Brasil

RISCO

Déficit previdenciário do setor público bate recorde de R$ 6 tri e pode disparar com STF

A ação de maior efeito procura reestabelecer a contribuição linear de 11% para todos os servidores, qualquer que seja a remuneração

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Com um rombo atuarial recorde de R$ 6 trilhões, os regimes previdenciários de União, estados e municípios vêm acumulando déficits insustentáveis e derrubando a capacidade de investimentos públicos no país.

O montante equivale a 84% da dívida pública federal (R$ 7,1 trilhões) e, ao contrário desta, não pode ser rolado com a emissão de títulos, pois trata-se de pagamentos mensais a milhões de aposentados do setor estatal.

Em 2017 no Rio de Janeiro, por exemplo, servidores e aposentados realizaram protestos, entrando em confronto com a polícia, por atrasos no pagamento. O risco, no futuro, é que vários estados e municípios passem pelo mesmo.

Só no governo federal, em pouco mais de 30 anos a despesa previdenciária saltou de 19,2% do total do gasto para 52%, segundo cálculos do especialista em contas públicas Raul Velloso. Na contramão, o que a União tinha para usar livremente (gasto discricionário) desabou de 33,7% do total para 3,1%.

Quem mais sofreu foram os investimentos, que recuaram de 16% do total do gasto para 2,2%. No período, houve aumento também em despesas com saúde, educação e assistência social —comprimindo mais os investimentos. Na esteira da redução dos aportes públicos, o PIB do país também apresentou taxas menores.

AÇÃO NO STF

Esse quadro crítico pode se tornar mais grave caso o STF (Supremo Tribunal Federal) julgue procedentes ações diretas de inconstitucionalidade (ADIs) de grupos do funcionalismo que pretendem eliminar efeitos da reforma da Previdência de 2019 —o que diminuiria o fluxo de contribuições dos servidores para o RPPS (Regime Próprio de Previdência Social).

A AGU (Advocacia Geral da União) estima que quatro pontos contestados podem gerar rombo de R$ 206,4 bilhões. O valor pode ser maior considerando os regimes previdenciários de muitos estados e municípios que fizeram reformas com base no texto aprovado em 2019 para os servidores federais —o mesmo que valeu para o setor privado (RGPS), e que pretendia economizar cerca de R$ 900 bilhões em dez anos.

A ação de maior efeito procura reestabelecer a contribuição linear de 11% para todos os servidores, qualquer que seja a remuneração. A reforma introduziu a progressividade para os funcionários públicos (assim como existe para os da iniciativa privada), com alíquotas entre 7,5% e 22%. Com votação empatada no STF, caso a decisão seja favorável, o rombo seria de R$ 74 bilhões.

Servidores geralmente têm rendimentos maiores que os pagos no setor privado formal, além de estabilidade no emprego e outras vantagens. Segundo a Republica.org (organização da sociedade civil que se dedica à transformação da gestão de pessoas no setor setor público), só nos municípios o provento médio deles é próximo ao da iniciativa privada formal, R$ 3.900 e R$ 3.400, respectivamente.

Outra ação quer eliminar a prerrogativa da União de cobrar contribuição extraordinária de servidores ativos e inativos que ganhem acima de um salário mínimo.

Antes da reforma, a cobrança só incidia sobre aqueles com rendimentos maiores que o teto do INSS (R$ 7.786). A União ainda não implementou a contribuição extra. Mas, caso o STF rejeite a medida, o impacto será de R$ 71,5 bilhões.

As ações também contestam o aumento da base de cálculo para a contribuição de aposentados e pensionistas. A reforma prevê que ela incida sobre todos os rendimentos acima de um salário mínimo, quando houver déficit. Já há maioria na Corte, e o impacto seria de R$ 55 bilhões.

"Estamos andando para trás. A reforma da Previdência de 2019 teve o grande mérito de aproximar o regime do setor público ao da iniciativa privada. E previu mecanismos para controlar o déficit atuarial dos regimes próprios [públicos], com a alíquota progressiva. Isso vai ser derrubado, o que é inacreditável", diz Paulo Tafner, economista e um dos maiores especialistas em Previdência do país.
 

