Artigos e Opinião

ARTIGO

Antonio Carlos Siufi Hindo: "Reflexões sobre a carta libelo de Palloci"

Promotor de Justiça aposentado

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Depois da vida, que resulta em uma dádiva divina, o ser humano tem na liberdade o seu mais precioso direito a ser usufruído durante a sua peregrinação terrena. Não interessa a sua condição econômica ou social. Pode ser o mais miserável que vive nos barracos e nas palafitas, como o mais abastado que vive nas mansões e nos palácios luxuosos. O valor da liberdade não tem preço. 

Em qualquer quadrante do nosso planeta, a reação humana é a mesma. Ela que impulsiona todos a terem uma vida digna e honrada. E respalda sempre suas ações bem propositadas para legar à sua prole essa conquista preciosa. É sob esse ângulo que queremos levar o leitor a reflexionar sobre temas importantes que podem ser retirados do conteúdo da carta libelo produzida e assinada pelo ex-ministro Antonio Palocci. Dos seus termos bem fundamentados e construídos a nação inteira tomou conhecimento. Não há necessidade de decliná-los novamente. 

O que queremos é extrair dela alguns questionamentos da nossa vida diária. Eles estão relacionados com as mágoas, os ressentimentos, a dor intensa, a humilhação, o constrangimento, a fidelidade e  a força da  palavra  oral e escrita. A amizade é a pedra angular. São esses temas que queremos submeter ao juízo de valor do nosso leitor. O primeiro deles é o efeito devastador das palavras. Elas podem reservar surpresas agradáveis e desagradáveis para quem as pronuncia. Uma vez tornadas públicas resultam em algo irreversível. Não existe fórmula mágica para dar outra interpretação à sua literalidade. Sua força devastadora é capaz de destruir amizade antiga. Nesse sentido, ninguém é bobo para não entender o caráter da difamação, da injúria e da calúnia. 

Outro tema está relacionado com a fidelidade. Esse vínculo fortíssimo que precisa existir nas relações entre as pessoas merece melhor apreciação. Elas precisam resultar construídas com ações enriquecedoras. De bons propósitos, sobretudo. Os momentos alegres, festivos e descontraídos e sempre acompanhados do dinheiro fácil e do luxo ostensivo não são garantia da manutenção desse vínculo. A fidelidade para se consolidar precisa de algo mais forte e substancial. É assim que se constrói a fidelidade. A amizade é algo decorrente dessa relação. Podemos considerá-la como a sua irmã gêmea. O reverso da moeda pode tornar áspero esse relacionamento. 

A amizade vira inimizade, a fidelidade se transforma em infidelidade. O que era luz se transforma na mais angustiante escuridão. Esse o retrato fiel do quadro retratado. Na desgraça, no desespero, na angústia, na dor intensa, na perda temporária da liberdade, a infidelidade solta o seu mais angustiante gemido. Pode se constituir na mais forte expressão da fraqueza humana. 

Nesse contexto, a ingratidão dá o ar de sua graça. Entre a infidelidade e a ingratidão não é possível avaliar qual delas produz um efeito mais devastador nas relações pessoais. As duas são perversas. Na adversidade, o ser humano não reconhece a fidelidade, a gratidão e a amizade. Nada disso lhe interessa. O interesse particular e próprio de cada pessoa dita as regras desse tipo de comportamento. 

A história da humanidade está repleta desses fatos. Ele é bíblico. Pedro traiu o Cristo em três oportunidades. Recebeu dele o perdão. Não foi apenas um indicativo divino. Foi a própria fraqueza humana que ditou a regra daquele comportamento humano. A passagem bíblica, trazida à baila, é apenas para enriquecer o debate. Ele pode vislumbrar outras perspectivas para a consolidação de entendimentos. Pode também não vislumbrar. São esses os principais temas que extraímos da carta libelo. Um verdadeiro desafio para a nossa inteligência. Uma advertência dura para as nossas ações impetuosas. 

As interpretações subjetivas precisam ser respeitadas. Elas engrandecem o ser humano. Respaldam a nossa liberdade de expressão e também de opinião consagradas pela nossa Constituição. De outro vértice essas ações enriquecem o debate, constroem ideias e consolidam os entendimentos. O exercício ativo da cidadania ganha notoriedade. 

