Artigos e Opinião

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Alana Regina Sousa de Menezes: "A literatura brasileira acabou?"

Acadêmica de Direito da UFMS Três Lagoas e mestranda em Literatura, História e Sociedade ([email protected])

Redação

05/04/2015 - 00h00
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Semanalmente, nas listas dos mais vendidos de renomadas livrarias, figuram livros – em maioria – estrangeiros. O jogo publicitário aliado à indústria cinematográfica muitas vezes coloca nas principais prateleiras livros que funcionam como propagandas para o ganho de bilheteria. Enquanto isso, livros didáticos utilizados em diversas escolas brasileiras chegam, no máximo, ao século 20 da literatura brasileira.

Nossa literatura acaba em Carlos Drummond de Andrade? O que você conhece da literatura brasileira do século 21? Felizmente, ela não acabou. Infelizmente, pouco figura nas principais estantes das livrarias em geral. Somente um público mais específico, oriundo de estudos acadêmicos também específicos, talvez, consiga passaporte para as estantes mais escondidas e menos chamativas para o leitor.

Enquanto os estudiosos esforçam-se para dar a devida atenção à literatura brasileira contemporânea, grande parte da população brasileira tem seu olhar conduzido à literatura estrangeira com cada vez mais frequência. Livros muito bem midiatizados, quase sempre divididos em séries, recheados com inúmeras páginas que dão a ilusão de que se está lendo muito. Normalmente, o público jovem – principalmente – é levado a pensar que está se formando em excelentes leitores pelo simples fato de ler “um livro grosso”. O que acontece é que a leitura de fácil compreensão, cheia de clichês e pouco filosófica é, logicamente, fluida.

A lógica aqui não é (e não deve ser) a de que para que uma leitura seja boa ela tenha de ser difícil. O problema central é que aquela leitura considerada difícil é, geralmente, a leitura que faz pensar. A preguiça que temos da filosofia, da sociologia e da antropologia talvez seja uma das causas da nossa tão grande dificuldade de conviver, de resolver nossos próprios problemas e quem sabe o motivo dos conflitos que se espalham mundo afora. O civil não conhece a si mesmo, por isso não progride a civilização.

Por sorte, a literatura que se produz no Brasil atualmente e que vem circulando com maior força nas universidades é texto com ricas qualidades reflexivas. A literatura brasileira (que, ao contrário do que parece na escola, não acaba onde acaba o livro didático) está bem servida com Marçal Aquino, Cristóvão Tezza, Ana Miranda, Paulo Henriques Britto, Bernardo Carvalho, entre tantos outros nomes.

Que essas palavras não soem como uma defesa nacionalista sem precedentes. O que está em pauta é, somente, o quanto o mercado tem sido capaz de manipular identidades de leitores. Até que ponto abrem-se possibilidades de escolha de leitura para o público em geral e até que ponto esse público é coagido por forças alheias à literatura para o consumo desenfreado de best-sellers? Em que estantes está a literatura social? A literatura que emancipa, que liberta, que faz conhecer (seja ela brasileira ou mundial). Por que se apresentam livros como luzes de natal que, repentinamente, todo mundo tem? Para que se ter um livro? O que significa a literatura para mim?

Essas reflexões podem ser úteis, inclusive, para que passemos a olhar mais para o que tem sido feito da representação do nosso País no meio do caos do século 21, no auge da nossa pseudomodernidade. Pode ser, quem sabe, o primeiro passo de uma jornada urgentemente necessária.

EDITORIAL

É preciso passar um pente-fino na Cosip

O que a sociedade exige e com razão é transparência permanente sobre a aplicação da Cosip. Trata-se de uma contribuição pesada no bolso do contribuinte

20/12/2025 07h15

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A deflagração da Operação Apagar das Luzes, nesta sexta-feira, pelo Grupo Especializado de Combate à Corrupção (Gecoc) do Ministério Público de Mato Grosso do Sul (MPMS), é mais um daqueles episódios que deixam claro que a iluminação pública de Campo Grande guarda muito mais sombras do que se imaginava.

E, ao que tudo indica, ainda há muito a ser revelado sobre contratos, cifras e responsabilidades envolvendo um serviço essencial para a cidade.

Campo Grande figura entre os municípios que mais arrecadam no Brasil com a Contribuição para o Custeio do Serviço de Iluminação Pública (Cosip). Trata-se de uma arrecadação robusta, bilionária ao longo dos anos, paga mensalmente pelo cidadão na conta de energia elétrica.

Ainda assim, a realidade vista nas ruas é contraditória: bairros inteiros convivem com postes apagados, avenidas mal iluminadas e áreas que se tornam vulneráveis à criminalidade justamente pela ausência de luz.

A investigação que apura fraudes estimadas em R$ 62 milhões lança uma pergunta inevitável: como é possível faltar iluminação em um município que arrecada tanto?

