Artigos e Opinião

ARTIGO

Gabriela Gonçalves: "O canabidiol no tratamento da endometriose"

Diretora médica da Ease Labs

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O março amarelo é o mês dedicado à conscientização sobre a endometriose. A Endometriose é uma doença ginecológica em que células da camada que reveste o útero, o chamado Endométrio, cresce fora da cavidade uterina, podendo acometer outros orgãos presentes no abdome. Como resultado tem-se uma reação inflamatória crônica que, por sua vez, pode ocasionar cólicas menstruais intensas; dor crônica na região pélvica, na vagina, durante relações sexuais e ao urinar; inchaço; náuseas e vômitos e em casos mais graves até a infertilidade.  

A endometriose é muito comum no Brasil. Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), 15% das mulheres, ou seja, aproximadamente 7 milhões, sofrem com a doença no país. A causa para o surgimento da doença ainda é objetivo de estudos, cientistas apontam que na verdade pode ser algo multifatorial com associação de fatores genéticos, anormalidades imunológicas e disfunção endometrial.

Estudos científicos realizados nos últimos anos verificaram que pacientes com endometriose apresentavam uma queda nos receptores do sistema endocanabinóide, responsável por equilibrar o organismo para que este realize suas funções corretamente. Este sistema contém neurotransmissores que se ligam a receptores canabinoides produzidos pelo corpo ou adquiridos externamente, como no caso das substâncias da planta Cannabis. A Journal of Molecular Endocrinology, periódico oficial da Sociedade de Endocrinologia Europeia, publicou uma pesquisa de 2013, constatou que o canabidiol (CBD) – canabinoide extraído da Cannabis – desenvolve ações importantes nos órgãos reprodutores femininos. Segundo a publicação, estas substâncias podem regular algumas funções tais como a migração e a proliferação de células do endométrio.

Ainda que sejam necessários mais estudos sobre a relação dos canabinoides com o aparelho reprodutor feminino, sabe-se que o CBD tem propriedade analgésica e anti-inflamatória, e, portanto, poderia ser utilizado para o alívio de alguns dos sintomas para endometriose. O seu uso tem aliviado as dores crônicas da inflamação, os espasmos, as náuseas e vômitos, proporcionando aos pacientes mais qualidade de vida.

Outro ponto importante a favor do uso de CBD para os casos de endometriose, é a sua capacidade de impedir o crescimento e a migração das células que causam a inflamação. O canabidiol bloqueia a ativação do receptor GPR 18 (responsável pelo deslocamento das células danificadas).

As propriedades do CBD têm contribuído para o combate aos sintomas da endometriose, para uma melhora no quadro clínico e na qualidade de vida dos pacientes. Mas vale reforçar que trata-se do uso medicinal da planta e, que, assim como qualquer outro tratamento, o canabidiol deve ser prescrito e acompanhado por médicos.

EDITORIAL

As bolhas que nos afastam da realidade

Enquanto uma parte do Estado amplia suas zonas de conforto, outra é pressionada a fazer mais com menos, arcando com o desgaste político e social das escolhas difíceis

17/12/2025 07h15

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A expressão “estar em uma bolha” deixou de ser apenas uma gíria de internet para se transformar em um retrato cada vez mais fiel da forma como a sociedade vem se organizando. Nas redes sociais, algoritmos direcionam conteúdos, opiniões e notícias de acordo com preferências previamente identificadas.

O resultado é um ambiente confortável em que quase tudo confirma aquilo que o indivíduo já pensa. Divergir passa a ser exceção e confrontar ideias, um incômodo evitado.

Fora do ambiente digital, a lógica das bolhas também se impõe. O isolamento crescente em condomínios fechados, verticais ou horizontais, reduz o contato cotidiano com o diferente. Ao limitar o convívio, o indivíduo perde a oportunidade de compreender realidades distintas da sua própria.

Torna-se, ao mesmo tempo, mais desconfiado e mais desinformado, conhecendo o mundo mais pelo “ouvir dizer” do que pela experiência direta. A realidade passa a ser filtrada, editada e, muitas vezes, distorcida.

