Bolsistas afetados pelo mais recente bloqueio de verbas federais - que represou mais de R$ 9 milhões do orçamento -, foram às ruas também em Campo Grande para manifestar, sendo recebidos pelos locais com ovadas.
Na manhã de hoje (08) os acadêmicos se organizaram, em marcha estudantil que saiu pela rua 15 de novembro, passando pela Av. 13 de maio, indo até a Marechal Rondon e encerrando o arco pela 13, finalizando a caminhada com concentração na Praça Ary Coelho.
Presidente da Associação dos Docentes da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (Adufms), Marco Aurelio Stefanes, comentou o contingenciamento de recursos da educação, que acontece em 2022.
Segundo ele, para a Universidade Federal de Mato Grosso do Sul em particular, onde também atua como docente, o bloqueio é significativo.
"Esse montante hoje está em torno de R$ 10 milhões para esse ano. A gente já tem sofrido cortes, da ordem de 80% para investimento, desde 95 para cá e esses cortes estão aumentando ano a ano", diz ele.
Ainda, conforme Stefanes, 2022 contou com o agravante em cima dos recursos para manutenção, que servem para pagamento das contas de água; luz; telefone; segurança, assim como as bolsas para estudantes e também para as residências multiprofissionais do hospital universitário.
Afetados e atingidos
Ovo jogado deixou hematoma em acadêmica de jornalismoReivindicando não só os próprios direitos de bolsas, os acadêmicos que buscavam a manutenção das próprias especializações, foram recebidos de forma hostil, com ovos sendo arremessados em sua direção.
Enquanto passavam pela 13 de maio, Amanda Ferreira, acadêmica de jornalismo de 22 anos, foi uma das que foram atingidas em cheio, com o objeto arremessado deixando um hematoma, além da sujeira e humilhação.
"Senti uma pancada muito forte. Pensei que tinham tropeçado em mim, e quando fui olhar meu braço estava puro ovo. Deixou roxo e não vi de qual direção veio a pancada, mas pela pancada ter sido muito forte, foi algo que veio dos prédios", conta ela.
Luis Felipe, que tem 24 anos, é bolsista de doutorado em biotecnologiapela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), e revela que sempre teve auxílio do Governo para seus estudos e profissionalização
"Comecei minha graduação com fiéis, fui bolsista do Pibic [Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica] por 4 anos. Então eu me formei com auxílio do governo. Passei em primeiro no mestrado, foi bolsista pela Capes, também e agora passei em primeiro no doutorado, lá na UCDB", diz.
Ele destaca que esse seria seu primeiro mês recebendo a bolsa do doutorado mas que, pelo corte, agora não sabe como pagará sozinho o aluguel, além do próprio sustento.
"A gente não pode trabalhar, porque tem que ter dedicação exclusiva e eu não sei como vou pagar minhas contas esse mês. Sou de Campo Grande, mas sempre morei sozinho", complementa.
Como realiza seus estudos na Universidade Católica, ele ainda ressalta mais esse segundo peso com o qual precisa arcar.
"Eu uso a bolsa para pagar a mensalidade e para sobreviver, então isso afeta principalmente na minha pesquisa, porque aí sem pagar eu não posso utilizar o laboratório".
Do ponto de vista do funcionamento das universidades, Stefanes considera a ação do governo "estrangulante", pelo número significativo de bolsistas.
"São mais três mil bolsas na universidade, só de graduação. Todos eles estão sendo prejudicados por essas medidas irresponsáveis".
Território desconhecido
Venezuelano, Linoel Leal, de 38 anos, é bolsista pelo Programa Nacional de Pós Doutorado (PNPD/Capes), e também frisa que esse processo afeta toda uma cadeia, não só os estudantes.
"É uma situação bastante preocupante. A gente tem fé que vai ser revertido, mas o estresse, ansiedade, insegurança, ficam... é uma quantidade considerável de pessoas sendo afetada, e assim as atividades que todos fazemos".
Trabalhando com internacionalização, Linoel expõe para o exterior aquilo que é feito no Brasil, no ensino superior brasileiro e, assimo como precisam seguir diversas regras para suas publicações, espera que os demais pontos dessa cadeia também cumpram.
"Já estou sem receber, isso afeta todo mundo, estudantes nacionais, internacionais... porque a Capes fornece também muitas das bolsas do programa Coimbra, destinado para estudantes estrangeiros. Tenho colegas no Brasil que são parte desse grupo, e estão preocupados, alguns acabaram de chegar", completa.
Diante dessa realidade, há algum tempo no Brasil, ele já se diz "familizarizado com o processo", mas teme pelos colegas que vêm de outros países.
"Quando está chegando em um país, você não tem nada, não tem emprego, e não po demos trabalhar, aliás. A gente não tem outra fonte de renda, isso que é preocupante, já que a Capes demanda que a gente não tenha outra fonte de emprego", finaliza.




