Artigos e Opinião

OPINIÃO

Angelo Rabelo: "A nova batalha do Pantanal"

Coronel, ambientalista, participou da criação da Polícia Militar Ambiental

Redação

28/03/2017 - 01h00
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Ainda posso ouvir o grito do Soldado Chaves:  Acertaram o Tenente...” 

O texto acima faz parte de um livro que esta sendo finalizado com o nome já definido: “Heróis Sem Medalhas”, que será lançado em 2018. Ele vai contar a grande batalha histórica travada pela Polícia Militar contra os coureiros na década de 80.

Naquela época, o Pantanal enfrentou uma das mais violentas batalhas contra a natureza e o homem pantaneiro.  Mais de 6 milhões de peles de jacaré, cerca de mil araras-azuis, peles de onça-pintada e sucuri foram para os Estados Unidos e Europa para atender o mercado da moda.

Passados 30 anos, a guerra é outra. Não existem mais tiros, apenas gritos, pedidos de socorro.

O pantaneiro taquarisano Luis Guilherme Lacerda, falecido, talvez de tristeza, viu sua propriedade ser totalmente tomada de forma permanente, pelas águas do Rio Taquari.  Eu alimentava uma esperança diária, quando indagado por ele, se o projeto de recuperação estava andando. De fato estava. No universo imensurável de desculpas e omissões de todos os segmentos, a despeito das diferentes teorias e estudos que defendem que nada pode ser feito, uma proposta de intervenção foi concebida. Por  falta de vontade política e recursos, foi deixada de lado.

No contraponto da riqueza das terras no planalto onde o hectare vale muito e a per capita cresce ano a ano, o leque aluvial do Taquari segue provocando sequelas nas pessoas, na natureza e na economia. Não é somente uma causa ambiental, afinal, estamos deixando de criar mais de meio milhão de cabeças. Deixamos de movimentar mais de 200 milhões de reais/ano e perdem o município de Corumbá e o governo.

Na dúvida e o risco de errar para responder quem paga a conta, poderíamos começar a conversar com os financiadores, o Banco do Brasil através do  FCO. Existe uma cláusula de responsabilidade ambiental? Qual o técnico ambiental que faz análise de viabilidade do projeto? Quais as exigências para liberar o recurso para estas áreas? Qual o percentual é revertido para recuperação de nascentes, contenção? O analista já ouviu falar da relação de causa e efeito do planalto com a planície?  Outra alternativa talvez, poderíamos cobrar um adicional nos pedágios que controlam os mais de 5 mil veículos diários da BR-163 no trecho de MS, agora duplicada para o conforto e segurança dos usuários, e que certamente contribuiria diretamente para consolidar o impacto na planície.

O Taquari saudoso, apenas sinaliza o que esta acontecendo dia a dia com os outros rios que drenam para alimentar o pantanal. Como uma planície sedimentar, ela recebe um grande volume de sedimentos. Este processo, acelerado pela mão humana e a perda da capacidade de transporte pela água, este material se acomoda no leito dos nossos rios.  Mais rasos, menos volume, menos peixes. A redução dos estoques pesqueiros é uma realidade. Alguém é capaz de afirmar ao contrário?  Nos falta coragem para decidir adotar pesque e solte definitivamente para pesca amadora. Para completar, estamos tirando mais de 10 milhões de iscas do pantanal para abastecer a pesca no Tocantins, Mato Grosso e Paraguai. Nossas imagens de pássaros, os ninhais, começam a ficar raras.

Não gostaria de me tornar um capítulo do livro Colapso, de Jared Diamond, onde ele relata a exemplo da Ilha de Pascoa, o que nós humanos fomos capazes de fazer para esgotar os recursos naturais, tornando-se vítima da própria ganancia. Pior do que isso, a omissão, pois ignorância não podemos alegar.

Que o grito das escolas de samba, que nos chamaram atenção nos seus carros alegóricos para a beleza e as ameaças da natureza,  a exemplo da Escola Portela na Marquês de Sapucaí, provoquem encantos e sejam ouvidos. Afinal, disse o poeta Manoel de Barros... “Não se mede o valor das coisas com régua, sim com o encantamento que ela nos provoca”.

