas. A Martha, companheira do meu pai, por exemplo, adorou o livro, mas me disse que ela se lembrava de tudo de um jeito muito diferente. Entendi então que eu tinha escrito a minha versão, ou melhor: a versão de uma personagem que viveu coisas que eu não vivi e que se diferencia de mim principalmente porque tem a palavra, o que diante da morte eu não tive. 
Lembro-me do dia do primeiro lançamento, em São Paulo: eu me sentia muito feliz e tinha dificuldade em conciliar essa felicidade com toda a tristeza pela morte do meu pai, que deu origem ao livro. Pareciam coisas incompatíveis, e são, mas o papel da literatura é justamente esse: sustentar contradições.

O que é, afinal, o luto? E por que as pessoas, de modo geral, parecem ter tanta dificuldade com ele? Tanto com o seu próprio processo de enlutamento quanto com o dos outros.

O luto é um longo processo, talvez infinito, de criar uma vida nova depois que se perde algo ou alguém muito importante. A maneira como vivemos, a maneira como consumimos e somos consumidos, desconsidera a morte. Por isso é tão importante falar dela: para que vivamos bem.

Em que medida o fato de ser uma psiquiatra e também o seu percurso de pós-graduação eventualmente afetaram e afetam o processo criativo?

Escrevemos com tudo o que somos, mesmo que não seja sobre nós mesmos. Ser psiquiatra, então, está no cerne da minha escrita, que se embrenha, acho, nos pensamentos, emoções, vergonhas, culpas e segredos das minhas personagens.

Já pensa em um próximo projeto literário?

Minha mãe está muito pouco presente em “As Pequenas Chances”. Meu próximo livro, então, será sobre ela.

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