O adiamento das votações da reforma da Previdência deixou muitos - inclusive o mercado financeiro - perplexos. Pela estabilidade econômica, é preciso mais sensatez.
Desde que foi aprovada em dois turnos pela Câmara dos Deputados, a reforma da Previdência deixou de ser uma preocupação para o governo brasileiro, sobretudo o Ministério da Economia, e também para os que estão no mercado. Mesmo antes da posse do presidente da República, Jair Bolsonaro, o tema ganhava força em vários setores da sociedade, e foi tratado como urgente e necessário por representantes de vários partidos, da esquerda à direita. Mesmo muitos dos que na Câmara votaram contra a Proposta de Emenda Constitucional, defendiam a reforma, só que de outra maneira, ato que serve de exemplo para mostrar um quase consenso nacional construído sobre a necessidade de reformular o sistema de aposentadorias, pensões e contribuições.
Depois de todo o desgaste vivido anteriormente pelos deputados federais, no Senado o tema tinha, até ontem, tramitação mais tranquila e previsível. No mercado financeiro, as mudanças na Constituição já eram dadas como certas até o início de outubro, porém, operação da Polícia Federal na semana passada, no gabinete do líder do governo na casa legislativa, o senador Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE). A ação policial foi o estopim para que o presidente do Senado, David Alcolumbre (DEM-AP) reunisse comitiva de senadores e fosse ao Supremo Tribunal Federal (STF) reclamar da ação.
É um direito dos senadores, e de qualquer cidadão, queixar-se de uma investigação e até mesmo apontar excessos. Vivemos em um estado democrático de Direito, e reclamações como estas, estão previstas no sistema jurídico e institucional. É legítimo, e seria pior se não o fosse.
O que deixou o mercado, e muitos outros senadores perplexos, foi o adiamento das votações da reforma da Previdência que restam ser concluídas na Comissão de Constituição e Justiça do Senado, presidida pela sul-mato-grossense Simone Tebet (MDB), e da votação em plenário. Tudo isso deveria ocorrer hoje, mas ficou para a próxima semana.
Simone foi contra o adiamento, o mercado financeiro também, conforme o leitor poderá ler, com mais detalhes, em nossas páginas seguintes. A administração pública e o mercado financeiro, que perseguem diariamente tornar os fatos seguros e previsíveis, tiveram mais uma vez de lidar com o inesperado e imponderável.
Pela estabilidade econômica brasileira, e para que problemas internos do Senado não atrapalhem a tão esperada retomada do crescimento, esperamos que a sensatez volte a imperar não somente no Senado, mas em todo o centro do poder. Já chega de crises políticas e econômicas.