Artigos e Opinião

OPINIÃO

Antonio Carlos Siufi Hindo: "Diplomacia"

Promotor de Justiça aposentado

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A diplomacia é a fotografia explícita da política externa dos governos. É a sua espinha dorsal na condução das ações que fomentam a paz, evitam a guerra e se esforçam para a integração política e econômica dos continentes. A perseguição ensandecida pela manutenção da ordem democrática, dos direitos humanos, da preservação do meio ambiente e outras tantas ações benfazejas são os seus principais desideratos. Surgiu concomitantemente ao Estado. 

É o seu próprio corolário. Em todas as questões delicadas há o seu espaço reservado. A interpretação não pode marchar em outra direção. No limiar da história da antiguidade, temos o seu registro. O papa Leão I conversou com Átila, o flagelo de Deus, nas portas de Roma e evitou a devastação do Império dos Deuses. Registro marcante da boa conversa. Essa é a grande marcha das negociações. Imperadores, reis, príncipes, presidentes e ditadores, no curso das suas gestões, não anunciavam nenhum ato de beligerância sem antes consultarem seus chanceleres. Eram esses servidores públicos que davam início às conversações. 

O velho continente europeu sempre foi o berço dos grandes diplomatas. Engrandeceram as nações e pacificaram conflitos armados. Chancelaram acordos históricos, cobriram de orgulho os seus nacionais e esparramaram para todos os quadrantes a força do diálogo. O Congresso de Viena, a Santa Aliança, a Unificação dos estados alemães, a Unificação Italiana são os seus exemplos seculares. Metternich, Bismark, Victor Manuel II e o seu chanceler Camilo Benso e o conde de Cavour foram os construtores desses fatos históricos. As duas grandes guerras mundiais receberam também a sua chancela. A ONU é a casa da diplomacia mundial. No seu seio, são travados os grandes debates que envolvem ossagrados interesses dos seus membros. Esses fatos não precisam de palavras. São as suas próprias evidências. 

No tempo de paz, a labuta heroica do diplomata é perene, sem tréguas. Passa a ser o nosso principal mascate. Com suas ações sempre pontuais, avançam no comércio exterior. São os vendedores dos nossos produtos comerciais. Sem essas vendas não há produção, não há recolhimento de impostos, não há emprego e renda. A bancarrota começa a esboçar o seu sorriso amargo. Nenhum governo suporta essas crises. O embaixador, nesse contexto, torna-se um precioso instrumento do Estado para a manutenção da paz social. A nossa diplomacia sempre teve lugar de destaque em nosso continente.

Deixou marcas indeléveis. A criação do Estado de Israel sob a presidência do brasileiro Osvaldo Euclides de Souza Aranha foi marcante. O princípio da autodeterminação dos povos, consagrado com o brilhantismo da inteligência do chanceler Santiago Dantas, mostrou a nossa grandeza na arte magistral de congraçar os povos. Não surgiu uma única voz contra o seu desiderato. A histórica Carta de Buenos Aires, que colocou fim ao conflito sangrento travado entre paraguaios e bolivianos na Guerra do Chaco, teve a assinatura da nossa chancelaria. São fatos preciosos. 

No curso da República Velha, a diplomacia mostrou sua face grandiosa. Para se evitar uma luta no campo político, as principais lideranças foram buscar na cidade de Paris o nosso embaixador Epitácio Pessoa para ser o candidato majoritário à presidência da República. Vitorioso, chegou ao Catete. Seu nome e a sua voz conciliadora respaldaram a exitosa campanha. Foram conquistas sobejamente gratificantes. Só a força da diplomacia tem esse condão de consolidar as amizades, despertar vocações, unir as forças políticas e sensibilizar os governantes a marcharem na direção da paz. Tudo depende da forma como essas negociações são conduzidas. As palavras produzem um valor mágico, surpreendente. A nossa diplomacia marcha para assegurar o seu assento permanente no Conselho de Segurança da ONU. Temos todas as credenciais para avançar com esse propósito. 

