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DEMOCRACIA

Autor de atentado já teve de discoteca a chaveiro e sofreu com enchente de 2023

Nesta quinta-feira, agentes da Polícia Federal vistoriaram endereços ligados a Francisco em sua cidade natal, em Rio do Sul, SC

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Em Rio do Sul, uma cidade do interior de Santa Catarina com pouco mais de 70 mil habitantes, o homem que levou artefatos explosivos para a praça dos Três Poderes era chamado apenas de "França" e não era visto pelos vizinhos e conhecidos há pelo menos dois meses.

França tinha decidido trabalhar com um dos seus filhos em Barra Velha (SC), em um negócio envolvendo consertos de elevadores, e não foi visto mais na vizinhança, hoje atônita com o atentado em Brasília.

Francisco Wanderlei Luiz, o França, era visto pelos colegas como "boa gente" e integrante de uma família bastante conhecida na cidade e envolvida com comércio.

Um dos irmãos tem uma loja tradicional de instrumentos musicais no centro —sua filha, a sobrinha de França, abriu uma imobiliária. Nesta quinta-feira (14), a loja do irmão amanheceu fechada, ao contrário de todo o comércio da região.

França era chaveiro, mas também já foi dono de discoteca, negócio que fechou na esteira de problemas como brigas entre frequentadores e PM constantemente acionada.

Mas França era visto como uma "pessoa tranquila e disposta a ajudar", na descrição de Lourdes Fernandes, 62, uma das funcionárias de um restaurante onde ele costumava almoçar. "Era uma pessoa normal para nós. Ele aparentava ser gente boa. Oferecia ajuda, auxiliava. E a família dele toda é assim", diz.

Colegas mais próximos não entenderam o atentado em Brasília e nem sabiam que França transitava pela capital do país. Também não davam atenção para conversas sobre política.

"Eu nem me lembrava mais que ele tinha sido candidato", diz Valdir Farias, 59, comerciante. "Ele até falava de política, mas a gente dava pouca brecha para este assunto. Como a gente tem comércio, era melhor não dar espaço", revela.

Farias conhecia França "das antigas, da discoteca". "Temos a mesma idade. Ele era simpático, todo mundo se dava com ele. Não sei como ele foi fazer um troço deste. Estamos em choque", afirma.

Farias tem uma loja de carros próxima ao último endereço de França na cidade, no bairro Budag, uma região que sofreu com as enchentes no final de 2023. "Ele ficou meio desnorteado na época, meio triste, deu uma depressão. Meu negócio aqui também ficou embaixo d'água", lembra.

Outro colega, o jardineiro Fernando Santos de Souza, 57, conta que às vezes França "falava por aí em salvar a pátria". "Mas não tinha conversa de política, era uma pessoa calma", diz.

"Uma pessoa do bem, na dele, nunca desaforou nem humilhou ninguém. Eu não sei o que deu nele", afirma o jardineiro.
França foi candidato a vereador pelo PL em 2020, mas conseguiu menos de cem votos nas urnas e não foi eleito. Em 2024, não se candidatou novamente.

Presidente do PL do Rio do Sul desde junho de 2023, Milton Goetten de Lima disse à reportagem que não conhecia França. "Sei que a família dele é boa, conhecida na cidade. Mas não tenho nenhuma informação a mais, que eu possa acrescentar", diz.
O candidato do PL à Prefeitura do Rio do Sul, Manoel, venceu nas urnas de outubro.

Camila Regiane Santos, 30, que trabalha com redes sociais, afirma que "a grande maioria aqui é de direita, mas é um povo pacífico". "Ser de direita, e ser de direita e fazer o que ele fez, é uma diferença muito grande. Foi uma surpresa para todo mundo", conta ela.

Nas eleições de 2022, Jair Bolsonaro (PL) foi o candidato mais votado na cidade, no segundo turno da disputa contra Lula (PT) para a presidência da República. Bolsonaro recebeu 76,5% dos votos válidos, contra 23,5% do petista.

Moradores observam com apreensão os desdobramentos do episódio em Brasília. Temem que a cidade seja associada a terroristas.

"Hoje [14, quinta-feira] de manhã estava um alvoroço porque a Polícia Federal estava aqui. E isso não é comum. Aqui é uma cidade sem assalto, a gente deixa as portas das casas abertas", afirma Camila.

