Gerações de mães e familiares de vítimas de chacinas e de desaparecidos reuniram-se nesta manhã (22) na Igreja da Candelária, em um ato ecumênico, para lembrar os 18 anos da chacina da Candelária, quando policiais militares assassinaram oito meninos de rua, no Centro do Rio de Janeiro.
Centenas de pessoas, na maioria crianças e adolescentes, ocuparam a igreja. Mães da Chacina de Realengo, de Acari, da Baixada Santista, de filhos mortos violentamente compareceram ao evento para exigir Justiça e o fim da violência. Algumas mães passaram mal, devido à emoção que envolveu o evento.
Mãe de Luiza Paula, morta na Chacina de Realengo, em abril passado, Adriana Maria da Silveira, entregou a ministra da secretaria dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, que participou do culto, um documento com solicitações do grupo de familiares e amigos das vítimas da chacina.
"Não estamos pedindo muito, apenas segurança para quem ficou, o sangue de nossas crianças não pode ter sido derramado em vão e a nossa luta vai continuar", disse Adriana.
Maria do Rosário lamentou o alto número de crianças e jovens mortos por causas violentas que, segundo ela, é de cerca de 15 mortes por dia em todo o país. "Todos os dias temos uma tragédia da Candelária no Brasil. E este ato significa que a sociedade se une e cobra de seus governos. Precisamos de uma sociedade ativa e o protagonismo do jovem é fundamental".
A ministra admitiu que faltam mais políticas públicas integradas para solucionar o problema da violência no país, mas lembrou que a Constituição estabelece que crianças e adolescentes são de responsabilidade da sociedade, dos governos e das famílias. "Por isso, precisamos fazer isso juntos".
Na opinião do membro do Conselho Nacional dos Direitos das Crianças, Carlos Nicodemos, após 21 anos da criação do Estatuto da Criança e do Adolescente, o alto número de assassinatos desse grupo ainda é um desafio para a sociedade e para o Estado. "É preciso aprimorar o sistema de proteção, os conselhos tutelares precisam ser qualificados e melhorados para que atuem preventivamente na correção dos direitos violados, enfim o estatuto precisa ser implementado e políticas precisam ser concretizadas para a gente poder virar essa página de violência no Brasil.
Ao fim do evento, dezenas de crianças depositaram no altar fotos com flores de vítimas da violência. Após o culto, a multidão fez uma caminhada até a Cinelândia, que já serviu de palco para inúmeras manifestações sociais como o emblemático movimento das Diretas Já, pelo voto direto, em 1984.