Gugu dadá! Parece que os bonecos bebê reborn chegaram para ficar. E quem afirma é um estudo compilado pela revista Forbes. Criados em 1990, nos Estados Unidos, os nenéns que imitam de maneira fidedigna um ser humano recém-nascido já movimentam a casa dos milhões de dólares em faturamento anual, com exemplares chegando a R$ 12 mil.
E a explicação para a disseminação do fenômeno parece vir das redes sociais. Influenciadoras populares no Instagram, como Aline Oliveira, Ana Paula Guimarães e Emily Reborn, juntas, acumulam cerca de 389,7 mil seguidores, gerando conteúdos que influenciam a decisão de compra de internautas brasileiros.
Um exemplo deles foi a simulação de um parto realizado por Carolina Rossi. Nele, utilizando-se de um bebê reborn ainda no útero da mãe, ela faz a ruptura da bolsa amniótica, deixando a água escorrer pelo estúdio enquanto realiza o corte do cordão umbilical: ambos de plástico. O vídeo alcançou 4 milhões de visualizações.
Em outro, enquanto canta o refrão da música sertaneja “Oh, my god. Oh, my god. Amo meu bebê reborn”, Emily empunha uma das marionetes réplica no colo e faz passinhos de dança, deixando as mais de 194 mil pessoas que a acompanham em seu canal digital apaixonarem-se com os comentários: “é perfeito”, “é muito fofo”, “eu quero” ou, ainda, “ai, que coisa linda!”.
Seria o fim da sanidade? Para o psicanalista britânico Herbert Rosenfeld, talvez sim. Para ele, quando um indivíduo adora obsessivamente um ser humano fictício, a ponto de tratá-lo como uma pessoa de verdade, pode-se dizer que existe um ponto de fixação patológico na história pregressa daquele sujeito.
No caso da adoração exagerada por bebês reborn, ele permanece preso na fantasia da sua mãe que, um dia, idealizou o filho perfeito. Assim, quando está de posse de um destes brinquedos hiper-realistas, ele se transporta para o tempo em que ou ele está no papel da genitora, que alucina na presença do bebê ideal, ou ele é o próprio bebê enlouquecido.
Em outras palavras, é como se o dono do objeto que cheira a leite dissesse psicologicamente: “a moça que usa saia e tem cabelo grande ficou tão maluca com a minha suposta perfeição lá atrás que eu quero ficar preso nesta sensação entorpecente para sempre”. Desse modo, ele carrega esta fantasia para o hoje, reproduzindo o devaneio dessa relação por meio dos bonecos.
É por esse motivo que esses pequeninos são alvo de tanta dicotomia emocional. Neste ano, uma maternidade de bebês reborn localizada na cidade de Curitiba, no estado do Paraná, foi atacada na internet após uma publicação sobre um encontro de fãs ganhar força na rede. Além do ódio, participantes da ação invadiram a loja física, roubando 15 exemplares avaliados em R$ 55 mil.
Lá, em vez de adoração, o que se atacou foi o inverso do fanatismo amoroso. Ou seja, uma vez que os haters não aceitam que também possuem alguma questão complexa envolvendo o bebê ideal mencionado por Rosenfeld, destruir os protótipos é uma tentativa maníaca de se livrar do sofrimento que se deparar com o problema causa ao psiquismo, afastando-o da esfera mental.
Deste modo, tanto os adoradores, quanto os odiadores, constituem-se como faces opostas de um mesmo prisma alucinativo-simbólico. Em ambas as situações, questionar-se sobre o que impulsiona um relacionamento tão profundo com um objeto inanimado faz-se necessário.
É somente com ela que se poderá chegar a um maior entendimento sobre as dores individuais, deixando os bonecos nas prateleiras. Afinal, podemos não ser mais assim tão pequenos, mas não precisamos mais de tanto gugu dadá.


