Os números do crédito consignado com carteira assinada em Mato Grosso do Sul chamam atenção. Mais de R$ 300 milhões foram emprestados nos últimos meses. É um dado robusto, que permite múltiplas leituras – do otimismo à cautela.
O primeiro impulso é enxergar o lado positivo: são mais de R$ 300 milhões injetados diretamente na economia sul-mato-grossense. Esse volume representa mais dinheiro circulando, o que, por sua vez, estimula o comércio, eleva o consumo, impulsiona a geração de renda e, potencialmente, cria novos empregos. Para uma economia que depende em parte do dinamismo interno, esse movimento é bem-vindo.
Por outro lado, precisamos fazer uma pausa para pensar na qualidade desse gasto. Crédito, mesmo o microcrédito, é uma ferramenta poderosa de alavancagem econômica – mas só quando bem utilizado. O simples ato de tomar dinheiro emprestado não garante prosperidade, ao contrário, pode ser um sinal de aperto financeiro e, em casos extremos, de desespero.
Na esfera da vida privada, cada indivíduo tem o direito de escolher como usar o crédito. Essa liberdade é um dos pilares da vida econômica moderna. Ainda assim, é fundamental reforçar a cultura do uso consciente: a finalidade do crédito deveria, sempre que possível, ser o investimento – mesmo que seja na capacitação pessoal, na quitação de dívidas mais caras ou em algo que melhore as finanças no médio e no longo prazo.
Nesse ponto, o crédito consignado para trabalhadores da CLT tem uma vantagem estrutural: os juros são consideravelmente mais baixos do que os de outras modalidades. Isso, por si só, já representa um alívio em tempos de aperto. Reduzir o peso dos juros em um país onde o crédito rotativo beira a usura é um ganho que deve ser reconhecido.
No entanto, é necessário frisar: o acesso a crédito mais barato deve ser encarado com responsabilidade. Se a facilidade de contratar consignado leva à tomada de empréstimos sucessivos para cobrir gastos cotidianos ou desejos momentâneos, o efeito colateral pode ser a armadilha do endividamento crônico.
O crédito é uma porta. Pode ser a entrada para um ciclo virtuoso de crescimento e estabilidade ou o início de uma descida difícil de controlar. Que os bons números do consignado em Mato Grosso do Sul sejam, sobretudo, um convite à educação financeira – para que o impulso da economia não se transforme, mais adiante, em fardo.