Tafner afirma que, com essas decisões, o STF pode "reestabelecer privilégios e jogar a situação fiscal do país no caos". Ele lembra que a Emenda Constitucional 103, da reforma da Previdência, custou "muita briga e convencimento" e foi aprovada em várias votações no Congresso. "Aí, em uma canetada, 11 ministros do Supremo podem passar por cima de deputados e senadores."

O especialista estima um impacto total, caso as ADIs sejam aprovadas, de R$ 389 bilhões, valor ainda maior do que o calculado pela AGU. Ele lembra que o déficit previdenciário do setor público é cinco vezes maior do que o do setor privado.
O ex-secretário da Previdência Leonardo Rolim calcula que cerca da metade do déficit atuarial de R$ 6 trilhões do regime previdenciário público seja dos estados e o restante, da União e dos municípios.

Rolim afirma que os déficits da União e de estados grandes como São Paulo e Minas Gerais não estão sendo equacionados, enquanto outros entes municipais e estaduais têm adotado medidas —como alíquotas progressivas e extraordinárias— para corrigir os rombos ao longo das próximas décadas.

"Infelizmente, muitos políticos só pensam no próximo ano. Se tomarem medidas, têm um custo no curto prazo. Assim, acabam deixando para os próximos, pois estão mais preocupados em ter dinheiro disponível no presente", afirma.

O artigo 40 da Constituição determina que aos "servidores titulares de cargos efetivos da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios, incluídas suas autarquias e fundações, é assegurado regime de previdência de caráter contributivo, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial".

Segundo Rolim, sem medidas para conter o déficit, há um descumprimento sistemático do que a Carta prevê. "Não fazer nada é, por exemplo, não usar o regime da reforma da Previdência de 2019, e não implementar planos de equacionamento do déficit", afirma.
 

 

QUEIMA DE ARQUIVO

 Ataque com 2 mortos em Guarulhos completa uma semana sem presos

Por enquanto, somente alguns policiais civis e militares foram afastados de suas funções, por serem seguranças da vítima ou por terem sido delatados por ela

16/11/2024 07h13

Além de Antônio Vinícius Gritzbach, um motorista de aplicativo também foi atingido por disparo de fuzil e acabou morrendo

Além de Antônio Vinícius Gritzbach, um motorista de aplicativo também foi atingido por disparo de fuzil e acabou morrendo

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O ataque a tiros de fuzil que deixou dois mortos na entrada do Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, completou nesta sexta-feira (15) uma semana sem nenhum suspeito preso.

Policiais militares e civis foram afastados de suas funções, seja por cometer infração disciplinar ao integrar a escolta particular do empresário Antônio Vinícius Gritzbach, 38, que era o alvo do ataque, ou por terem sido delatados por ele.

A investigação ainda não conseguiu identificar, no entanto, os criminosos que executaram o crime. Nesta parte do inquérito, por enquanto a polícia já conseguiu encontrar o carro usado pelos assassinos e confirmar que armas apreendidas no veículo são as mesmas atingiram as vítimas. Além de Gritzbach, o motorista de aplicativo Celso Araújo Sampaio de Novais, 41, também foi atingido e morto.

Nesta sexta, a delegada Ivalda Aleixo, do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa), disse que a polícia conseguiu identificar a pessoa que instalou uma sirene e um equipamento luminoso no carro utilizado pelos criminosos.

A partir disso, a polícia espera chegar aos executores do crime, que estavam num Volkswagen Gol preto armados com fuzis, e abandonaram o veículo a cerca de 7 km de distância do local crime.

O assassinato foi cometido por ao menos dois homens que saíram do Gol preto e fuzilaram Gritzbach, que havia acabado de deixar o desembarque do terminal 2. Ivalda disse que nenhum dos ocupantes do carro foi identificado até o momento. Ninguém foi preso.

"Identificamos a pessoa que instalou uma sirene e um highlight [luminoso] no caso", disse a delegada. "Esses equipamentos são irregulares." Ela não deu mais detalhes da investigação.

