Artigos e Opinião

OPINIÃO

Antônio Carlos Siufi Hindo: A fronteira segue seu calvário

Antônio Carlos Siufi Hindo é Promotor de Justiça aposentado

Redação

22/01/2018 - 02h00
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O editorial do Correio do Estado da última quarta feira, 17, retratou com absoluta fidelidade o descaso dos governos federal e estadual sobre a segurança na fronteira. Com um vernáculo escorreito, claro e bastante objetivo o editorialista retratou o quadro amargo que a nossa população precisa conviver diariamente. Não merecíamos tamanho descaso. Temos uma história linda de lutas e de conquistas para mostrar. Ela é feita de bravura e de heroísmo dos nossos antepassados. Sua população é amante da paz e da concórdia. 

As ações de governo poderiam ser mais eficientes para encorajar o nosso empresariado a investir o seu dinheiro. Não se trata de nenhum privilégio. A cidade de Ponta Porã, em especial, não sofre com esse descaso apenas na área da segurança. Ele abunda fortemente em outras áreas essenciais para o seu desenvolvimento. A sua população incauta foi vítima de todos os tipos de estelionatos praticados por agentes políticos e públicos ao longo de décadas. 

A gritaria tem o seu fundamento. São fatos concretos que todos os dias nos angustiam. A nossa linha férrea está desativada. Um espetáculo de destruição organizado por vândalos quase fez desaparecer a parte física da nossa histórica estação.  O nosso  "Castelinho",  prédio que abrigou importantes órgãos do governo na época do Território Federal só está de pé devido à sua teimosia. Governos se passaram sucessivamente e nenhum deles foi capaz de restaurá-lo. É uma fotografia viva da nossa história  que está sendo destruída. 

O nosso aeroporto é internacional. Está ocioso. Não tem uma única linha comercial. A nossa saúde pública segue tormentosa. A sede da Polícia Federal é uma vergonha. Está construída em um espaço minúsculo. Não oferece segurança digna nem aos seus próprios servidores. As polícias Civil e Militar estão na bancarrota. Dificilmente se aponta a autoria dos ilícitos praticados. Isso preocupa as famílias. Não temos calçadas. Os deficientes não têm o direito de andar com segurança em qualquer parte da cidade.

Os terrenos baldios na sua maioria não são murados. O Departamento de Operações de Fronteira (DOF) que precisava ter a sua sede física fincada nos limites territoriais da cidade de Ponta Porã, está localizado no município vizinho. A Força Nacional quando opera em nossa cidade o faz com o respaldo do nosso dinheiro que deveria ser melhor empregado na construção de creches, postos de saúde e na compra de medicamentos. O nosso IML é algo vergonhoso. 

Projetos fantasiosos empolgaram a nossa população para transformar substancialmente a nossa economia. Inicialmente falaram na Área de Livre Comercio. Depois mudou o nome para Porto Seco. O engodo agora tem outro nome, os frees shops. Nada disso resultou concretizado.

Falam agora na criação da nossa escola de Medicina. O propósito é digno de elogios. Não pode cair no descrédito. A União Federal possui uma área de mais de 1 mil hectares ocupada pelo Exército. Hoje atrapalha o desenvolvimento da cidade. O nosso glorioso regimento não é mais de cavalaria. A Embrapa possui uma base física de 100 hectares na área nobre da cidade há décadas. Nem cercada está. Poderia ser utilizada para a construção de casas populares. 

Essas situações não podem ser debitadas exclusivamente ao atual governador. São ações antigas. Um forte indicador do  calvário que precisamos ainda enfrentar. Reinaldo Azambuja trouxe uma verba para recapear as vias públicas.

Mas o anel viário não está concluído por absoluta incompetência das nossas autoridades que não souberam traçar o seu trajeto definitivo. Foram advertidos pelo nosso governador. Ficaram em silêncio diante da incompetência apontada. Se mesmo assim avançarem com o recapeamento estaremos jogando no lixo o nosso dinheiro. O governador não pode concordar com tamanho atrevimento. 

Os ventos benfazejos que sopram do outro lado da fronteira passaram a descortinar para todos nós uma nova realidade. As faculdades de Medicina estão empurrando o nosso desenvolvimento. A cidade está mais alegre e festiva. 