Esses temas preciosos precisam ser levados para as nossas escolas. Os nossos educadores e educadoras  saberão com os instrumentos adequados conduzir o bom debate. É assim que se constrói uma sociedade altiva, digna e respeitada. Uma sociedade com esses predicados é o prenúncio de uma Pátria forte e livre. 
O ato de debater, opinar, contestar, construir alternativas e apontar os erros e os acertos dos fatos que se vivenciam, no dia a dia, reflete também a sua própria grandeza. É assim que se exercita esse princípio sagrado. É dessa forma que construímos o futuro próspero da Pátria. Esse é o nosso propósito. Não pode existir outro maior!

EDITORIAL

Propag: uma decisão que dura décadas

O secretário de Estado de Fazenda de Mato Grosso do Sul pode até decidir o que prefere destacar, o que não pode é decidir o que a sociedade tem o direito de conhecer

16/12/2025 07h15

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O Programa de Pleno Pagamento de Dívidas dos Estados (Propag) foi desenhado para revisar termos das dívidas estaduais e permitir quitação em até 30 anos, com encargos menores, atrelando parte do alívio fiscal a investimentos e mecanismos de equalização federativa.

O prazo de adesão termina no dia 31. Trata-se, portanto, de uma decisão com efeitos fiscais, políticos e institucionais de longo prazo.

É justamente por isso que causa estranheza quando um movimento dessa magnitude parece avançar sem publicidade compatível com o tamanho do que está em discussão. Ainda que os ritos formais estejam cumpridos, e o Diário Oficial exista para isso, há decisões que não se esgotam no “publicou e pronto”.

A adesão ao Propag mexe com dívida e espaço fiscal, e isso exige mais do que um carimbo burocrático: exige explicação, justificativa e escrutínio.

Matéria publicada pelo Correio do Estado apontou que a adesão pode ser benéfica e abrir folga fiscal bilionária para os próximos anos. Se isso ocorrer na prática, melhor ainda.

Mas, justamente por ser uma oportunidade desse porte, não faz sentido que a sociedade seja informada por textos que parecem exigir esforço de “investigação”, recortes, vazamentos, boatos e notas lacônicas para compreender o básico. Decisão pública não pode depender de rumor para vir a conhecimento.

O secretário não é apenas o gestor do caixa, é, por definição, o guardião das chaves do cofre e da confiança do governador.

Seu dever não é somente buscar a melhor alternativa financeira, mas assegurar que a população, o Legislativo e os órgãos de controle entendam o que está sendo feito – por que, com quais condições, com quais impactos e com quais riscos.

Publicidade, aqui, não é uma peça de marketing nem release, muito menos demanda jornalística, quando se dão ao luxo de responder, é transparência, informação completa, tempestiva e verificável sobre atos que mexem com o dinheiro de todos.

Quando uma medida desse porte avança sem clareza por parte do secretário, o problema deixa de ser meramente jurídico e passa a ser de transparência. O silêncio produz um efeito inevitável: parece tentativa de fugir de perguntas. E perguntas são inevitáveis e legítimas.

Quais são os termos efetivos da adesão ao Propag? Há contrapartidas obrigatórias? Quais metas de investimento são exigidas e em quais prazos? Que impacto a adesão ao programa traz para a capacidade de investimento do Estado nos próximos anos? Há cláusulas que podem amarrar decisões futuras? Serão oferecidos ativos com lastro? Se sim, quais? Como foram avaliados? Quem avaliou? Esse tipo de compromisso atravessa mandatos e o que ficará para a próxima geração.

Boa governança começa pelo óbvio: se a decisão é boa, não há motivo para tratá-la sob reserva. Pelo contrário, quem tem convicção expõe os fundamentos, abre números, apresenta cenários e convida ao debate. Transparência não atrapalha, transparência protege a própria decisão.

Nada disso impede a adesão ao Propag, pelo contrário, torna a adesão mais legítima e menos vulnerável a ruídos. O que fragiliza não é a discussão, é o vazio de explicações.

O secretário precisa compreender que publicidade não é um favor à imprensa nem ao cidadão, é um dever institucional. É a materialização do princípio de que o erário não pertence a gabinete nenhum, pertence à sociedade.