Delator do PCC (Primeiro Comando da Capital) e de policiais, Gritzbach fez denúncias contra policiais civis à Corregedoria do órgão, e foi assassinado ao voltar de uma viagem ao Nordeste. Embora tivesse uma escolta particular formada por quatro policiais militares, apenas dois agentes, que não reagiram, estavam próximos dele no momento.

Em um acordo de delação premiada, ele acusou policiais civis de exigirem R$ 40 milhões em troca do encerramento do inquérito que investigava sua participação na morte de dois integrantes da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital).
 

Gritzbach era o principal suspeito de ser mandante do assassinato de Anselmo Becheli Santa Fausta, o Cara Preta, em dezembro de 2021 na zona leste de São Paulo.

Como a Folha mostrou, na lista de policiais delatados pelo empresário estão integrantes do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa), Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais) e 24º DP (Ponte Rasa), na zona leste. "Cujas condutas apuradas configuram, em tese, os crimes dos artigos 316 do Código Penal (concussão), artigo 317 do Código Penal (corrupção passiva), artigo 288 do Código Penal (associação criminosa), dentre outros", diz trecho de documento da Promotoria.
 

Gritzbach também acusou policiais de terem roubado relógios e joias durante ação de busca e apreensão em sua casa durante as investigações do duplo homicídio.

Na última quarta-feira (13), a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo afirmou que todos os policiais civis citados na delação de Gritzbach foram afastados de seus cargos operacionais e encaminhados a funções administrativas.

Antes disso, oito policiais militares também haviam sido afastados —estes integravam a escolta particular de Gritzbach e já eram investigados pela Corregedoria da PM havia um mês, segundo o secretário Guilherme Derrite.

Questionada, a SSP (Secretaria de Segurança Pública) informou que "testemunhas e partes envolvidas já prestaram depoimento e os policiais militares que faziam a segurança de uma das vítimas foram afastados de suas atividades operacionais até o fim das investigações".

"Além deles, outros policiais também são alvo de Inquérito Policial Militar, que corre sob segredo de Justiça há cerca de um mês", afirmou.

A pasta também afirmou que a Polícia Civil, paralelamente, instaurou uma "apuração preliminar para apurar as denúncias contra agentes" e que "as corregedorias das duas instituições acompanham as investigações para que todas as medidas pertinentes sejam adotadas".
 

(Informações da Folhapress)

DEMOCRACIA

Autor de atentado já teve de discoteca a chaveiro e sofreu com enchente de 2023

Nesta quinta-feira, agentes da Polícia Federal vistoriaram endereços ligados a Francisco em sua cidade natal, em Rio do Sul, SC

15/11/2024 07h24

França era visto pelos colegas como

França era visto pelos colegas como "boa gente" e integrante de uma família bastante conhecida na cidade e envolvida com comércio

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Em Rio do Sul, uma cidade do interior de Santa Catarina com pouco mais de 70 mil habitantes, o homem que levou artefatos explosivos para a praça dos Três Poderes era chamado apenas de "França" e não era visto pelos vizinhos e conhecidos há pelo menos dois meses.

França tinha decidido trabalhar com um dos seus filhos em Barra Velha (SC), em um negócio envolvendo consertos de elevadores, e não foi visto mais na vizinhança, hoje atônita com o atentado em Brasília.

Francisco Wanderlei Luiz, o França, era visto pelos colegas como "boa gente" e integrante de uma família bastante conhecida na cidade e envolvida com comércio.

Um dos irmãos tem uma loja tradicional de instrumentos musicais no centro —sua filha, a sobrinha de França, abriu uma imobiliária. Nesta quinta-feira (14), a loja do irmão amanheceu fechada, ao contrário de todo o comércio da região.

França era chaveiro, mas também já foi dono de discoteca, negócio que fechou na esteira de problemas como brigas entre frequentadores e PM constantemente acionada.

Mas França era visto como uma "pessoa tranquila e disposta a ajudar", na descrição de Lourdes Fernandes, 62, uma das funcionárias de um restaurante onde ele costumava almoçar. "Era uma pessoa normal para nós. Ele aparentava ser gente boa. Oferecia ajuda, auxiliava. E a família dele toda é assim", diz.

Colegas mais próximos não entenderam o atentado em Brasília e nem sabiam que França transitava pela capital do país. Também não davam atenção para conversas sobre política.

