Artigos e Opinião

OPINIÃO

Davi Roballo: "Como comer um livro"

Escritor, Jornalista, Especialista em Comunicação e Marketing

Redação

10/05/2016 - 01h00
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“Os leitores extraem dos livros, consoante o seu caráter, a exemplo da abelha ou da aranha que, do suco das flores retiram, uma o mel, a outra o veneno.” Nietzsche.

Há um grande engano acreditar que a leitura e os livros são a panaceia para a vida, para os relacionamentos, para o intelecto... Não são. Livros são como cozinhas e como tais possuem ingredientes para confeccionar comidas de alto nível, pratos medianos, alimento sem sal, como também coisas intragáveis. Assim como pode descortinar um novo horizonte diante dos nossos olhos, a leitura também pode nos imbecilizar e nos transformar em seres medíocres. 

É importante ao leitor ao consumir uma obra estar ciente de que o conhecimento difere muito da crença. Só assim vai entender o porquê de existir pessoas de altíssimo grau intelectual sujeitadas ainda a superstições e a crenças em estórias infantilizadas. Segundo Gustav Le Bon, isso dá-se por a crença agir no inconsciente do ser enquanto que o conhecimento age e forma-se no consciente, isto é, o ser humano é mais suscetível a formar e vivenciar uma crença do que construir conhecimento, pois a construção de um repertório de conhecimento exige uma racionalização, enquanto que a crença nada exige, simplesmente aloja-se no inconsciente.

Para Rubem Alves, os livros devem ser encarados como comida, isto é, não podemos sair por aí comendo qualquer coisa. Um bom livro deve de ter bom cheiro, gosto e beleza. Deve nos provocar as mesmas sensações que nos provoca o perfume de uma boa comida, deve provocar água na boca como os bons pratos e deve possuir beleza como as que encantam nossos olhos. Se um livro possui essas características, podemos então devorá-lo, e quanto mais apetitoso, mais desperta a vontade de consumi-lo.

Ler é como comer em todos os sentidos. Assim como na alimentação inadequada, a leitura errada traz consequências. Há pessoas que comem demais e, portanto, engordam em demasia. Pessoas obesas têm dificuldade de locomoção e outros males ocasionados pelo excesso de gordura. Numa clara analogia, existem pessoas que confundem conhecimento com muita leitura e para tanto não selecionam o que leem e acabam “gordas” de informação e conteúdos supérfluos que não os deixam sair do lugar, como também as impedem de adequarem-se a outros lugares.

Existem também aquelas pessoas que são exímios leitores de obras excelentes, as devoram e as transformam em conhecimento. No entanto, criam represas e diques mentais que as impedem de repassar o conhecimento adquirido. São pessoas que sofrem de constipação intelectual, isto é, sabem muito, mas sabem somente para si, não conseguem passar adiante o que apreenderam, muito menos aplicar em favor da própria vida.

Para Nietzsche, o bom leitor deixa a sua taça transbordar e rejubila-se pelos demais estarem comprazendo-se com o conhecimento que entorna, pois é aí que ele encontra o alívio para a angústia que invade o âmago de quem aprende a ler o mundo e as pessoas de forma crítica e instigante. A leitura é uma chave que abre as janelas e as cortinas do mundo apresentando a quem se atreve a adentrar no mundo da leitura raciocinando, as pessoas e as coisas sem máscaras...

A cada dia, a ampulheta da existência esvazia-se um pouco mais, por isso a necessidade de preenchê-la com boas coisas e isso inclui uma boa leitura. Nossa mente deve ser cultivada com boas ideias e conhecimento, pois ele outorga determinado “poder” sobre nós mesmos. Para isso, a leitura deve ser balanceada como a comida saudável. Além do mais, no momento da leitura devemos vivenciar o que está sendo percorrido por nossos olhos, conscientes de que o autor seja quem for, não constituiu o que está repassando sozinho, isto é, trata-se de uma soma de conhecimentos obtidos em varias fontes, como estas mal traçadas linhas que repasso...

