Artigos e Opinião

ARTIGO

Antônio Carlos Siufi Hindo: "Canalha! Canhalha! Canalha!"

Promotor de Justiça aposentado

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O título do artigo não se trata de nenhum texto sensacionalista. Foi retirado da parte preambular do memorável discurso proferido pelo então deputado federal pelo estado de Minas Gerais, Tancredo Neves. Mencionado discurso foi direcionado ao então presidente do Congresso Nacional, Auro Soares de Moura Andrade, ao declarar vaga a Presidência da República quando o presidente João Goulart ainda se encontrava em território brasileiro. Tancredo era o líder de Jango na Câmara Federal. Tinha motivos sobejamente fortes para assim se expressar. Jango chegou ao poder legitimado pelo voto livre, secreto e soberano do povo brasileiro. A vacância sustentada provocou uma ruptura da ordem democrática e constitucional. Jogou o País no abismo. Tudo isso está relatado em nossa história. 

Nesse contexto, só uma ação desastrada poderia despertar a fúria do parlamentar mineiro. Mas, o presente artigo não tem o condão de repisar a história pátria. Essa já passou. Não a queremos nunca mais. Nosso propósito fundamental tem outro intento, outra direção, outra reflexão. A expressão forte utilizada por Tancredo no histórico discurso pode estar travestida nas figuras singulares do oportunista, do atrevido, do leviano e do estelionatário. De todos os naipes e cores. A inveja, o ciúme e a traição aliados à ingratidão podem fomentar esses atos inconsequentes e irresponsáveis. São mais do que isso. São avassaladores. Destroem vidas, liquidam sonhos, arrebentam esperanças, interrompem lutas gloriosas e liquidam com as nossas conquistas. Essa é a colocação do tema para a reflexão. 

A canalhice na plenitude da sua expressão, que pode surgir em um de repente e também na forma premeditada, ardilosa e traiçoeira. São os protótipos das ações humanas. Velhas e decrépitas, que surgiram concomitantemente com o mundo civilizado. É o seu próprio corolário. O beijo de Judas na face de Cristo é o seu retrato irretocável. Mas esse é um tema de caráter eminentemente divino. Nem deveríamos ter trazido à baila. Só os desígnios de Deus podem melhor dar o desfecho para a sua escorreita interpretação. Os fatos para a reflexão precisam ser aqueles existentes na vida real. Sem nenhum tipo de sofisma. Estão no seio das nossas famílias, do nosso trabalho, nas relações pessoais, sociais e de amizade. 

Estão no coração dos Poderes da República. Estão também nas instituições religiosas. Todos os dias dão o ar da sua graça. Às vezes, com ares de deboche; de brincadeiras controvertidas, insinuações maldosas. Todos retratos amargos das ações humanas. Em todas elas abunda essa excrescência relatada por Tancredo. Às vezes, teimamos em não enxergá-las por absoluto comodismo. Com medo, talvez, de cair em uma imperdoável armadilha, capaz de nos levar para um estado de indignação íntima permanente. O tema é delicado. Mas existe, resulta palpável e está ao nosso redor. Suas origens e rastros as detectamos todos os dias nos barracos e, ainda, nas mansões luxuosas. Nos palácios, sobretudo. Aqui, ela esboça benfazeja o seu sorriso pecaminoso. As ações desfechadas nesses locais beiram à loucura explícita dos seus protagonistas.Um verdadeiro tormento para os que duelam. Os seus autores não sabem o que é e o que significa a gratidão. Não sabem avaliar a força de uma amizade sincera e leal. O seu alcance nas soluções de questões delicadas. Nada disso sabem. Só sabem construir os intentos que provocam a ferida, a mágoa, o ressentimento e as traições. A cumplicidade nefasta é o seu principal tentáculo. 

