Na aula de bonsai, Tsuneo Takada, 82, aperta com força a tesoura de cortar galhos e levanta para ver como a árvore está crescendo. Nada surpreendente se ele não tivesse perdido parte dos movimentos em um derrame, do qual se recupera há quatro anos.
"Os médicos disseram que ele tinha dois anos para se recuperar. Depois, era difícil ter melhora", lembra Cleide Takada, 54, filha de Tsuneo.
Foram dois anos de terapia, sem muito resultado. Até que a família convidou Kenji Sugui, paisagista que cuidava do jardim japonês da casa, para ensinar bonsai a Tsuneo duas vezes por semana.
Sugui nunca tinha feito isso. O bonsai era um hobby, adotado depois de ele ter trocado a publicidade pelo paisagismo, há 12 anos.
"O bonsai foi uma saída para mim. Eu tive problemas de saúde por ansiedade. Funcionou como terapia."
No começo, as aulas foram orientadas por Cecilia Biesemeyer, terapeuta ocupacional. Mesas e apoios foram adaptados. Os resultados começaram a aparecer logo.
"É uma atividade que deixa ele feliz, nem percebe que está se exercitando, não pensa que é uma tarefa como os outros exercícios", diz Cleide. Segundo ela, seu pai não para de melhorar.
Não foi um milagre. "O bonsai é uma atividade que estimula a capacidade de planejamento, a coordenação motora e a concentração. Além do mais, é algo de que esse paciente gosta", diz a terapeuta. Sempre que pode, ela utiliza a jardinagem na reabilitação de pessoas com dificuldades motoras.
Para Fábio Noronha, autor do livro "Cultivando Bonsai no Brasil" (Escrituras, 172 págs., R$ 36,90), essas miniaturas vivas exigem mais dedicação do que plantas comuns, fazendo com que a pessoa estabeleça um vínculo afetivo com elas. "É uma relação intensa e benéfica. Quem sofre de ansiedade melhora com a prática."
Noronha diz que qualquer um pode ter um bonsai, se estiver disposto a cuidar dele. "Não é frágil ou difícil. Mas as pessoas são acostumadas a ter plantas como se fossem objetos. Um bonsai não sobrevive se for esquecido."