Artigos e Opinião

CORREIO DO ESTADO

Editorial desta quarta:''Parado na encruzilhada"

Editorial desta quarta:''Parado na encruzilhada"

Redação

17/06/2015 - 00h00
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As perspectivas para 2016 indicam que a contenção de gastos será indispensável para as administrações

A equação do trabalhador que passou a receber menos, mas tem aumento de gastos, é simples: é preciso cortar despesas para garantir pagamento de contas elementares. É o que as administrações públicas estão fazendo em todo o país. Desde o início do ano, o cenário de crise econômica tem se agravado e os ajustes precisam ser feitos. 

Novamente, a prefeitura de Campo Grande anuncia a demissão de comissionados, desta vez, mais  300, medida que faz parte da meta de economia de R$ 20 milhões em dois meses. O objetivo é evitar que o municipío continue extrapolando os 51,3% estipulados como limite prudencial da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) do comprometimento da receita corrente com a folha de pagamento.

Em maio, esse índice chegou a 52,58%.

A prefeitura chegou a cogitar demitir servidores em estágio probatório, medida considerada drástica, mas amparada por lei. Voltou atrás. Agora, para poupar os concursados, aumentou a lista de cortes de comissionados, além de estipular a redução da carga horária para 6 horas em algumas secretarias. O Executivo também corre atrás de  R$ 116 milhões referente ao Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS) que deixou de ser repassado  por conta da redução do índice de rateio. As administrações podem questionar e  recorrer à Justiça caso não estejam de acordo com o percentual definido, mas esta redução é reflexo das consequências da crise econômica. Esta vai ser uma disputa a longo prazo e que  a administração não pode contar para os próximos anos.  Todo esse malabarismo atingiu  a data de pagamento dos servidores, habituados a contar com o  salário no dia 1 º e, agora,  receberão dentro do período permitido,  no quinto dia útil de cada mês.

Os efeitos da estagnação econômica, para este ano, são irreversíveis e afetam diretamente as gestões públicas. O represamento de verbas federais atinge obras em andamento em todo o País.

No caso de Campo Grande, pelo menos 19 projetos de infraestrutura - pavimentação e drenagem - ficaram pelo caminho, no aguardo da liberação dos valores ou do desenrolar de trâmites burocráticos. Em Mato Grosso do Sul, por exemplo, obras da MS-165, MS-178 e MS-382 correm o risco de não serem concluídas por falta de cerca de R$ 67,5 milhões. O recurso não tem qualquer previsão de ser liberado, segundo o governo do Estado. Os investimentos caíram 62,1% no primeiro quadrimestre deste ano, passando de R$ 320 milhões para R$ 121 milhões. A informação é que há R$ 280 milhões em convênios firmados com governo federal que continuam represados e a situação é preocupante, como declarou ao Correio do Estado o governador Reinaldo Azambuja.

As perspectivas para 2016 indicam que a contenção de gastos será indispensável para as administrações. Estimativa do Banco Central indica expectativa de inflação acima da meta, ficando em cerca de 5,5% no próximo ano e projeção de aumento de apenas 1% do Produto Interno Bruto (PIB). Hoje, o país está estagnado na encruzilhada. Com crescimento baixo, índice inflacionário e taxa de juros elevadas, não é difícil prever que a movimentação, infelizmente, será de retrocesso. Os ajustes fiscais previstos pelo Governo Federal podem servir só para apagar fogo momentâneo. A longo prazo, o brasileiro vai  sentir que  as medidas serão insuficientes para conter o  incêndio.

 

EDITORIAL

Propag: uma decisão que dura décadas

O secretário de Estado de Fazenda de Mato Grosso do Sul pode até decidir o que prefere destacar, o que não pode é decidir o que a sociedade tem o direito de conhecer

16/12/2025 07h15

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O Programa de Pleno Pagamento de Dívidas dos Estados (Propag) foi desenhado para revisar termos das dívidas estaduais e permitir quitação em até 30 anos, com encargos menores, atrelando parte do alívio fiscal a investimentos e mecanismos de equalização federativa.

O prazo de adesão termina no dia 31. Trata-se, portanto, de uma decisão com efeitos fiscais, políticos e institucionais de longo prazo.

É justamente por isso que causa estranheza quando um movimento dessa magnitude parece avançar sem publicidade compatível com o tamanho do que está em discussão. Ainda que os ritos formais estejam cumpridos, e o Diário Oficial exista para isso, há decisões que não se esgotam no “publicou e pronto”.

A adesão ao Propag mexe com dívida e espaço fiscal, e isso exige mais do que um carimbo burocrático: exige explicação, justificativa e escrutínio.

Matéria publicada pelo Correio do Estado apontou que a adesão pode ser benéfica e abrir folga fiscal bilionária para os próximos anos. Se isso ocorrer na prática, melhor ainda.

Mas, justamente por ser uma oportunidade desse porte, não faz sentido que a sociedade seja informada por textos que parecem exigir esforço de “investigação”, recortes, vazamentos, boatos e notas lacônicas para compreender o básico. Decisão pública não pode depender de rumor para vir a conhecimento.

O secretário não é apenas o gestor do caixa, é, por definição, o guardião das chaves do cofre e da confiança do governador.

Seu dever não é somente buscar a melhor alternativa financeira, mas assegurar que a população, o Legislativo e os órgãos de controle entendam o que está sendo feito – por que, com quais condições, com quais impactos e com quais riscos.

Publicidade, aqui, não é uma peça de marketing nem release, muito menos demanda jornalística, quando se dão ao luxo de responder, é transparência, informação completa, tempestiva e verificável sobre atos que mexem com o dinheiro de todos.