O ser humano resulta sempre enigmático e surpreendente. Essa é a essência do seu espírito. Sua prova inconteste está na imprevisibilidade das suas ações. Essas linhas retratam apenas o entendimento esposado pelo articulista. Não tem o condão de alcançar outros tantos entendimentos, igualmente fortes e substanciosos. Nesse diapasão valorizamos as ideias, as opiniões e as críticas. Sobretudo, as construtivas. Elas enriquecem o debate e animam a todos para o enfrentamento de outros tantos temas. Esse é o tema que enriquece a nossa contribuição. Somente assim encontramos a tão sonhada paz para serenar a nossa consciência. Nesse enredo medonho, apenas uma questão não muda: o caráter do protagonista. Porque a mancha de ilicitudes dos atos praticados, que abundam em suas ações, afrontam os princípios e propósitos que norteiam os passos dos homens de boa índole. Essa é a única verdade que não reserva espaço para contestação. Com ela a toda evidência, não podemos comungar. Com razão absoluta, o dr. Tancredo de Almeida Neves.

EDITORIAL

Propag: uma decisão que dura décadas

O secretário de Estado de Fazenda de Mato Grosso do Sul pode até decidir o que prefere destacar, o que não pode é decidir o que a sociedade tem o direito de conhecer

16/12/2025 07h15

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O Programa de Pleno Pagamento de Dívidas dos Estados (Propag) foi desenhado para revisar termos das dívidas estaduais e permitir quitação em até 30 anos, com encargos menores, atrelando parte do alívio fiscal a investimentos e mecanismos de equalização federativa.

O prazo de adesão termina no dia 31. Trata-se, portanto, de uma decisão com efeitos fiscais, políticos e institucionais de longo prazo.

É justamente por isso que causa estranheza quando um movimento dessa magnitude parece avançar sem publicidade compatível com o tamanho do que está em discussão. Ainda que os ritos formais estejam cumpridos, e o Diário Oficial exista para isso, há decisões que não se esgotam no “publicou e pronto”.

A adesão ao Propag mexe com dívida e espaço fiscal, e isso exige mais do que um carimbo burocrático: exige explicação, justificativa e escrutínio.

Matéria publicada pelo Correio do Estado apontou que a adesão pode ser benéfica e abrir folga fiscal bilionária para os próximos anos. Se isso ocorrer na prática, melhor ainda.

Mas, justamente por ser uma oportunidade desse porte, não faz sentido que a sociedade seja informada por textos que parecem exigir esforço de “investigação”, recortes, vazamentos, boatos e notas lacônicas para compreender o básico. Decisão pública não pode depender de rumor para vir a conhecimento.

O secretário não é apenas o gestor do caixa, é, por definição, o guardião das chaves do cofre e da confiança do governador.

Seu dever não é somente buscar a melhor alternativa financeira, mas assegurar que a população, o Legislativo e os órgãos de controle entendam o que está sendo feito – por que, com quais condições, com quais impactos e com quais riscos.

Publicidade, aqui, não é uma peça de marketing nem release, muito menos demanda jornalística, quando se dão ao luxo de responder, é transparência, informação completa, tempestiva e verificável sobre atos que mexem com o dinheiro de todos.

Quando uma medida desse porte avança sem clareza por parte do secretário, o problema deixa de ser meramente jurídico e passa a ser de transparência. O silêncio produz um efeito inevitável: parece tentativa de fugir de perguntas. E perguntas são inevitáveis e legítimas.

Quais são os termos efetivos da adesão ao Propag? Há contrapartidas obrigatórias? Quais metas de investimento são exigidas e em quais prazos? Que impacto a adesão ao programa traz para a capacidade de investimento do Estado nos próximos anos? Há cláusulas que podem amarrar decisões futuras? Serão oferecidos ativos com lastro? Se sim, quais? Como foram avaliados? Quem avaliou? Esse tipo de compromisso atravessa mandatos e o que ficará para a próxima geração.

Boa governança começa pelo óbvio: se a decisão é boa, não há motivo para tratá-la sob reserva. Pelo contrário, quem tem convicção expõe os fundamentos, abre números, apresenta cenários e convida ao debate. Transparência não atrapalha, transparência protege a própria decisão.

Nada disso impede a adesão ao Propag, pelo contrário, torna a adesão mais legítima e menos vulnerável a ruídos. O que fragiliza não é a discussão, é o vazio de explicações.

O secretário precisa compreender que publicidade não é um favor à imprensa nem ao cidadão, é um dever institucional. É a materialização do princípio de que o erário não pertence a gabinete nenhum, pertence à sociedade.