EDITORIAL

Propag: uma decisão que dura décadas

O secretário de Estado de Fazenda de Mato Grosso do Sul pode até decidir o que prefere destacar, o que não pode é decidir o que a sociedade tem o direito de conhecer

16/12/2025 07h15

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O Programa de Pleno Pagamento de Dívidas dos Estados (Propag) foi desenhado para revisar termos das dívidas estaduais e permitir quitação em até 30 anos, com encargos menores, atrelando parte do alívio fiscal a investimentos e mecanismos de equalização federativa.

O prazo de adesão termina no dia 31. Trata-se, portanto, de uma decisão com efeitos fiscais, políticos e institucionais de longo prazo.

É justamente por isso que causa estranheza quando um movimento dessa magnitude parece avançar sem publicidade compatível com o tamanho do que está em discussão. Ainda que os ritos formais estejam cumpridos, e o Diário Oficial exista para isso, há decisões que não se esgotam no “publicou e pronto”.

A adesão ao Propag mexe com dívida e espaço fiscal, e isso exige mais do que um carimbo burocrático: exige explicação, justificativa e escrutínio.

Matéria publicada pelo Correio do Estado apontou que a adesão pode ser benéfica e abrir folga fiscal bilionária para os próximos anos. Se isso ocorrer na prática, melhor ainda.

Mas, justamente por ser uma oportunidade desse porte, não faz sentido que a sociedade seja informada por textos que parecem exigir esforço de “investigação”, recortes, vazamentos, boatos e notas lacônicas para compreender o básico. Decisão pública não pode depender de rumor para vir a conhecimento.

O secretário não é apenas o gestor do caixa, é, por definição, o guardião das chaves do cofre e da confiança do governador.

Seu dever não é somente buscar a melhor alternativa financeira, mas assegurar que a população, o Legislativo e os órgãos de controle entendam o que está sendo feito – por que, com quais condições, com quais impactos e com quais riscos.

Publicidade, aqui, não é uma peça de marketing nem release, muito menos demanda jornalística, quando se dão ao luxo de responder, é transparência, informação completa, tempestiva e verificável sobre atos que mexem com o dinheiro de todos.

Quando uma medida desse porte avança sem clareza por parte do secretário, o problema deixa de ser meramente jurídico e passa a ser de transparência. O silêncio produz um efeito inevitável: parece tentativa de fugir de perguntas. E perguntas são inevitáveis e legítimas.

Quais são os termos efetivos da adesão ao Propag? Há contrapartidas obrigatórias? Quais metas de investimento são exigidas e em quais prazos? Que impacto a adesão ao programa traz para a capacidade de investimento do Estado nos próximos anos? Há cláusulas que podem amarrar decisões futuras? Serão oferecidos ativos com lastro? Se sim, quais? Como foram avaliados? Quem avaliou? Esse tipo de compromisso atravessa mandatos e o que ficará para a próxima geração.

Boa governança começa pelo óbvio: se a decisão é boa, não há motivo para tratá-la sob reserva. Pelo contrário, quem tem convicção expõe os fundamentos, abre números, apresenta cenários e convida ao debate. Transparência não atrapalha, transparência protege a própria decisão.

Nada disso impede a adesão ao Propag, pelo contrário, torna a adesão mais legítima e menos vulnerável a ruídos. O que fragiliza não é a discussão, é o vazio de explicações.

O secretário precisa compreender que publicidade não é um favor à imprensa nem ao cidadão, é um dever institucional. É a materialização do princípio de que o erário não pertence a gabinete nenhum, pertence à sociedade.

Se o Propag é uma oportunidade, que seja tratado como tal: com informações completas. Se o secretário quer ser reconhecido como pilar de responsabilidade, não pode agir como se decisões fiscais estruturantes fossem assunto restrito a poucos. Confiança é ativo que não se negocia e, uma vez perdida, dificilmente se reconquista. 