Quando uma medida desse porte avança sem clareza por parte do secretário, o problema deixa de ser meramente jurídico e passa a ser de transparência. O silêncio produz um efeito inevitável: parece tentativa de fugir de perguntas. E perguntas são inevitáveis e legítimas.

Quais são os termos efetivos da adesão ao Propag? Há contrapartidas obrigatórias? Quais metas de investimento são exigidas e em quais prazos? Que impacto a adesão ao programa traz para a capacidade de investimento do Estado nos próximos anos? Há cláusulas que podem amarrar decisões futuras? Serão oferecidos ativos com lastro? Se sim, quais? Como foram avaliados? Quem avaliou? Esse tipo de compromisso atravessa mandatos e o que ficará para a próxima geração.

Boa governança começa pelo óbvio: se a decisão é boa, não há motivo para tratá-la sob reserva. Pelo contrário, quem tem convicção expõe os fundamentos, abre números, apresenta cenários e convida ao debate. Transparência não atrapalha, transparência protege a própria decisão.

Nada disso impede a adesão ao Propag, pelo contrário, torna a adesão mais legítima e menos vulnerável a ruídos. O que fragiliza não é a discussão, é o vazio de explicações.

O secretário precisa compreender que publicidade não é um favor à imprensa nem ao cidadão, é um dever institucional. É a materialização do princípio de que o erário não pertence a gabinete nenhum, pertence à sociedade.

Se o Propag é uma oportunidade, que seja tratado como tal: com informações completas. Se o secretário quer ser reconhecido como pilar de responsabilidade, não pode agir como se decisões fiscais estruturantes fossem assunto restrito a poucos. Confiança é ativo que não se negocia e, uma vez perdida, dificilmente se reconquista. 

ARTIGOS

Relaxa: você não precisa ter opinião sobre tudo

Estudo recente sobre comportamento em comunidades digitais revelou que quando alguém percebe que a opinião é minoritária, tende a manter o silêncio

15/12/2025 07h45

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Existe uma ansiedade silenciosa no ar: a sensação de que você deveria ter uma opinião pronta para cada assunto que aparece no feed. Um acontecimento político numa terça, um comentário de influencer numa quarta, uma treta musical na quinta.

E se você não fala nada, parece que está sendo omisso, alienado, cúmplice ou qualquer outra palavra grande que as redes adoram jogar. Mas a pergunta que vale mais do que todas as indignações do dia é simples: quem disse que você precisa opinar sobre tudo?

A verdade é que a internet criou uma espécie de olimpíada de opiniões. E a largada é dada a cada nova notificação. Só que, quando você olha os números, percebe que esse universo não é tão povoado quanto parece.

Uma pesquisa mostrou que 55% dos americanos já deixaram um comentário on-line em algum momento e 77,9% já leram comentários. Significa que tem muita gente olhando, mas só metade de fato escrevendo alguma coisa.

Quando se vai para os jovens, 55% dizem postar opiniões com frequência e 71% afirmam estar mais confiantes do que nunca para fazê-lo. De novo, parece muito, mas não é todo mundo. É só uma parte barulhenta.

Do outro lado tem um dado incômodo. Um estudo recente sobre comportamento em comunidades digitais mostra que, quando alguém percebe que a opinião dele é minoritária, 72,6% simplesmente ficam em silêncio.

A espiral do silêncio continua funcionando mesmo num ambiente que promete liberdade absoluta para falar o que quiser. Ou seja, o barulho das redes às vezes é menos democracia e mais repetição. A impressão de que “todo mundo está falando” pode ser só a repetição de um mesmo grupo de pessoas com muita disposição e pouco cansaço.

E vale lembrar que esse palco é enorme. O mundo tem 63,9% da população usando redes sociais. É muita gente. São horas diárias rolando tela, consumindo milhares de pequenos estímulos. Nesse ambiente, a opinião virou quase um gesto automático.

Às vezes você nem sabe exatamente o que pensa, mas já sente a pressão de ter que dizer alguma coisa. Ser rápido se tornou mais importante do que ser cuidadoso. E isso tem consequência.

Opinar o tempo todo transforma a discussão pública em uma competição permanente. Você não compartilha uma ideia, você disputa espaço. E existe um dado que mostra o quanto isso escalou: em uma pesquisa internacional, 20% das pessoas disseram que às vezes é necessário ser rude nas redes para que sua opinião seja ouvida.

Um quinto das pessoas já acredita que a forma de existir no debate é gritando. Não tem nada de saudável nisso. Só desgaste.

Talvez seja por isso que, silenciosamente, muita gente está cansada. Opinar sobre tudo virou um tipo de exaustão emocional. Até porque, para opinar sobre tudo, é preciso estar o tempo todo sabendo de tudo. E começar a falar menos pode não ser um gesto de covardia, mas de inteligência.

Você não precisa ser comentarista integral do mundo. Pode escolher onde sua voz realmente importa. Pode esperar. Pode investigar. Pode até mudar de ideia sem precisar explicar isso para ninguém.

Quando quase metade das pessoas não comenta e três quartos se calam quando acham que estão sozinhas, significa que o silêncio não é falta de interesse. É um pedido de pausa. É uma escolha. Não é uma desistência do debate, é só uma forma de não ser engolido por ele.

A ideia de que você precisa ter opinião sobre tudo é só mais uma pressão inventada pela lógica das plataformas. Você não é obrigado a entrar em todas as conversas. Nem deve. O valor da sua voz não está na frequência, está na relevância.

E, às vezes, a decisão mais lúcida é ficar quieto por alguns minutos, horas ou dias. Porque pensar é um processo mais lento do que postar. E tem coisas que não precisam de urgência. Precisam de reflexão. Aliás, a maioria delas.

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