"Eu nem me lembrava mais que ele tinha sido candidato", diz Valdir Farias, 59, comerciante. "Ele até falava de política, mas a gente dava pouca brecha para este assunto. Como a gente tem comércio, era melhor não dar espaço", revela.

Farias conhecia França "das antigas, da discoteca". "Temos a mesma idade. Ele era simpático, todo mundo se dava com ele. Não sei como ele foi fazer um troço deste. Estamos em choque", afirma.

Farias tem uma loja de carros próxima ao último endereço de França na cidade, no bairro Budag, uma região que sofreu com as enchentes no final de 2023. "Ele ficou meio desnorteado na época, meio triste, deu uma depressão. Meu negócio aqui também ficou embaixo d'água", lembra.

Outro colega, o jardineiro Fernando Santos de Souza, 57, conta que às vezes França "falava por aí em salvar a pátria". "Mas não tinha conversa de política, era uma pessoa calma", diz.

"Uma pessoa do bem, na dele, nunca desaforou nem humilhou ninguém. Eu não sei o que deu nele", afirma o jardineiro.
França foi candidato a vereador pelo PL em 2020, mas conseguiu menos de cem votos nas urnas e não foi eleito. Em 2024, não se candidatou novamente.

Presidente do PL do Rio do Sul desde junho de 2023, Milton Goetten de Lima disse à reportagem que não conhecia França. "Sei que a família dele é boa, conhecida na cidade. Mas não tenho nenhuma informação a mais, que eu possa acrescentar", diz.
O candidato do PL à Prefeitura do Rio do Sul, Manoel, venceu nas urnas de outubro.

Camila Regiane Santos, 30, que trabalha com redes sociais, afirma que "a grande maioria aqui é de direita, mas é um povo pacífico". "Ser de direita, e ser de direita e fazer o que ele fez, é uma diferença muito grande. Foi uma surpresa para todo mundo", conta ela.

Nas eleições de 2022, Jair Bolsonaro (PL) foi o candidato mais votado na cidade, no segundo turno da disputa contra Lula (PT) para a presidência da República. Bolsonaro recebeu 76,5% dos votos válidos, contra 23,5% do petista.

Moradores observam com apreensão os desdobramentos do episódio em Brasília. Temem que a cidade seja associada a terroristas.

"Hoje [14, quinta-feira] de manhã estava um alvoroço porque a Polícia Federal estava aqui. E isso não é comum. Aqui é uma cidade sem assalto, a gente deixa as portas das casas abertas", afirma Camila.

"Dá um medo. A gente não sabe mesmo quem é seu vizinho", acrescenta.

A Polícia Federal esteve em endereços ligados ao autor do atentado na parte da manhã desta quinta.

Um dos locais foi um terreno no bairro Budaq, onde há duas construções simples e aparentemente abandonadas. Uma pequena bandeira do Brasil colada em uma das paredes externas está entre os vestígios. Também estão presentes os paineis apontando que ali havia um chaveiro.

Na parte da manhã, a ex-companheira de França estava no local. Ela disse à PF que os planos de França incluíam matar o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal). A reportagem, que esteve no endereço à tarde, não encontrou a mulher.

Os vizinhos relatam que ela teria voltado para o endereço depois que França seguiu para Barra Velha, mas que não possuem contato com ela. Também relatam que França teria cortado a rede elétrica do imóvel, para que ele não fosse usado, mas o contexto não é claro.

Colegas de França também contam que ele teria dois filhos com a primeira esposa —além do filho em Barra Velha, também uma filha que moraria em outro país. Ele teria também um enteado, um adolescente que o ajudava no comércio de chaves e que seria filho da mulher encontrada no endereço em Budaq.

A reportagem tentou falar com os filhos nesta quinta, mas não teve respostas.

Antes do atentado, França publicou nas redes sociais referências a bombas e explosões e disse que a Polícia Federal teria que desarmar o equipamento.

"Vamos jogar??? Polícia Federal, vocês têm 72 horas para desarmar a bomba que está na casa dos comunistas de merda", disse ele, em capturas de tela de celular publicadas em sua página no Facebook.
 

(Informações da Folhapress)

 

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