A meta do Brasil para os próximos dez anos é triplicar a produção anual de petróleo e gás, fazendo com que o setor abocanhe 67% do investimento previsto de R$ 1 trilhão para todo o setor energético do país. Segundo o presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim, que apresentou hoje (6), no Rio de Janeiro, o Plano Decenal de Expansão de Energia (PDE 2020), a produção brasileira de petróleo deve passar dos atuais 2,1 milhões de barris diários para 6,1 milhões em 2020, como consequência da exploração do pré-sal.
“O consumo vai aumentar, mas o grosso disso vai para o mercado externo”, explicou Tolmasquim, alertando que o volume considera tanto a produção da Petrobras como de todo o setor privado. De acordo com o PDE, metade da produção será destinada às exportações.
Em relação ao gás natural, a estimativa da EPE é de um salto da oferta dos atuais 58 milhões de metros cúbicos (m³) por dia em 2011 para 142 milhões m3/dia em 2020.
O PDE, que já está aberto à consulta pública na página do Ministério de Minas e Energia na internet, também projeta aumento expressivo da demanda por etanol no mercado brasileiro como resultado da expansão dos veículos bicombustível, que hoje representam metade da frota nacional, mas que devem chegar a 78% dos automóveis em circulação no país em 2020. Além disso, a EPE projeta que o preço do etanol será competitivo em relação ao da gasolina. A oferta de etanol concentra quase a totalidade dos investimentos previstos para a área de biocombustíveis, que somam R$ 97 bilhões.
“Quando aumenta o flex [carro bicombustível], aumenta também o consumo do etanol. Historicamente, 70% das pessoas que têm carro flex consomem etanol em vez de gasolina”, explicou Tolmasquim. A projeção é que a oferta de etanol acompanhe o aumento de demanda, afastando a possibilidade de faltar o biocombustível em função do preço, das condições climáticas e das sazonalidades de safra.
Em relação à energia elétrica, Tolmasquim também apresentou um cenário otimista. Segundo o PDE, o Brasil já contratou 70% da energia elétrica necessária para atender o aumento da demanda projetado até 2020, de 4,7% ao ano, em média (para um crescimento da economia estimado em 5% ao ano). Os 30% restantes, que ainda precisam ser contratados, terão como origem prioritária as fontes renováveis, com menos participação das hidrelétricas, que hoje representam 75% da capacidade instalada, mas que deve cair para 67% até 2020.
“No que diz respeito à geração, a hidreletricidade continua sendo a prioridade, acompanhada de perto pela energia eólica e a biomassa. Não podemos descartar as térmicas à gás já que, com o pré-sal, houve uma grande descoberta de gás natural e o gás poderá também ter um papel importante nessa matriz”, explicou o presidente da EPE.
Sobre energia nuclear, Maurício Tolmasquim mostrou cautela e lembrou que o PDE já previa a construção da terceira usina em Angra dos Reis como única planta nuclear projetada para esta década. “Após esse período, podemos esperar uma discussão sobre qual o papel da energia nuclear na matriz brasileira. Tem um grande debate apos [o vazamento de radiação nas usinas de] Fukushima, no Japão. Houve a desativação das usinas na Alemanha. Mas temos que considerar que o Brasil tem um grande potencial, domina o enriquecimento [de urânio] e tem a sexta reserva de urânio do mundo. Portanto, não devemos considerar que vamos abrir mão dessa tecnologia, mas devemos discuti-la olhando os prós e contras para ver em que ritmo devemos explorá-la”.