A falta de bom senso da população mundial é, no momento, a principal ameaça ao meio ambiente.
Neste ano de 2019, a dimensão dos desastres ambientais tem sido muito mais motivada por opiniões de políticos e interesses de determinados grupos ou países do que propriamente pelos danos e sua origem. Se existe algo que está em desuso no mundo, pelo menos pela maioria dos cidadãos, nestes tempos de redes sociais e informação instantânea, é o respeito aos fatos e aos fenômenos físicos da natureza. A ciência tem valido muito pouco em uma época em que a opinião parece importar mais.
O desprezo à razão, algo que era condenável até a década passada, agora é celebrado. A objetividade dos acontecimentos e dos fenômenos naturais pouco importa. O que vale mesmo é o que a pessoa ou seu grupo pensam sobre o ocorrido. Neste mundo, em que o julgamento sobre qualquer coisa vale mais do que as provas apresentadas sobre o mesmo tema, quem sai perdendo é o próprio mundo e as pessoas que vivem nele.
O distanciamento da razão e o apego à emoção têm sido cada vez mais prejudiciais ao meio ambiente. Vejamos, por exemplo, as queimadas ocorridas na Amazônia nos meses de julho, agosto e setembro. Todos se interessaram pelo que estava ocorrendo na maior floresta tropical do planeta. Houve milhões de pessoas em todo o mundo, talvez bilhões, que maximizaram o problema. Uma outra parcela muito considerável da população minimizou-o. Certamente, a razão passou longe de seus julgamentos.
O que era para ser encarado de forma técnica virou um julgamento planetário. Um fato que poderia ser cíclico, ou rotineiro, passou a ser uma comoção planetária. Agora são revelados os dados do mês de outubro, e os satélites do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) revelam que este período foi o que teve a menor quantidade de queimadas na região amazônica desde 1998. Em uma época em que os fatos são pouco cruzados, cabe a pergunta: o que levou a dados tão antagônicos no intervalo de apenas 30 dias?
Como a Amazônia era viral. Celebridades de Hollywood e chefes de Estado europeus falaram muito sobre o tema, enquanto havia muitas queimadas na floresta. Agora, porém, com o óleo vazado, provavelmente por um navio grego (leia reportagem nesta edição) no Oceano Atlântico, a comoção externa é praticamente inexistente. O óleo ameaça santuários da vida marinha, como o Arquipélago de Abrolhos, na Bahia.
Em meio a um mundo radical, talvez todos possam concordar: a falta de bom senso é a principal ameaça ao meio ambiente. Que a razão nos salve!