Se o Propag é uma oportunidade, que seja tratado como tal: com informações completas. Se o secretário quer ser reconhecido como pilar de responsabilidade, não pode agir como se decisões fiscais estruturantes fossem assunto restrito a poucos. Confiança é ativo que não se negocia e, uma vez perdida, dificilmente se reconquista. 

ARTIGOS

Relaxa: você não precisa ter opinião sobre tudo

Estudo recente sobre comportamento em comunidades digitais revelou que quando alguém percebe que a opinião é minoritária, tende a manter o silêncio

15/12/2025 07h45

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Existe uma ansiedade silenciosa no ar: a sensação de que você deveria ter uma opinião pronta para cada assunto que aparece no feed. Um acontecimento político numa terça, um comentário de influencer numa quarta, uma treta musical na quinta.

E se você não fala nada, parece que está sendo omisso, alienado, cúmplice ou qualquer outra palavra grande que as redes adoram jogar. Mas a pergunta que vale mais do que todas as indignações do dia é simples: quem disse que você precisa opinar sobre tudo?

A verdade é que a internet criou uma espécie de olimpíada de opiniões. E a largada é dada a cada nova notificação. Só que, quando você olha os números, percebe que esse universo não é tão povoado quanto parece.

Uma pesquisa mostrou que 55% dos americanos já deixaram um comentário on-line em algum momento e 77,9% já leram comentários. Significa que tem muita gente olhando, mas só metade de fato escrevendo alguma coisa.

Quando se vai para os jovens, 55% dizem postar opiniões com frequência e 71% afirmam estar mais confiantes do que nunca para fazê-lo. De novo, parece muito, mas não é todo mundo. É só uma parte barulhenta.

Do outro lado tem um dado incômodo. Um estudo recente sobre comportamento em comunidades digitais mostra que, quando alguém percebe que a opinião dele é minoritária, 72,6% simplesmente ficam em silêncio.

A espiral do silêncio continua funcionando mesmo num ambiente que promete liberdade absoluta para falar o que quiser. Ou seja, o barulho das redes às vezes é menos democracia e mais repetição. A impressão de que “todo mundo está falando” pode ser só a repetição de um mesmo grupo de pessoas com muita disposição e pouco cansaço.

E vale lembrar que esse palco é enorme. O mundo tem 63,9% da população usando redes sociais. É muita gente. São horas diárias rolando tela, consumindo milhares de pequenos estímulos. Nesse ambiente, a opinião virou quase um gesto automático.

Às vezes você nem sabe exatamente o que pensa, mas já sente a pressão de ter que dizer alguma coisa. Ser rápido se tornou mais importante do que ser cuidadoso. E isso tem consequência.

Opinar o tempo todo transforma a discussão pública em uma competição permanente. Você não compartilha uma ideia, você disputa espaço. E existe um dado que mostra o quanto isso escalou: em uma pesquisa internacional, 20% das pessoas disseram que às vezes é necessário ser rude nas redes para que sua opinião seja ouvida.

Um quinto das pessoas já acredita que a forma de existir no debate é gritando. Não tem nada de saudável nisso. Só desgaste.

Talvez seja por isso que, silenciosamente, muita gente está cansada. Opinar sobre tudo virou um tipo de exaustão emocional. Até porque, para opinar sobre tudo, é preciso estar o tempo todo sabendo de tudo. E começar a falar menos pode não ser um gesto de covardia, mas de inteligência.

Você não precisa ser comentarista integral do mundo. Pode escolher onde sua voz realmente importa. Pode esperar. Pode investigar. Pode até mudar de ideia sem precisar explicar isso para ninguém.

Quando quase metade das pessoas não comenta e três quartos se calam quando acham que estão sozinhas, significa que o silêncio não é falta de interesse. É um pedido de pausa. É uma escolha. Não é uma desistência do debate, é só uma forma de não ser engolido por ele.

A ideia de que você precisa ter opinião sobre tudo é só mais uma pressão inventada pela lógica das plataformas. Você não é obrigado a entrar em todas as conversas. Nem deve. O valor da sua voz não está na frequência, está na relevância.

E, às vezes, a decisão mais lúcida é ficar quieto por alguns minutos, horas ou dias. Porque pensar é um processo mais lento do que postar. E tem coisas que não precisam de urgência. Precisam de reflexão. Aliás, a maioria delas.

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