"Dá um medo. A gente não sabe mesmo quem é seu vizinho", acrescenta.

A Polícia Federal esteve em endereços ligados ao autor do atentado na parte da manhã desta quinta.

Um dos locais foi um terreno no bairro Budaq, onde há duas construções simples e aparentemente abandonadas. Uma pequena bandeira do Brasil colada em uma das paredes externas está entre os vestígios. Também estão presentes os paineis apontando que ali havia um chaveiro.

Na parte da manhã, a ex-companheira de França estava no local. Ela disse à PF que os planos de França incluíam matar o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal). A reportagem, que esteve no endereço à tarde, não encontrou a mulher.

Os vizinhos relatam que ela teria voltado para o endereço depois que França seguiu para Barra Velha, mas que não possuem contato com ela. Também relatam que França teria cortado a rede elétrica do imóvel, para que ele não fosse usado, mas o contexto não é claro.

Colegas de França também contam que ele teria dois filhos com a primeira esposa —além do filho em Barra Velha, também uma filha que moraria em outro país. Ele teria também um enteado, um adolescente que o ajudava no comércio de chaves e que seria filho da mulher encontrada no endereço em Budaq.

A reportagem tentou falar com os filhos nesta quinta, mas não teve respostas.

Antes do atentado, França publicou nas redes sociais referências a bombas e explosões e disse que a Polícia Federal teria que desarmar o equipamento.

"Vamos jogar??? Polícia Federal, vocês têm 72 horas para desarmar a bomba que está na casa dos comunistas de merda", disse ele, em capturas de tela de celular publicadas em sua página no Facebook.
 

(Informações da Folhapress)

 

DIREITOS HUMANOS

G20 Social: racismos algorítmico e ambiental são destaque no 1º dia

Ativistas denunciam riscos de novas tecnologias

14/11/2024 20h00

Foto: Tomaz Costa / Agência Brasil

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O primeiro dia de atividades autogestionadas no G20 Social, nesta quinta-feira (14), teve como um dos destaques discussões sobre dois tipos de racismo: algoritmico – ligado às novas tecnologias – e ambiental, representado por descaso com as populações mais vulneráveis.

O G20 Social é um ambiente de incentivo à participação da sociedade civil organizada que acontece até o próximo dia 16, às vésperas da reunião de cúpula do G20, grupo que reúne as principais economias do mundo. Os debates promovidos por movimentos sociais e organizações não governamentais (ONG) acontecem em galpões e armazéns na região portuária do Rio de Janeiro. 

Entre as cerca de 270 atividades autogestionadas programadas, diversas se debruçam sobre temas ligados à desigualdade racial. Uma delas foi proposta pela ONG Instituto Internacional sobre Raça, Igualdade e Direitos Humanos, que levou às pessoas que acompanharam a mesa a preocupação sobre o viés racista de novas tecnologias.

A diretora de programas da Anistia Internacional Brasil, Alexandra Montgomery, levantou a questão sobre como a inteligência artificial (IA) tem impactado a vida das pessoas, em especial as negras e as que vivem em comunidades mais vulnerabilizadas.

Segundo ela, algumas tecnologias têm sido apontadas como solução para problemas complexos, como a segurança pública, mas têm gerado, pelos vieses que estão inseridos nessas tecnologias, um impacto desproporcional.

“Esses algoritmos e tecnologia de inteligência artificial de reconhecimento facial, especialmente com inteligência preditiva, têm vulnerabilizado ainda mais as pessoas negras, pois são tidas como suspeitas. Elas são identificadas ou mal identificadas, há muitos erros nessas tecnologias”, disse à Agência Brasil.

Inteligência artificial preditiva é a capaz de usar o aprendizado de máquina para identificar padrões em eventos passados. 

“A população negra já é a mais atingida em número de mortos pelas polícias, em número de pessoas presas e detidas e, agora, com uso dessas tecnologias, a situação é ainda pior”, completa Alexandra.

Um estudo publicado na última quinta-feira (7) pela Rede de Observatórios da Segurança mostra que quase 90% dos mortos por policiais em 2023 eram negros.

Reconhecimento facial
O coordenador do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC) da Universidade Cândido Mendes, Pablo Nunes, aponta que sistemas de reconhecimento facial têm comportamentos racistas dentro e fora do Brasil. 