Mas foi com José Maria da Silva Paranhos Junior, o Barão do Rio Branco, que conhecemos o seu esplendor. Coordenou com sua inteligência a complicada negociação sobre a Questão do Acre e escreveu com a força dos seus conhecimentos as linhas das nossas fronteiras. Até os dias que correm resultam respeitadas. Esse legado não tem preço.

O Instituto Rio Branco é a casa de formação dos nossos diplomatas. Seu nome foi uma justa homenagem a quem sempre prestigiou a boa conversa, apostou no bom senso, na força da argumentação, na solidez dos propósitos elevados. Nossa história não podia ter outra direção. A Constituição de 1988 chancelou esse sagrado propósito. Fez refletir com todas as letras que somos um povo pacífico. Amante contumaz da paz. 

EDITORIAL

Santa Casa refém da própria má gestão

A Santa Casa precisa de mais do que socorros emergenciais: precisa de coragem para mudar, responsabilidade na gestão e respeito por quem sustenta sua missão

23/12/2025 07h15

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A situação vivida pela Santa Casa de Campo Grande ao fim de mais um ano é, infelizmente, a repetição de um roteiro conhecido – e previsível.

Há, pelo menos, uma década, o maior hospital filantrópico do Estado é vítima não apenas de um sistema público de saúde subfinanciado, mas, sobretudo, de escolhas administrativas equivocadas, da falta de planejamento e de uma gestão que parece incapaz de romper com seus erros históricos.

Neste fim de ano, o cenário chega a um ponto simbólico e constrangedor: a instituição depende, literalmente, de um milagre para pagar o 13º salário de seus funcionários.

Profissionais que sustentam o atendimento diário de milhares de pacientes, que enfrentam plantões exaustivos, superlotação, escassez de insumos e pressão constante, agora convivem com a angústia de não saber se receberão um direito básico. Isso não honra o nome “Santa Casa”.

Não há justiça social, não há moralidade administrativa e tampouco humanidade em deixar esses trabalhadores à mercê da incerteza.

É evidente que o problema não se resume à gestão interna. O subfinanciamento do Sistema Único de Saúde (SUS) é uma realidade nacional, e a Santa Casa, como tantas outras instituições filantrópicas, sofre com valores defasados, repasses insuficientes e atrasos frequentes.

O poder público tem, sim, parcela relevante de responsabilidade nesse quadro. Ignorar isso seria desonesto. No entanto, usar essa realidade como justificativa permanente para a ineficiência interna é igualmente inaceitável.

O que salta aos olhos é a aparente falta de disposição da administração do hospital em buscar eficiência, especialmente no campo financeiro.

Os números mostram que apenas o serviço da dívida – os juros e encargos pagos anualmente aos bancos – seria suficiente para quitar não apenas o 13º salário e evitar o acúmulo de outras obrigações em atraso, mas também de quitar quase toda a folha anual. Isso revela um modelo de gestão que prioriza a manutenção de passivos bancários em detrimento do compromisso com seus trabalhadores.

Mais uma vez, a saída apontada parece ser recorrer a novos empréstimos ou aguardar aportes emergenciais do poder público. Trata-se de um ciclo perverso. Endividar-se para cobrir despesas correntes, como folha de pagamento, não é uma estratégia de sustentabilidade; é um atalho para o colapso.

Empréstimos deveriam servir para investimentos, modernização, ganho de eficiência e redução de custos futuros – não para tapar buracos mensais de um caixa cronicamente desequilibrado.

O resultado é uma dívida cada vez menos saudável, maior dependência externa e nenhuma solução estrutural. Enquanto isso, a transparência sobre gastos, contratos e decisões estratégicas segue insuficiente, o que apenas aprofunda a desconfiança da sociedade e dos funcionários.

