O título do artigo não se trata de nenhum texto sensacionalista. Foi retirado da parte preambular do memorável discurso proferido pelo então deputado federal pelo estado de Minas Gerais, Tancredo Neves. Mencionado discurso foi direcionado ao então presidente do Congresso Nacional, Auro Soares de Moura Andrade, ao declarar vaga a Presidência da República quando o presidente João Goulart ainda se encontrava em território brasileiro. Tancredo era o líder de Jango na Câmara Federal. Tinha motivos sobejamente fortes para assim se expressar. Jango chegou ao poder legitimado pelo voto livre, secreto e soberano do povo brasileiro. A vacância sustentada provocou uma ruptura da ordem democrática e constitucional. Jogou o País no abismo. Tudo isso está relatado em nossa história.
Nesse contexto, só uma ação desastrada poderia despertar a fúria do parlamentar mineiro. Mas, o presente artigo não tem o condão de repisar a história pátria. Essa já passou. Não a queremos nunca mais. Nosso propósito fundamental tem outro intento, outra direção, outra reflexão. A expressão forte utilizada por Tancredo no histórico discurso pode estar travestida nas figuras singulares do oportunista, do atrevido, do leviano e do estelionatário. De todos os naipes e cores. A inveja, o ciúme e a traição aliados à ingratidão podem fomentar esses atos inconsequentes e irresponsáveis. São mais do que isso. São avassaladores. Destroem vidas, liquidam sonhos, arrebentam esperanças, interrompem lutas gloriosas e liquidam com as nossas conquistas. Essa é a colocação do tema para a reflexão.
A canalhice na plenitude da sua expressão, que pode surgir em um de repente e também na forma premeditada, ardilosa e traiçoeira. São os protótipos das ações humanas. Velhas e decrépitas, que surgiram concomitantemente com o mundo civilizado. É o seu próprio corolário. O beijo de Judas na face de Cristo é o seu retrato irretocável. Mas esse é um tema de caráter eminentemente divino. Nem deveríamos ter trazido à baila. Só os desígnios de Deus podem melhor dar o desfecho para a sua escorreita interpretação. Os fatos para a reflexão precisam ser aqueles existentes na vida real. Sem nenhum tipo de sofisma. Estão no seio das nossas famílias, do nosso trabalho, nas relações pessoais, sociais e de amizade.
Estão no coração dos Poderes da República. Estão também nas instituições religiosas. Todos os dias dão o ar da sua graça. Às vezes, com ares de deboche; de brincadeiras controvertidas, insinuações maldosas. Todos retratos amargos das ações humanas. Em todas elas abunda essa excrescência relatada por Tancredo. Às vezes, teimamos em não enxergá-las por absoluto comodismo. Com medo, talvez, de cair em uma imperdoável armadilha, capaz de nos levar para um estado de indignação íntima permanente. O tema é delicado. Mas existe, resulta palpável e está ao nosso redor. Suas origens e rastros as detectamos todos os dias nos barracos e, ainda, nas mansões luxuosas. Nos palácios, sobretudo. Aqui, ela esboça benfazeja o seu sorriso pecaminoso. As ações desfechadas nesses locais beiram à loucura explícita dos seus protagonistas.Um verdadeiro tormento para os que duelam. Os seus autores não sabem o que é e o que significa a gratidão. Não sabem avaliar a força de uma amizade sincera e leal. O seu alcance nas soluções de questões delicadas. Nada disso sabem. Só sabem construir os intentos que provocam a ferida, a mágoa, o ressentimento e as traições. A cumplicidade nefasta é o seu principal tentáculo.
O ser humano resulta sempre enigmático e surpreendente. Essa é a essência do seu espírito. Sua prova inconteste está na imprevisibilidade das suas ações. Essas linhas retratam apenas o entendimento esposado pelo articulista. Não tem o condão de alcançar outros tantos entendimentos, igualmente fortes e substanciosos. Nesse diapasão valorizamos as ideias, as opiniões e as críticas. Sobretudo, as construtivas. Elas enriquecem o debate e animam a todos para o enfrentamento de outros tantos temas. Esse é o tema que enriquece a nossa contribuição. Somente assim encontramos a tão sonhada paz para serenar a nossa consciência. Nesse enredo medonho, apenas uma questão não muda: o caráter do protagonista. Porque a mancha de ilicitudes dos atos praticados, que abundam em suas ações, afrontam os princípios e propósitos que norteiam os passos dos homens de boa índole. Essa é a única verdade que não reserva espaço para contestação. Com ela a toda evidência, não podemos comungar. Com razão absoluta, o dr. Tancredo de Almeida Neves.