“É muito mais provável que uma pessoa negra seja reconhecida equivocadamente por esses sistemas do que brancas. Isso aprofunda problemas e racismo estruturais que já existem na sociedade”, diz, acrescentando que “o uso da tecnologia, muitas vezes, não é transparente”.

Para ele, aqui no país os equívocos resultam em uma situação mais desafiadora para a população negra. “A gente tem uma tecnologia que falha mais para pessoas negras atrelada a uma segurança pública no Brasil que já coloca pessoas negras como os principais alvos de violências e violações de direitos”. 

O pesquisador entende que erros nos sistemas de reconhecimento são alimentadas por diferentes fatores. Um deles é técnico, ou seja, algoritmos são desenhados de determinada maneira que não conseguem reconhecer eficientemente pessoas negras. 

Outro elemento “é problema da diversidade dos times de desenvolvimento desses sistemas”, aponta. Há ainda, segundo o pesquisador, “um problema da própria sociedade, que pensa que usar reconhecimento facial na segurança pública pode ser uma resposta simples a problemas complexos, colocando em xeque os direitos da população negra”. 

Injustiça climática

Outra face do racismo denunciado no G20 Social é o ambiental, ligado à emergência climática, que torna mais frequentes eventos extremos como inundações, deslizamentos e ondas de calor. O tema ganhou voz com a ativista Luzia Camila, que representou o coletivo Confluência das Favelas em uma das atividades autogestionadas. Ela veio de Capanema, no interior do Pará, para participar do evento.

O coletivo buscou informações relacionadas a justiça climática em periferias e comunidades de cinco capitais, Macapá, Manaus, Rio de Janeiro, São Paulo e Recife. Com base nos relatos coletados, foi possível concluir, segundo ela, que a população negra é a mais afetada pelos eventos extremos, o que ela classifica como “injustiça climática”.

“Existe um direcionamento dessas injustiças e dessas crises. As periferias são territórios afetados, pois não recebem, de fato, as políticas públicas de urbanização, adaptação climática e ambiental necessárias para a vivência e sobrevivência dessas populações”, disse à Agência Brasil.

De acordo com um suplemento do Censo 2022, divulgado na última sexta-feira (8) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), pretos e pardos são 72,9% dos moradores de favelas no país.

A ativista paraense enfatiza que a situação de racismo ambiental não é exclusivamente inerente às pessoas pretas. “Existe uma outra diversidade étnica, que envolve ribeirinhos, extrativistas, indígenas que também estão ocupando outros tipos de periferias, de marginalidades”.

Luiza Camila acredita que as discussões e articulações do G20 Social são uma forma de evidenciar realidades e contextos de periferias e favelas.

“A ideia é realmente mostrar esses dados, entender o espaço do G20 como um lugar ideal para que a gente possa pensar conjuntamente políticas públicas, ações de mobilização, ações de formação para que a gente possa se virar para esses territórios, entender os conflitos e as necessidades desses lugares”, finaliza.

Participação social

Além de organizações da sociedade civil poderem expor e conduzir debates, o G20 Social permite o contato do público com assuntos de interesse. Carlos Roberto de Oliveira seguiu de Campinas, interior paulista, para o Rio de Janeiro apenas para presenciar o espaço de articulação popular.

“Vim aqui para aprender”, disse à Agência Brasil, após assistir ao debate sobre novas tecnologias e racismo. Segundo ele, o conhecimento reforça a luta antirracista na cidade em que mora. 

“É extremamente importante para a nossa defesa, para o enfrentamento que nós precisamos fazer, da luta antirracista, que não é uma luta só aqui no Brasil, mas é uma luta no mundo”, afirmou Oliveira, que atua em articulação com comunidades tradicionais de terreiros, em Campinas, contra intolerância racial.

Para Alexandra Montgomery, da Anistia Internacional Brasil, informação e mobilização social são um dos caminhos para a busca de um mundo mais justo.

“É importantíssimo que a gente consiga fazer com que essas mensagens cheguem ao maior número possível de pessoas. É importante a gente ter um espaço de troca entre a sociedade civil e de troca com a população em geral”, afirma.

Cúpula de líderes

Desde o fim do ano passado, o Brasil ocupa a presidência rotativa do G20. É a primeira vez que as reuniões do fórum de países são precedidas por uma agenda de encontros entre a sociedade civil. A iniciativa é uma inovação da presidência brasileira. A África do Sul, próximo país a sediar o G20, já manifestou que seguirá com a iniciativa de participação popular.