Eles animaram o nosso comercio. Cresceu o setor de serviços. A ocupação de imóveis tem outra realidade. A iniciativa privada está fazendo a sua parte. Falta a parte oficial funcionar. Merecemos esse presente maravilhoso. Vamos continuar sempre respeitando as autoridades constituídas. Aqui reside a grandeza do fronteiriço. Melhor assim.

EDITORIAL

Propag: uma decisão que dura décadas

O secretário de Estado de Fazenda de Mato Grosso do Sul pode até decidir o que prefere destacar, o que não pode é decidir o que a sociedade tem o direito de conhecer

16/12/2025 07h15

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O Programa de Pleno Pagamento de Dívidas dos Estados (Propag) foi desenhado para revisar termos das dívidas estaduais e permitir quitação em até 30 anos, com encargos menores, atrelando parte do alívio fiscal a investimentos e mecanismos de equalização federativa.

O prazo de adesão termina no dia 31. Trata-se, portanto, de uma decisão com efeitos fiscais, políticos e institucionais de longo prazo.

É justamente por isso que causa estranheza quando um movimento dessa magnitude parece avançar sem publicidade compatível com o tamanho do que está em discussão. Ainda que os ritos formais estejam cumpridos, e o Diário Oficial exista para isso, há decisões que não se esgotam no “publicou e pronto”.

A adesão ao Propag mexe com dívida e espaço fiscal, e isso exige mais do que um carimbo burocrático: exige explicação, justificativa e escrutínio.

Matéria publicada pelo Correio do Estado apontou que a adesão pode ser benéfica e abrir folga fiscal bilionária para os próximos anos. Se isso ocorrer na prática, melhor ainda.

Mas, justamente por ser uma oportunidade desse porte, não faz sentido que a sociedade seja informada por textos que parecem exigir esforço de “investigação”, recortes, vazamentos, boatos e notas lacônicas para compreender o básico. Decisão pública não pode depender de rumor para vir a conhecimento.

O secretário não é apenas o gestor do caixa, é, por definição, o guardião das chaves do cofre e da confiança do governador.

Seu dever não é somente buscar a melhor alternativa financeira, mas assegurar que a população, o Legislativo e os órgãos de controle entendam o que está sendo feito – por que, com quais condições, com quais impactos e com quais riscos.

Publicidade, aqui, não é uma peça de marketing nem release, muito menos demanda jornalística, quando se dão ao luxo de responder, é transparência, informação completa, tempestiva e verificável sobre atos que mexem com o dinheiro de todos.

Quando uma medida desse porte avança sem clareza por parte do secretário, o problema deixa de ser meramente jurídico e passa a ser de transparência. O silêncio produz um efeito inevitável: parece tentativa de fugir de perguntas. E perguntas são inevitáveis e legítimas.

Quais são os termos efetivos da adesão ao Propag? Há contrapartidas obrigatórias? Quais metas de investimento são exigidas e em quais prazos? Que impacto a adesão ao programa traz para a capacidade de investimento do Estado nos próximos anos? Há cláusulas que podem amarrar decisões futuras? Serão oferecidos ativos com lastro? Se sim, quais? Como foram avaliados? Quem avaliou? Esse tipo de compromisso atravessa mandatos e o que ficará para a próxima geração.

Boa governança começa pelo óbvio: se a decisão é boa, não há motivo para tratá-la sob reserva. Pelo contrário, quem tem convicção expõe os fundamentos, abre números, apresenta cenários e convida ao debate. Transparência não atrapalha, transparência protege a própria decisão.

Nada disso impede a adesão ao Propag, pelo contrário, torna a adesão mais legítima e menos vulnerável a ruídos. O que fragiliza não é a discussão, é o vazio de explicações.

O secretário precisa compreender que publicidade não é um favor à imprensa nem ao cidadão, é um dever institucional. É a materialização do princípio de que o erário não pertence a gabinete nenhum, pertence à sociedade.

Se o Propag é uma oportunidade, que seja tratado como tal: com informações completas. Se o secretário quer ser reconhecido como pilar de responsabilidade, não pode agir como se decisões fiscais estruturantes fossem assunto restrito a poucos. Confiança é ativo que não se negocia e, uma vez perdida, dificilmente se reconquista. 

