Um novo método para diagnosticar câncer de próstata promete ser mais preciso do que o teste usado hoje, o PSA (antígeno prostático específico, na sigla em inglês).
Exame periódico para achar tumor divide especialistas
O PSA detecta a elevação de uma proteína produzida pela próstata. É um indicativo de câncer, mas é criticado por dar falsos-positivos.
Uma dosagem alta de PSA pode significar também infecção ou crescimento benigno exagerado da próstata.
O novo teste, chamado de 4PLA, foi desenvolvido pela Universidade Uppsala, na Suécia. O estudo com os resultados do exame foi publicado nesta semana no periódico "Proceedings of the National Academy of Sciences".
O exame detecta, no sangue, a quantidade de prostassomas, microvesículas produzidas na próstata.
Normalmente, essas estruturas são liberadas no sêmen para aumentar a mobilidade dos espermatozoides. Se há câncer, a produção das microvesículas aumenta, e elas caem na corrente sanguínea.
No estudo, o teste detectou níveis até sete vezes maiores dessas estruturas no sangue de 20 pacientes com câncer, em comparação com outras 20 pessoas sem câncer.
O exame conseguiu ainda distinguir a gravidade da doença. A diferença foi vista em 59 pacientes com câncer de próstata com graus de 5 a 9 na escala de Gleason. A graduação vai de 2 a 10 e mostra a agressividade da doença.
A primeira versão do teste foi mais precisa para detectar cânceres de média e alta gravidades do que tumores menos agressivos.
Menos biópsias
Especialistas veem os resultados iniciais do teste como promissores.
"Um teste como esse pode ser de grande utilidade clínica, porque o PSA alto nem sempre significa câncer, e muitos pacientes fazem biópsias desnecessárias", diz o urologista Anuar Ibrahim Mitre, do Hospital Sírio-Libanês.
Hoje, dependendo da dosagem do PSA e do exame de toque, além de fatores como história familiar, o paciente pode ser submetido a uma biópsia para saber se tem ou não câncer de próstata.
O procedimento pode causar sangramento e, mais raramente, infecções, além de angústia, afirma Mitre.
Alto ou baixo risco
Como o novo teste determina a gravidade do câncer, ele também pode ser usado para saber se é necessário ou não fazer o tratamento, de acordo com Gustavo Guimarães, oncologista e diretor do núcleo de urologia do Hospital A.C. Camargo.
"O PSA não faz isso, e esse é o diferencial desse novo marcador", afirma Alexandre Crippa, uro-oncologista do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo Octavio Frias de Oliveira.
Alguns tumores progridem lentamente, e o tratamento, que pode causar disfunção erétil e incontinência urinária, pode ser substituído por acompanhamento médico.
"Hoje, não conseguimos diferenciar os pacientes que vão ou não morrer de câncer. Por isso se busca algo que mostre se o câncer é de alto risco, para reduzir o número de tratamentos desnecessários", diz Guimarães.
O pesquisador Masood Kamali-Moghaddam, um dos autores do estudo, afirma que o teste precisa de melhorias. Os resultados iniciais devem ser sustentados por uma pesquisa maior, que já começou.
"Ainda pode levar alguns anos até que o exame seja usado de forma rotineira", afirmou à Folha.
Ultrassom 3D
Um novo método, que une ressonância magnética e ultrassom 3D, faz biópsias mais precisas e pode ajudar a distinguir a gravidade do câncer. A tecnologia foi desenvolvido pela Universidade da Califórnia e pode beneficiar quem já fez biópsia e continua com PSA alto e quem faz acompanhamento de tumor de baixo risco.
Para Guimarães, o teste, de alta tecnologia e, portanto, mais caro, pode ser usado de forma complementar ao PSA e indicado para os pacientes que têm resultados alterados.