O ponto derradeiro da presidência brasileira será a reunião de cúpula de chefes de Estado e de governo, nos dias 18 e 19 de novembro, no Rio de Janeiro. O presidente Lula se comprometeu a entregar aos líderes dos países os cadernos de propostas aprovadas por grupos de engajamento do G20 Social.

O G20 é composto por 19 países: África do Sul, Alemanha, Arábia Saudita, Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, China, Coreia do Sul, Estados Unidos, França, Índia, Indonésia, Itália, Japão, México, Reino Unido, Rússia e Turquia, além da União Europeia e da União Africana.

Os integrantes do grupo representam cerca de 85% da economia mundial, mais de 75% do comércio global e cerca de dois terços da população do planeta.

*Com informações da Agência Brasil

ATENTADO AO STF

Não é aceitável propor anistia a pessoa que atenta contra Poderes, diz diretor da PF

Supremo Tribunal Federal (STF) foi alvo de tentativa de atentado na noite desta quarta-feira (13); responsável se matou logo após explosão

14/11/2024 12h34

STF foi alvo de atentado na noite desta quarta-feira (13)

STF foi alvo de atentado na noite desta quarta-feira (13) Foto: Bruno Peres / Agência Brasil

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O diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Passos, disse "não ser aceitável" propor anistia a pessoas que atentam contra o Estado Democrático de Direito. A declaração foi dada durante entrevista coletiva à imprensa encerrada nesta quinta-feira, 14, para prestar esclarecimentos sobre as explosões na Praça dos Três Poderes na noite de quarta-feira, 13. Um homem atirou explosivos contra o Supremo Tribunal Federal (STF) e, em seguida, se matou.

Passos disse que faz "coro" às palavras do ministro do Supremo Alexandre de Moraes, que mais cedo mandou recado ao Congresso sobre a proposta de anistia aos envolvidos na invasão dos prédios dos Três Poderes no 8 de Janeiro de 2023, em tramitação na Câmara, dizendo não ser possível pacificação com "anistia a criminosos".

"Não é aceitável que se proponha anistia para esse tipo de pessoa", declarou Passos na entrevista. "Hoje, o ministro Alexandre de Moraes já comentou esse assunto e faço coro às suas palavras. Vejo a gravidade e extensão desse processo. Não é razoável pessoas cometerem atos terroristas, tensionarem, assassinarem, atentarem contra um Poder. Tentar vitimar policiais, porque ele sabia que policiais iam na sua residência e deixou um artefato para matar os policiais que ingressaram na residência", declarou. O diretor-geral da PF relatou que a equipe entrou com um robô na casa onde o homem que se matou na Praça dos Três Poderes se hospedou em Ceilândia (DF). Esse robô antibombas, ao abrir gavetas na residência, causou uma "explosão gravíssima", nas palavras de Passos.

Passos disse que a investigação da PF "dirá se a pessoa agiu isoladamente ou em conjunto, com apoio financeiro". Mas ele afirmou na coletiva não acreditar que o caso seja um "fato isolado". "Grupos extremistas estão ativos e é preciso que atuemos de maneira enérgica, não só PF, mas todo o sistema de justiça criminal. Episódio de ontem não é fato isolado, mas conectado com diversas ações que a PF tem investigado", disse o diretor-geral da Polícia Federal.

Segundo ele, a Polícia Federal investiga o fato a partir de duas perspectivas: primeiro, a tentativa de atentado contra o Estado Democrático de Direito e, segundo, uma ação terrorista. Por isso, disse, o caso foi encaminhado ao Supremo.

Passos afirmou ainda que a PF apreendeu um celular e vários artefatos na residência alugada e no trailer do homem responsável pelas explosões. Esses itens serão usados na investigação sobre o caso.

O diretor-geral da PF confirmou que há relatos da ex-mulher do homem responsável pelo ato de que o alvo seria o ministro Alexandre de Moraes. "O áudio (da ex-esposa do autor do atentado) é muito categórico, e há outras mensagens de redes sociais, inclusive enviadas ao STF ameaçando a Corte como um todo. A fala da senhora é que o alvo dessa pessoa era o ministro Alexandre de Moraes", completou.

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