Se o Propag é uma oportunidade, que seja tratado como tal: com informações completas. Se o secretário quer ser reconhecido como pilar de responsabilidade, não pode agir como se decisões fiscais estruturantes fossem assunto restrito a poucos. Confiança é ativo que não se negocia e, uma vez perdida, dificilmente se reconquista. 

ARTIGOS

Relaxa: você não precisa ter opinião sobre tudo

Estudo recente sobre comportamento em comunidades digitais revelou que quando alguém percebe que a opinião é minoritária, tende a manter o silêncio

15/12/2025 07h45

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Existe uma ansiedade silenciosa no ar: a sensação de que você deveria ter uma opinião pronta para cada assunto que aparece no feed. Um acontecimento político numa terça, um comentário de influencer numa quarta, uma treta musical na quinta.

E se você não fala nada, parece que está sendo omisso, alienado, cúmplice ou qualquer outra palavra grande que as redes adoram jogar. Mas a pergunta que vale mais do que todas as indignações do dia é simples: quem disse que você precisa opinar sobre tudo?

A verdade é que a internet criou uma espécie de olimpíada de opiniões. E a largada é dada a cada nova notificação. Só que, quando você olha os números, percebe que esse universo não é tão povoado quanto parece.

Uma pesquisa mostrou que 55% dos americanos já deixaram um comentário on-line em algum momento e 77,9% já leram comentários. Significa que tem muita gente olhando, mas só metade de fato escrevendo alguma coisa.

Quando se vai para os jovens, 55% dizem postar opiniões com frequência e 71% afirmam estar mais confiantes do que nunca para fazê-lo. De novo, parece muito, mas não é todo mundo. É só uma parte barulhenta.

Do outro lado tem um dado incômodo. Um estudo recente sobre comportamento em comunidades digitais mostra que, quando alguém percebe que a opinião dele é minoritária, 72,6% simplesmente ficam em silêncio.

A espiral do silêncio continua funcionando mesmo num ambiente que promete liberdade absoluta para falar o que quiser. Ou seja, o barulho das redes às vezes é menos democracia e mais repetição. A impressão de que “todo mundo está falando” pode ser só a repetição de um mesmo grupo de pessoas com muita disposição e pouco cansaço.

E vale lembrar que esse palco é enorme. O mundo tem 63,9% da população usando redes sociais. É muita gente. São horas diárias rolando tela, consumindo milhares de pequenos estímulos. Nesse ambiente, a opinião virou quase um gesto automático.

Às vezes você nem sabe exatamente o que pensa, mas já sente a pressão de ter que dizer alguma coisa. Ser rápido se tornou mais importante do que ser cuidadoso. E isso tem consequência.

Opinar o tempo todo transforma a discussão pública em uma competição permanente. Você não compartilha uma ideia, você disputa espaço. E existe um dado que mostra o quanto isso escalou: em uma pesquisa internacional, 20% das pessoas disseram que às vezes é necessário ser rude nas redes para que sua opinião seja ouvida.

Um quinto das pessoas já acredita que a forma de existir no debate é gritando. Não tem nada de saudável nisso. Só desgaste.

Talvez seja por isso que, silenciosamente, muita gente está cansada. Opinar sobre tudo virou um tipo de exaustão emocional. Até porque, para opinar sobre tudo, é preciso estar o tempo todo sabendo de tudo. E começar a falar menos pode não ser um gesto de covardia, mas de inteligência.

Você não precisa ser comentarista integral do mundo. Pode escolher onde sua voz realmente importa. Pode esperar. Pode investigar. Pode até mudar de ideia sem precisar explicar isso para ninguém.

Quando quase metade das pessoas não comenta e três quartos se calam quando acham que estão sozinhas, significa que o silêncio não é falta de interesse. É um pedido de pausa. É uma escolha. Não é uma desistência do debate, é só uma forma de não ser engolido por ele.

A ideia de que você precisa ter opinião sobre tudo é só mais uma pressão inventada pela lógica das plataformas. Você não é obrigado a entrar em todas as conversas. Nem deve. O valor da sua voz não está na frequência, está na relevância.

E, às vezes, a decisão mais lúcida é ficar quieto por alguns minutos, horas ou dias. Porque pensar é um processo mais lento do que postar. E tem coisas que não precisam de urgência. Precisam de reflexão. Aliás, a maioria delas.

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