Reportagem publicada pelo Correio do Estado no ano passado mostrou que a Cosip de Campo Grande superava, à época, a arrecadação de Curitiba – cidade com mais que o dobro da população. Mesmo assim, a capital sul-mato-grossense convive com um serviço precário e reclamações recorrentes da população.

O mais preocupante é que essas suspeitas de irregularidades surgem em meio a um discurso constante de crise financeira propagado pela administração municipal.

Se confirmadas, as fraudes não estariam ocorrendo em um cenário de escassez, mas sim em um verdadeiro manancial de recursos. Isso agrava ainda mais o quadro, pois revela que o problema pode não ser falta de dinheiro, mas falhas graves de gestão, fiscalização e zelo com o dinheiro público.

É legítimo esperar explicações detalhadas sobre os contratos firmados, os critérios de pagamento e a execução dos serviços. Mas isso, por si só, não basta. O que a sociedade exige – e com razão – é transparência permanente sobre a aplicação da Cosip. Trata-se de uma contribuição pesada no bolso do contribuinte, que deveria retornar em forma de ruas iluminadas, mais segurança e melhor qualidade de vida.

Nesse contexto, o trabalho do Gecoc merece reconhecimento. Mais uma vez, o MPMS cumpre seu papel institucional de investigar, cobrar respostas e iluminar áreas em que a administração pública falhou.

Combater a corrupção não é apenas punir culpados, mas também criar condições para que os serviços públicos funcionem melhor e com mais eficiência.

Iluminação pública não é luxo. É segurança, mobilidade e dignidade urbana. Se há dinheiro sobrando e luz faltando, algo está profundamente errado – e precisa ser corrigido com urgência, transparência e responsabilidade.

ARTIGOS

Redes sociais: o "estacionamento" da reputação corporativa

Qual é o limite entre a liberdade de expressão do trabalhador e a proteção da honra e da imagem empresarial

19/12/2025 07h45

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No ambiente corporativo contemporâneo, a fronteira entre opinião pessoal e responsabilidade profissional se tornou quase invisível. Com a hiperconectividade, qualquer manifestação nas redes sociais tem potencial para alcançar ampla visibilidade. Um único comentário ofensivo de um funcionário é capaz de comprometer a confiança interna, afetar a reputação da marca e desencadear litígios.

Quando as manifestações de funcionários ultrapassam o limite da crítica construtiva e se convertem em acusações ou declarações com potencial de impactar negativamente a imagem e a credibilidade da organização, abre-se espaço a um debate essencial: qual é o limite entre a liberdade de expressão do trabalhador e a proteção da honra e da imagem empresarial?

A repercussão, em casos como esse, costuma ser imediata. Colegas, clientes, fornecedores e demais parceiros têm acesso ao conteúdo, potencializando seus efeitos e ampliando o risco reputacional.

Qualquer que seja o caminho de resposta, a análise jurídica deve ser cuidadosa. A Consolidação das Leis do Trabalho (art. 482, alíneas j e k) prevê a possibilidade de dispensa por justa causa quando o empregado pratica ato lesivo à honra ou à boa fama de qualquer pessoa “no serviço”, especialmente quando dirigido ao empregador ou superiores hierárquicos.

A jurisprudência tem entendido que publicações em redes sociais podem produzir efeitos equivalentes aos de condutas praticadas no ambiente físico de trabalho, legitimando a aplicação da penalidade.

A Constituição Federal (art. 5º, incisos IV, V e X) assegura a liberdade de expressão, mas estabelece limites claros quando essa manifestação viola direitos relacionados à honra, à imagem e à dignidade. Já o Marco Civil da Internet reforça mecanismos de responsabilização de plataformas mediante notificação, permitindo respostas mais ágeis a conteúdos ilícitos.

Com a evolução da sociedade, a linha que separa opinião de ofensa se tornou cada vez mais tênue. A liberdade de expressão é garantida, mas não é absoluta: quando a crítica se transforma em injúria ou difamação, há quebra de confiança, podendo configurar justa causa, inclusive quando a conduta ocorre fora do expediente.

O desafio, agora, reside na interpretação. A definição do que constitui “crítica legítima” ou “falta grave” ainda é variável entre diferentes julgadores, o que aumenta o risco de reversão de penalidades, pedidos de indenização e danos à reputação corporativa.

Em um ambiente empresarial cada vez mais exposto ao escrutínio público, sobretudo nas redes sociais, torna-se imprescindível que as organizações adotem políticas claras, protocolos seguros de apuração e documentação robusta para fundamentar suas decisões e que as decisões e a gestão de tópicos sensíveis considerem estratégia, cautela e respaldo técnico.

Condutas inadequadas de colaboradores podem gerar impactos relevantes, mas a resposta empresarial deve estar alinhada à legislação e às melhores práticas de governança.

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