EDITORIAL

Propag: uma decisão que dura décadas

O secretário de Estado de Fazenda de Mato Grosso do Sul pode até decidir o que prefere destacar, o que não pode é decidir o que a sociedade tem o direito de conhecer

16/12/2025 07h15

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O Programa de Pleno Pagamento de Dívidas dos Estados (Propag) foi desenhado para revisar termos das dívidas estaduais e permitir quitação em até 30 anos, com encargos menores, atrelando parte do alívio fiscal a investimentos e mecanismos de equalização federativa.

O prazo de adesão termina no dia 31. Trata-se, portanto, de uma decisão com efeitos fiscais, políticos e institucionais de longo prazo.

É justamente por isso que causa estranheza quando um movimento dessa magnitude parece avançar sem publicidade compatível com o tamanho do que está em discussão. Ainda que os ritos formais estejam cumpridos, e o Diário Oficial exista para isso, há decisões que não se esgotam no “publicou e pronto”.

A adesão ao Propag mexe com dívida e espaço fiscal, e isso exige mais do que um carimbo burocrático: exige explicação, justificativa e escrutínio.

Matéria publicada pelo Correio do Estado apontou que a adesão pode ser benéfica e abrir folga fiscal bilionária para os próximos anos. Se isso ocorrer na prática, melhor ainda.

Mas, justamente por ser uma oportunidade desse porte, não faz sentido que a sociedade seja informada por textos que parecem exigir esforço de “investigação”, recortes, vazamentos, boatos e notas lacônicas para compreender o básico. Decisão pública não pode depender de rumor para vir a conhecimento.

O secretário não é apenas o gestor do caixa, é, por definição, o guardião das chaves do cofre e da confiança do governador.

Seu dever não é somente buscar a melhor alternativa financeira, mas assegurar que a população, o Legislativo e os órgãos de controle entendam o que está sendo feito – por que, com quais condições, com quais impactos e com quais riscos.

Publicidade, aqui, não é uma peça de marketing nem release, muito menos demanda jornalística, quando se dão ao luxo de responder, é transparência, informação completa, tempestiva e verificável sobre atos que mexem com o dinheiro de todos.

Quando uma medida desse porte avança sem clareza por parte do secretário, o problema deixa de ser meramente jurídico e passa a ser de transparência. O silêncio produz um efeito inevitável: parece tentativa de fugir de perguntas. E perguntas são inevitáveis e legítimas.

Quais são os termos efetivos da adesão ao Propag? Há contrapartidas obrigatórias? Quais metas de investimento são exigidas e em quais prazos? Que impacto a adesão ao programa traz para a capacidade de investimento do Estado nos próximos anos? Há cláusulas que podem amarrar decisões futuras? Serão oferecidos ativos com lastro? Se sim, quais? Como foram avaliados? Quem avaliou? Esse tipo de compromisso atravessa mandatos e o que ficará para a próxima geração.

Boa governança começa pelo óbvio: se a decisão é boa, não há motivo para tratá-la sob reserva. Pelo contrário, quem tem convicção expõe os fundamentos, abre números, apresenta cenários e convida ao debate. Transparência não atrapalha, transparência protege a própria decisão.

Nada disso impede a adesão ao Propag, pelo contrário, torna a adesão mais legítima e menos vulnerável a ruídos. O que fragiliza não é a discussão, é o vazio de explicações.

O secretário precisa compreender que publicidade não é um favor à imprensa nem ao cidadão, é um dever institucional. É a materialização do princípio de que o erário não pertence a gabinete nenhum, pertence à sociedade.

Se o Propag é uma oportunidade, que seja tratado como tal: com informações completas. Se o secretário quer ser reconhecido como pilar de responsabilidade, não pode agir como se decisões fiscais estruturantes fossem assunto restrito a poucos. Confiança é ativo que não se negocia e, uma vez perdida, dificilmente se reconquista. 