ARTIGOS

Relaxa: você não precisa ter opinião sobre tudo

Estudo recente sobre comportamento em comunidades digitais revelou que quando alguém percebe que a opinião é minoritária, tende a manter o silêncio

15/12/2025 07h45

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Existe uma ansiedade silenciosa no ar: a sensação de que você deveria ter uma opinião pronta para cada assunto que aparece no feed. Um acontecimento político numa terça, um comentário de influencer numa quarta, uma treta musical na quinta.

E se você não fala nada, parece que está sendo omisso, alienado, cúmplice ou qualquer outra palavra grande que as redes adoram jogar. Mas a pergunta que vale mais do que todas as indignações do dia é simples: quem disse que você precisa opinar sobre tudo?

A verdade é que a internet criou uma espécie de olimpíada de opiniões. E a largada é dada a cada nova notificação. Só que, quando você olha os números, percebe que esse universo não é tão povoado quanto parece.

Uma pesquisa mostrou que 55% dos americanos já deixaram um comentário on-line em algum momento e 77,9% já leram comentários. Significa que tem muita gente olhando, mas só metade de fato escrevendo alguma coisa.

Quando se vai para os jovens, 55% dizem postar opiniões com frequência e 71% afirmam estar mais confiantes do que nunca para fazê-lo. De novo, parece muito, mas não é todo mundo. É só uma parte barulhenta.

Do outro lado tem um dado incômodo. Um estudo recente sobre comportamento em comunidades digitais mostra que, quando alguém percebe que a opinião dele é minoritária, 72,6% simplesmente ficam em silêncio.

A espiral do silêncio continua funcionando mesmo num ambiente que promete liberdade absoluta para falar o que quiser. Ou seja, o barulho das redes às vezes é menos democracia e mais repetição. A impressão de que “todo mundo está falando” pode ser só a repetição de um mesmo grupo de pessoas com muita disposição e pouco cansaço.

E vale lembrar que esse palco é enorme. O mundo tem 63,9% da população usando redes sociais. É muita gente. São horas diárias rolando tela, consumindo milhares de pequenos estímulos. Nesse ambiente, a opinião virou quase um gesto automático.

Às vezes você nem sabe exatamente o que pensa, mas já sente a pressão de ter que dizer alguma coisa. Ser rápido se tornou mais importante do que ser cuidadoso. E isso tem consequência.

Opinar o tempo todo transforma a discussão pública em uma competição permanente. Você não compartilha uma ideia, você disputa espaço. E existe um dado que mostra o quanto isso escalou: em uma pesquisa internacional, 20% das pessoas disseram que às vezes é necessário ser rude nas redes para que sua opinião seja ouvida.

Um quinto das pessoas já acredita que a forma de existir no debate é gritando. Não tem nada de saudável nisso. Só desgaste.

Talvez seja por isso que, silenciosamente, muita gente está cansada. Opinar sobre tudo virou um tipo de exaustão emocional. Até porque, para opinar sobre tudo, é preciso estar o tempo todo sabendo de tudo. E começar a falar menos pode não ser um gesto de covardia, mas de inteligência.

Você não precisa ser comentarista integral do mundo. Pode escolher onde sua voz realmente importa. Pode esperar. Pode investigar. Pode até mudar de ideia sem precisar explicar isso para ninguém.

Quando quase metade das pessoas não comenta e três quartos se calam quando acham que estão sozinhas, significa que o silêncio não é falta de interesse. É um pedido de pausa. É uma escolha. Não é uma desistência do debate, é só uma forma de não ser engolido por ele.

A ideia de que você precisa ter opinião sobre tudo é só mais uma pressão inventada pela lógica das plataformas. Você não é obrigado a entrar em todas as conversas. Nem deve. O valor da sua voz não está na frequência, está na relevância.

E, às vezes, a decisão mais lúcida é ficar quieto por alguns minutos, horas ou dias. Porque pensar é um processo mais lento do que postar. E tem coisas que não precisam de urgência. Precisam de reflexão. Aliás, a maioria delas.

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