Pelo andar da carruagem, a profunda cisão que aflorou na sociedade brasileira, depois do surgimento e do crescimento do chamado bolsonarismo, tende a continuar por um bom tempo, mesmo que Jair Bolsonaro não participe pessoalmente da disputa eleitoral do próximo ano. E esta provável ausência possivelmente seja um dos fatores para que a forte rivalidade, em muitos casos, prejudicial à nação, ganhe longevidade.
Ela começou a ganhar força na disputa de 2018, quando só um dos dois protagonistas participou. Foi ao pico quatro anos depois, numa eleição com margem mínima de diferença de votos e cujo resultado gerou infindáveis questionamentos e protestos. Sem entrar no mérito de uma possível anistia ou não para os envolvidos no chamado 8 de Janeiro, o ideal talvez fosse uma prova dos nove, em 2026, entre Lula e Bolsonaro, para os ânimos finalmente se acalmarem.
Porém, a probabilidade de que isso ocorra é baixa, ainda mais depois da intromissão norte-americana no assunto. Em vez de beneficiar o clã Bolsonaro, a ação despertou o nacionalismo local e parcela das lideranças políticas agora tende a baixar a bandeira da anistia justamente por conta do temor de ser tachado de “lambe-botas” de Donald Trump. E é justamente em meio a esta animosidade e do chamado ativismo judicial do Supremo Tribunal Federal (STF) que ganha importância ímpar a disputa pelas vagas ao Senado no próximo ano, quando dois terços das vagas estão em jogo.
Apoiadores mais explícitos e entusiasmados de Bolsonaro não escondem o desejo de eleger senadores que concordem em votar o impeachment de ministros do STF, o que seria algo inédito e uma possibilidade que no atual cenário está fora de cogitação, já que, em tese, são poucos aqueles que estão dispostos a ir para o tudo ou nada contra integrantes do Judiciário, sejam eles das mais baixas até as mais elevadas instâncias.
Porém, os candidatos que abertamente se dispuserem a apoiar esta causa também podem correr o sério risco de ficarem sem voto daqueles eleitores que não pendem tanto para a direita ou para esquerda. Como cada eleitor terá direito a duas escolhas, fatalmente haverá muita possibilidade de os candidatos se colocarem como segunda opção do eleitorado. E, sendo assim, possivelmente será um risco se posicionar a favor de uma bandeira que defenda, por exemplo, a cassação do ministro Alexandre de Moraes, apontado como inimigo número um dos bolsonaristas mais fervorosos.
Embora seja um tema como qualquer outro que pode ser levado ao debate da campanha, ele é rodeado por tabus e ainda muito fora da rotina dos brasileiros. Tanto em Mato Grosso do Sul quanto em outros estados, a disputa pelas duas vagas tende a ser muito acirrada, conforme já deixam claro as pesquisas eleitorais. E, em estados com baixo número de eleitores, como é o caso de Mato Grosso do Sul, este debate tende a ser ainda mais acirrado, pois com toda a certeza a cúpula dos partidos entrará com força total, já que o voto de um senador daqui terá o mesmo peso que o de um senador paulista, que terá dez vezes mais votos.