ARTIGOS

Relaxa: você não precisa ter opinião sobre tudo

Estudo recente sobre comportamento em comunidades digitais revelou que quando alguém percebe que a opinião é minoritária, tende a manter o silêncio

15/12/2025 07h45

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Existe uma ansiedade silenciosa no ar: a sensação de que você deveria ter uma opinião pronta para cada assunto que aparece no feed. Um acontecimento político numa terça, um comentário de influencer numa quarta, uma treta musical na quinta.

E se você não fala nada, parece que está sendo omisso, alienado, cúmplice ou qualquer outra palavra grande que as redes adoram jogar. Mas a pergunta que vale mais do que todas as indignações do dia é simples: quem disse que você precisa opinar sobre tudo?

A verdade é que a internet criou uma espécie de olimpíada de opiniões. E a largada é dada a cada nova notificação. Só que, quando você olha os números, percebe que esse universo não é tão povoado quanto parece.

Uma pesquisa mostrou que 55% dos americanos já deixaram um comentário on-line em algum momento e 77,9% já leram comentários. Significa que tem muita gente olhando, mas só metade de fato escrevendo alguma coisa.

Quando se vai para os jovens, 55% dizem postar opiniões com frequência e 71% afirmam estar mais confiantes do que nunca para fazê-lo. De novo, parece muito, mas não é todo mundo. É só uma parte barulhenta.

Do outro lado tem um dado incômodo. Um estudo recente sobre comportamento em comunidades digitais mostra que, quando alguém percebe que a opinião dele é minoritária, 72,6% simplesmente ficam em silêncio.

A espiral do silêncio continua funcionando mesmo num ambiente que promete liberdade absoluta para falar o que quiser. Ou seja, o barulho das redes às vezes é menos democracia e mais repetição. A impressão de que “todo mundo está falando” pode ser só a repetição de um mesmo grupo de pessoas com muita disposição e pouco cansaço.

E vale lembrar que esse palco é enorme. O mundo tem 63,9% da população usando redes sociais. É muita gente. São horas diárias rolando tela, consumindo milhares de pequenos estímulos. Nesse ambiente, a opinião virou quase um gesto automático.

Às vezes você nem sabe exatamente o que pensa, mas já sente a pressão de ter que dizer alguma coisa. Ser rápido se tornou mais importante do que ser cuidadoso. E isso tem consequência.

Opinar o tempo todo transforma a discussão pública em uma competição permanente. Você não compartilha uma ideia, você disputa espaço. E existe um dado que mostra o quanto isso escalou: em uma pesquisa internacional, 20% das pessoas disseram que às vezes é necessário ser rude nas redes para que sua opinião seja ouvida.

Um quinto das pessoas já acredita que a forma de existir no debate é gritando. Não tem nada de saudável nisso. Só desgaste.

Talvez seja por isso que, silenciosamente, muita gente está cansada. Opinar sobre tudo virou um tipo de exaustão emocional. Até porque, para opinar sobre tudo, é preciso estar o tempo todo sabendo de tudo. E começar a falar menos pode não ser um gesto de covardia, mas de inteligência.

Você não precisa ser comentarista integral do mundo. Pode escolher onde sua voz realmente importa. Pode esperar. Pode investigar. Pode até mudar de ideia sem precisar explicar isso para ninguém.

Quando quase metade das pessoas não comenta e três quartos se calam quando acham que estão sozinhas, significa que o silêncio não é falta de interesse. É um pedido de pausa. É uma escolha. Não é uma desistência do debate, é só uma forma de não ser engolido por ele.

A ideia de que você precisa ter opinião sobre tudo é só mais uma pressão inventada pela lógica das plataformas. Você não é obrigado a entrar em todas as conversas. Nem deve. O valor da sua voz não está na frequência, está na relevância.

E, às vezes, a decisão mais lúcida é ficar quieto por alguns minutos, horas ou dias. Porque pensar é um processo mais lento do que postar. E tem coisas que não precisam de urgência. Precisam de reflexão. Aliás, a maioria delas.

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