As bolhas criam falsas impressões. Quando se consolidam em grupos, reforçadas pelo sentimento de pertencimento, geram uma perigosa falta de sintonia com o restante da sociedade. Problemas coletivos passam a ser relativizados, minimizados ou simplesmente ignorados.

A empatia dá lugar à autoproteção e o interesse público acaba substituído pela preservação de privilégios.

Nesta edição, mostramos um exemplo concreto dessa desconexão: o aumento do duodécimo para quase todas as instituições de Mato Grosso do Sul, mesmo após um ano marcado por crise financeira, enquanto cresce a sobrecarga sobre o Poder Executivo.

É sobre ele que recai, de forma quase exclusiva, o peso de enfrentar as dores reais da sociedade: da falta de recursos para serviços essenciais às demandas crescentes por saúde, educação, transporte e assistência social.

Essa discrepância orçamentária não é apenas um dado técnico. Ela reforça as bolhas institucionais. Enquanto uma parte do Estado amplia suas zonas de conforto, outra é pressionada a fazer mais com menos, arcando com o desgaste político e social das escolhas difíceis.

Trata-se de um desequilíbrio que aprofunda a sensação de injustiça e distancia ainda mais as instituições da realidade vivida pela população.

Seria desejável que integrantes das instituições que recebem repasses de duodécimo saíssem de suas bolhas. Que vivessem mais intensamente a realidade fora de gabinetes, relatórios e planilhas.

Que entendessem que, em tempos de dificuldades financeiras, reforçar privilégios e ampliar confortos institucionais não é apenas insensível, é socialmente injusto.

Romper bolhas não é simples, mas é necessário. Para indivíduos, para grupos e, sobretudo, para instituições públicas. A democracia e a justiça social exigem mais contato com a realidade concreta e menos acomodação em mundos protegidos. Caso contrário, seguiremos administrando percepções, e não problemas reais.

ARTIGOS

A Interpol e as lições do roubo ao Louvre: quando a cultura exige proteção global

O que alguns insistem em tratar como luxo é, na verdade, expressão de identidade coletiva, memória histórica e soberania cultural

16/12/2025 07h45

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A Interpol é amplamente reconhecida por seus sistemas de avisos e pela atuação no combate ao crime organizado transnacional.

O recente episódio envolvendo o Louvre, porém, recoloca em evidência um ponto ainda subestimado no debate público: crimes não violentos, como o roubo de bens culturais, também demandam tutela internacional qualificada.

O tráfico de obras de arte e de patrimônio histórico segue sendo um delito de baixo risco e alto lucro, alimentado pela opacidade do mercado e pela fragmentação das respostas estatais.

O que alguns insistem em tratar como luxo é, na verdade, expressão de identidade coletiva, memória histórica e soberania cultural. A Interpol parte dessa premissa, ao reconhecer a cultura como interesse jurídico protegido, merecedor da mesma atenção dedicada à vida, à segurança e à integridade física.

Nesse contexto, o Banco de Dados de Obras de Arte Roubadas da organização cumpre papel central: dar rastreabilidade a um mercado em que o patrimônio cultural pode, com facilidade, converter-se em saque.

A existência do banco de dados não é apenas simbólica. Ela permite a identificação de peças subtraídas, inibe a circulação ilícita e oferece suporte técnico às investigações nacionais.

Ainda assim, a eficácia do sistema depende de algo que nem sempre acompanha a velocidade do crime: cooperação internacional efetiva e compartilhamento ágil de informações entre agências de aplicação da lei.

Há espaço evidente para aprimoramentos. A ampliação do banco de dados com atualizações em tempo real, a integração mais ampla de museus, casas de leilão e colecionadores privados, além de protocolos obrigatórios de verificação de procedência, fortaleceriam significativamente o combate ao tráfico ilícito.

Do mesmo modo, penalidades mais rigorosas e treinamento especializado para forças policiais e autoridades alfandegárias são medidas indispensáveis para reduzir a atratividade econômica desse tipo de crime.

O episódio do Louvre serve como alerta. Proteger bens culturais não é capricho elitista nem pauta secundária: é defesa da memória, da identidade e do patrimônio comum da humanidade.

Quando uma obra é roubada, perde-se mais do que um objeto, perde-se um fragmento da história coletiva. A resposta, portanto, precisa ser global, coordenada e à altura desse valor.

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