É lamentável que um hospital com tamanha importância social, histórica e simbólica chegue a esse ponto ano após ano. A Santa Casa precisa de mais do que socorros emergenciais: precisa de coragem para mudar, de responsabilidade na gestão e de respeito por quem sustenta a sua missão.

Sem isso, continuará sobrevivendo de milagres – e milagres, como se sabe, não fazem planejamento financeiro.

ARTIGOS

Terrorismo e religiosidade

Fundamentalismo dos terroristas de todos os matizes é antissemita, anticristão e anti-hislamista, porque se vale da inimizade aos valores religiosos para disseminar o ódio

22/12/2025 07h45

Arquivo

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A propósito do recente e trágico ataque ocorrido na Austrália, que vitimou diversas pessoas – algumas delas fatalmente – durante a pacífica celebração do Hanukkah, a festa das luzes da comunidade judaica, impõem-se algumas reflexões sobre os motivos e as consequências de tal ato.

À falta de definição mais apropriada, e sem entenderem bem o que teria motivado os ataques, aparentemente praticados por pessoas isoladas, os analistas chamaram a atenção para a facilidade com que se adquirem armamentos hoje em dia, fenômeno que ocorre também em nosso País.

É simbólico que a festa das luzes seja muito próxima dos festejos de Natal. Também no Tempo do Advento as luzes da coroa vão sendo acesas em crescente até que a Luz do Mundo venha a nascer na noite tão esperada pelos cristãos.

Jesus Cristo não selecionava ninguém. Qualquer pessoa seria bem acolhida por Ele, bastando que professasse o único mandamento propriamente cristão: ama o próximo como a ti mesmo. Aliás, o Cristo ia além e dizia: amai vossos inimigos, o que revela, igualmente, o modelo mais aberto de compreensão da pessoa do próximo.

Na verdade, o fundamentalismo dos terroristas – de todos os matizes – é antissemita, anticristão e anti-hislamista, porque se vale da inimizade aos valores religiosos para disseminar o ódio, a cultura de morte a que já se referia São João Paulo II.

Trata-se, portanto, do mesmo tipo de fundamentalismo que outros grupos de terroristas praticam para excluir as minorias de todo o tipo, mesmo as que não professem nenhuma crença.

É simbólico que tenha sido Ahmed, o sírio, a desarmar um dos terroristas, o que lhe custou dois ferimentos.

Esses terroristas disparam, inclusive pelos meios de comunicação virtual, contra todos aqueles que não pensam como eles. Eis quem são, em certo sentido, os verdadeiros fundamentalistas do ódio. Por que teriam escolhido a reunião do Hanukkah, tão plena de simbolismos?

Não nos prendamos a esse vetor. Basta atentar para os recentes ataques a uma mesquita e a uma feira natalina para que se ponha foco na essência do que está em jogo.

A enorme confusão ideológica e doutrinal do terrorismo revela, antes de tudo, mentes perturbadas, incapazes de discernir entre o bem e o mal. Ou, se quisermos embaralhar ainda mais as cartas, incapazes de discernir a esquerda da direita.

A confusão ideológica, aliás, não é apenas um sintoma de desordem mental, mas a estratégia consciente de aniquilar a pluralidade inerente à condição humana.

O extremismo, ao se apropriar de símbolos sagrados e transformá-los em bandeiras de exclusão, trai a própria essência de qualquer fé que pregue a transcendência e o amor ao Criador, pois desumaniza a criatura feita à sua imagem.

Desta forma, o verdadeiro combate ao terrorismo não se limita à repressão policial ou militar, mas passa necessariamente pela defesa intransigente da educação e do diálogo inter-religioso.

É a luz da razão e da tolerância que deve ser acesa para dissipar a escuridão do fanatismo, provando que a diferença de crença jamais pode ser motivo para a guerra, mas sim o motor para um enriquecimento mútuo da civilização.

Urge que os homens de boa vontade se ergam, em uníssono, em favor de uma cultura de paz e de liberdade religiosa, e que todas as luzes se acendam em alerta contra toda e qualquer manifestação terrorista.

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