O futuro sempre foi, por natureza, incerto. Mas há momentos em que essa incerteza deixa de ser uma abstração distante e se impõe com força no presente. É o que acontece quando decisões de grande impacto global desorganizam projeções e embaralham as condições que sustentam o planejamento econômico. Vivemos, atualmente, uma dessas épocas turbulentas.
O anúncio de um novo tarifaço feito pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, trouxe mais um ingrediente de instabilidade ao cenário internacional. Como é a maior economia do planeta, qualquer movimento protecionista dos EUA repercute no comércio global, afeta cadeias produtivas e atinge diretamente países emergentes como o Brasil. Nessas horas, projeções de crescimento, arrecadação e investimentos perdem confiabilidade e exigem dos governos mais cautela e firmeza.
É justamente essa postura que o governo de Mato Grosso do Sul, sob a liderança de Eduardo Riedel, anuncia para o segundo semestre. Diante das incertezas internacionais e da frustração de algumas receitas importantes – como as relacionadas à importação de gás natural, essencial para o funcionamento da máquina pública –, o Executivo estadual pretende cortar R$ 800 milhões do orçamento até o fim do ano. A reportagem com os detalhes dessa medida pode ser lida nesta edição.
Trata-se de uma atitude que, embora dura, transmite uma importante mensagem de responsabilidade fiscal. Ajustar o orçamento em tempos difíceis é uma ação que requer coragem e capacidade de priorização. Não se trata de cortar por cortar, mas de readequar os gastos com base na realidade de arrecadação e nos limites do que o Estado pode suportar sem comprometer a entrega de serviços essenciais à população.
A decisão do governo do Estado tem o mérito de tentar preservar a credibilidade das finanças públicas. Em um ambiente de desconfiança econômica, a previsibilidade fiscal torna-se um diferencial competitivo.
Investidores que miram Mato Grosso do Sul querem, além de incentivos e infraestrutura, estabilidade – e estabilidade se constrói com contas equilibradas. Mostrar que o Estado está disposto a se ajustar antes de ser forçado a isso é uma postura que inspira confiança.
Naturalmente, será preciso acompanhar com atenção os efeitos práticos desses cortes, especialmente nos setores mais sensíveis da administração pública. Mas a sinalização política é clara: o governo opta por agir, e não por aguardar passivamente que o cenário internacional se resolva por si só. Isso tem valor estratégico.
A história mostra que os governos que melhor atravessam momentos de incerteza são aqueles que têm disciplina orçamentária e flexibilidade para reavaliar prioridades. Mato Grosso do Sul parece disposto a seguir por esse caminho. Em um tempo em que o presente está contaminado pelas inseguranças do futuro, a prudência fiscal é uma das poucas formas de manter o rumo e preservar o desenvolvimento.



