Areportagem desta edição mostra como Inocência, município localizado a 330 quilômetros de Campo Grande, vive uma transformação sem precedentes, impulsionada pelas obras da nova fábrica de celulose da Arauco. Em apenas um ano, o número de trabalhadores com carteira assinada na cidade triplicou. E, segundo projeções, esse número continuará crescendo, com a expectativa de ter14 mil vagas no pico das obras e 6 mil empregos fixos quando a planta estiver em operação.
Trata-se de uma revolução no mercado de trabalho local, que evidencia o poder do impacto dos investimentos de grande porte em regiões até então de perfil essencialmente agropecuário. Porém, o crescimento acelerado, embora desejável, precisa vir acompanhado de planejamento, de infraestrutura e de políticas públicas eficientes. Não se trata apenas de gerar empregos – é preciso garantir que a cidade esteja preparada para receber esse novo ciclo de desenvolvimento de forma ordenada e sustentável.
O que se espera é que os efeitos colaterais inevitáveis desse crescimento sejam absorvidos com responsabilidade e planejamento, tanto pela prefeitura de Inocência quanto pelo governo estadual, com o apoio da própria Arauco. Áreas como saúde, educação e segurança pública precisam ser reforçadas com urgência, sob a pena de o desenvolvimento virar um problema em vez de solução. A segurança jurídica também depende de serviços públicos que acompanhem o novo porte econômico da cidade.
Outro ponto fundamental é a qualificação da mão de obra. Não basta haver vagas. É necessário que os moradores da cidade e da região estejam preparados para ocupá-las. Nesse aspecto, o sistema Sesi e Senai tem papel essencial – e precisa ser mais presente e eficaz. A atuação tímida até agora é insuficiente para a demanda que se avizinha. A oferta de cursos deve ser ampliada, com foco nas áreas específicas que serão exigidas pelo empreendimento da Arauco.
O exemplo de Ribas do Rio Pardo, onde a Suzano implantou a maior fábrica de celulose em linha única do mundo, é emblemático. Lá, o crescimento trouxe benefícios evidentes, mas também dores significativas. Um dos maiores problemas foram os calotes aplicados por empresas terceirizadas a prestadores de serviço locais, que ficaram no prejuízo. Esse tipo de prática precisa ser monitorada com rigor. A Arauco e os órgãos públicos devem estabelecer mecanismos de controle para evitar esse tipo de distorção em Inocência.
O progresso, por si só, não é garantia de bem-estar coletivo. É preciso que ele seja conduzido com responsabilidade social, ambiental e institucional. A cidade tem diante de si uma rara oportunidade de se reinventar, de sair de uma economia primária para um novo patamar de desenvolvimento. Mas isso exige mais do que canteiros de obra: exige visão de longo prazo.
Se feito com diálogo, transparência e compromisso, Inocência pode se tornar um modelo de desenvolvimento regional. A hora de planejar o futuro é agora, antes que os problemas típicos do crescimento acelerado cheguem sem que haja a estrutura para enfrentá-los.