ARTIGOS

Relaxa: você não precisa ter opinião sobre tudo

Estudo recente sobre comportamento em comunidades digitais revelou que quando alguém percebe que a opinião é minoritária, tende a manter o silêncio

15/12/2025 07h45

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Existe uma ansiedade silenciosa no ar: a sensação de que você deveria ter uma opinião pronta para cada assunto que aparece no feed. Um acontecimento político numa terça, um comentário de influencer numa quarta, uma treta musical na quinta.

E se você não fala nada, parece que está sendo omisso, alienado, cúmplice ou qualquer outra palavra grande que as redes adoram jogar. Mas a pergunta que vale mais do que todas as indignações do dia é simples: quem disse que você precisa opinar sobre tudo?

A verdade é que a internet criou uma espécie de olimpíada de opiniões. E a largada é dada a cada nova notificação. Só que, quando você olha os números, percebe que esse universo não é tão povoado quanto parece.

Uma pesquisa mostrou que 55% dos americanos já deixaram um comentário on-line em algum momento e 77,9% já leram comentários. Significa que tem muita gente olhando, mas só metade de fato escrevendo alguma coisa.

Quando se vai para os jovens, 55% dizem postar opiniões com frequência e 71% afirmam estar mais confiantes do que nunca para fazê-lo. De novo, parece muito, mas não é todo mundo. É só uma parte barulhenta.

Do outro lado tem um dado incômodo. Um estudo recente sobre comportamento em comunidades digitais mostra que, quando alguém percebe que a opinião dele é minoritária, 72,6% simplesmente ficam em silêncio.

A espiral do silêncio continua funcionando mesmo num ambiente que promete liberdade absoluta para falar o que quiser. Ou seja, o barulho das redes às vezes é menos democracia e mais repetição. A impressão de que “todo mundo está falando” pode ser só a repetição de um mesmo grupo de pessoas com muita disposição e pouco cansaço.

E vale lembrar que esse palco é enorme. O mundo tem 63,9% da população usando redes sociais. É muita gente. São horas diárias rolando tela, consumindo milhares de pequenos estímulos. Nesse ambiente, a opinião virou quase um gesto automático.

Às vezes você nem sabe exatamente o que pensa, mas já sente a pressão de ter que dizer alguma coisa. Ser rápido se tornou mais importante do que ser cuidadoso. E isso tem consequência.

Opinar o tempo todo transforma a discussão pública em uma competição permanente. Você não compartilha uma ideia, você disputa espaço. E existe um dado que mostra o quanto isso escalou: em uma pesquisa internacional, 20% das pessoas disseram que às vezes é necessário ser rude nas redes para que sua opinião seja ouvida.

Um quinto das pessoas já acredita que a forma de existir no debate é gritando. Não tem nada de saudável nisso. Só desgaste.

Talvez seja por isso que, silenciosamente, muita gente está cansada. Opinar sobre tudo virou um tipo de exaustão emocional. Até porque, para opinar sobre tudo, é preciso estar o tempo todo sabendo de tudo. E começar a falar menos pode não ser um gesto de covardia, mas de inteligência.

Você não precisa ser comentarista integral do mundo. Pode escolher onde sua voz realmente importa. Pode esperar. Pode investigar. Pode até mudar de ideia sem precisar explicar isso para ninguém.

Quando quase metade das pessoas não comenta e três quartos se calam quando acham que estão sozinhas, significa que o silêncio não é falta de interesse. É um pedido de pausa. É uma escolha. Não é uma desistência do debate, é só uma forma de não ser engolido por ele.

A ideia de que você precisa ter opinião sobre tudo é só mais uma pressão inventada pela lógica das plataformas. Você não é obrigado a entrar em todas as conversas. Nem deve. O valor da sua voz não está na frequência, está na relevância.

E, às vezes, a decisão mais lúcida é ficar quieto por alguns minutos, horas ou dias. Porque pensar é um processo mais lento do que postar. E tem coisas que não precisam de urgência. Precisam de reflexão. Aliás, a maioria delas.

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